O adiamento da divulgação dos números oficiais de eficácia da vacina CoronaVac, que estava prevista para ocorrer nessa quarta-feira (23/12) pelo Instituto Butantan, gerou frustração entre os especialistas, que acreditam que houve precipitação das ações motivada pelo contexto político que envolve a corrida da vacina contra o novo coronavírus.
“Esse contexto político de busca de holofotes leva a uma precipitação e a uma ação atropelada, e traz uma perda maior de confiança nas vacinas do que já temos. Temos que ser muito transparentes e essa transparência nesse caso faltou”, avalia o infectologista do laboratório Exame David Urbaez.
A expectativa foi construída por integrantes do governo de São Paulo, que chegaram a declarar a possibilidade de um anúncio “com enorme repercussão no enfrentamento à pandemia da covid-19”. No entanto, para atender a um pedido da Sinovac, previsto contratualmente, o Butantan adiou a divulgação dos dados oficiais e apenas disse que a CoronaVac atingiu índice de eficácia superior ao mínimo recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
O médico infectologista do Hospital Anchieta de Brasília César Carranza afirma que não é normal o recuo que aconteceu após o anúncio de uma coletiva para divulgação dos dados. “Acredito que pode ter tido alguma falha dos responsáveis pela comunicação do governo de São Paulo, que acharam que poderia comunicar os resultados uma vez que eles estejam prontos”, diz.
Carranza explica que a divulgação da eficácia de alguma vacina normalmente é feita através da soma dos dados de todos os locais onde o estudo foi feito. “A CoronaVac não foi testada só no Brasil, mas também na Turquia e na Indonésia, por exemplo. Então, não valeria a pena mostrar resultados de cada braço do estudo. O que deveria acontecer é a comunicação dos dados do estudo como um conjunto”, esclarece.
Desconfiança
Para os especialistas, a confusão dos discursos das autoridades pode gerar desconfiança da população em relação às vacinas. “Há uma longa cadeia de mensagens anti-vacina que vêm sendo transmitidas há algum tempo, e com a covid esses discursos vêm sendo reforçados. Esse fato de o pessoal ter se precipitado pode aumentar a desconfiança”, indica Carranza.
No entanto, o infectologista lembra que a CoronaVac já mostrou em testes prévios que a eficácia foi de 90% para cima. Em novembro, um estudo publicado na revista científica britânica Lancet mostrou que a vacina do Butantan é segura e oferece resposta imune dentro de 28 dias em 97% dos casos. “Acredito que a eficácia deve ser o suficiente para ter uma vacina eficaz e também segura”, indica o infectologista.
Os limites de eficácia aceitáveis são acima de 50%, quanto mais próximo do 100% melhor. Para a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não há critério de eficácia mínimo definido em norma para aprovação da vacina, seja para uso emergencial ou para registro definitivo. Porém, a agência diz estar alinhada às discussões internacionais, que sugerem um valor mínimo de 50%.