Diante da descoberta de uma linhagem variante do novo coronavírus, pesquisadores do comitê RedeVírus do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), que reúne especialistas, representantes do governo federal, de universidades e de agências de fomento à ciência, fizeram um alerta aos laboratórios e fabricantes de testes da covid-19 para possíveis falhas no diagnóstico molecular em amostras de pacientes infectados com as novas linhagens do vírus.
O doutor em genética e biologia molecular e coordenador da Rede Corona-ômica — um dos braços da RedeVírus MCTIC que trata do sequenciamento genético do vírus circulante no Brasil —, Fernando Spilki, explica que existe um conjunto específico de sondas, entre as várias que se usam para detectar o novo coronavírus, que se pode observar a falha da detecção de um gene do Sars-CoV-2, ocasionando um resultado falso negativo.
“A gente usa diferentes sondas para detectar o vírus do ponto de vista molecular e existe um conjunto específico, no qual pode haver a falha na detecção de um gene e resultar nesse falso negativo. É um dos vários kits prontos de diagnósticos que são utilizados em laboratórios que fazem o exame de PCR, mas pode acontecer com outros”, detalhou o pesquisador.
Spilki indica que os testes de RT-PCR disponíveis no Brasil são capazes de detectar a nova linhagem do vírus, desde que se tome esse cuidado de buscar a detecção de mais de um gene alvo do vírus.
“Nesse contexto, ressalta-se a importância da utilização de mais de um alvo, nas reações de qPCR, como sequências dos genes N (proteína do nucleocapsídeo) e E (proteína do envelope), para evitar resultados falso negativos, dada a eventual circulação desta ou de outras variantes que possam emergir”, aponta o texto do comunicado.
Sem pausas
O documento foi divulgado na última quinta (24/12), véspera do Natal, pelos pesquisadores. “É um alerta que entendemos como necessário, até por isso as redes nomeadas se mobilizaram mesmo na véspera de Natal, não paramos em momento nenhum”, ressaltou Spilki
A RedeVírus foi criada pela portaria MCTIC nº 1010/2020 e funciona como um comitê de assessoramento estratégico que atua na articulação de laboratórios de pesquisa, com foco na eficiência econômica e na otimização e complementaridade da infraestrutura e de atividades de pesquisa que estão em andamento, em especial com o coronavírus.
Na última quarta (23/12), pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Laboratório Nacional de Computação Científica do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) identificaram uma nova linhagem do Sars-Cov-2 no Rio de Janeiro. O estudo revelou que a mutação surgiu em julho principalmente, em Cabo Frio, Niterói e Duque de Caxias.