Os brasileiros deram, ontem, o adeus à atriz Nicette Bruno, que, aos 87 anos, somou-se às mais de 186 mil vítimas da covid-19 em todo o país. Segundo o boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, foram 408 óbitos nas últimas 24 horas. Esse número representa um crescimento de mais de 46%, em comparação com o domingo anterior, quando foram 279 mortes.
Em meio ao crescimento de casos da doença, o Brasil começa, hoje, a semana de deslocamento para as festas de final de ano. Em Brasília, por exemplo, o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek deverá atingir 70% da sua capacidade de movimentação aérea. Segundo a Inframérica, concessionária que administra o terminal, foram incluídos 266 voos extras na capital. A circulação de passageiros para o período deverá ser de 565 mil pessoas.
Além disso, é esperada uma maior movimentação de carros nas estradas e de pessoas nos terminais rodoviários de todo o país. Na Ponte Rio-Niterói, no Rio de Janeiro, a concessionária Ecoponte calcula receber cerca de 2 milhões de veículos entre hoje e o dia 3 de janeiro de 2021. A plataforma BlaBlaCar registrou, neste mês, um aumento entre 40% e 50% nas vendas de passagens de ônibus. Já a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH) prevê que a rede hoteleira nas cidades litorâneas e hotéis-fazendas no interior irão operar com 60 e 70% da capacidade.
Em paralelo às programações de finais de ano, especialistas alertam que as aglomerações em festas de família e até reuniões sociais deverão propagar ainda mais o novo coronavírus pelo país. Segundo o professor Roberto Kraenkel, do Observatório Covid-19 BR, as reuniões deveriam acontecer apenas entre as pessoas que já convivem nas residências.
“No momento pelo qual o Brasil vem passando, o ideal seria que as pessoas se mantivessem em suas casas e que as confraternizações ocorressem apenas entre as pessoas que moram juntas. Se deslocar em viagens para encontrar outros familiares é um risco enorme, pois muitos jovens são assintomáticos”, explica Kraenkel.
Para o professor, o convívio com os mais idosos deve ser evitado ao máximo, pois o país passa por uma retomada das contaminações. “A letalidade nas pessoas que são internadas é muito maior, ou seja, leito de UTI não é garantia de sobrevivência. Temos o caso da atriz (Nicette Bruno), que, mesmo com todo o amparo, não resistiu”, completa.
Por causa do agravamento da crise sanitária, especialmente nas regiões Sul e Sudeste, onde os sistemas de saúde estão superlotados, o Observatório Covid-19 BR divulgou uma nota cobrando às prefeituras e aos estados “ações imediatas que diminuam o número de contatos potencialmente contagiosos”. Mas, Roberto Kraenkel afirma que as autoridades seguiram outro caminho.
“Infelizmente, estamos passando por esse forte crescimento em meio ao período natalino. Medidas de restrição mais rigorosas seriam necessárias nesse momento para conter o avanço da doença, mas os governos já não têm mais a intenção de adotarem essas medidas por causa da pressão”, afirma.
Rejeição
Enquanto os governos tentam segurar a adoção de medidas mais restritivas, a apatia da população em relação às medidas de segurança contra a covid-19 é o que tem preocupado os especialistas. Para o infectologista André Medeiros, o entusiasmo das pessoas com a possibilidade de uma vacina acabou ajudando no relaxamento das regras.
“Vemos, hoje, um abandono total das pessoas em relação às medidas de contenção da pandemia. Com a possibilidade de uma vacina no horizonte, muitos passaram a se aglomerar e esqueceram que o vírus é a realidade, a vacina ainda é um sonho”, afirma Medeiros.
Já o infectologista Diogo Bacelar explica que mesmo com o esgotamento social, a adoção dos protocolos médicos ainda é a melhor alternativa. “Já são mais de nove meses que os brasileiros tiveram que se isolar, ou ao menos tentar. Infelizmente, ainda não é momento para essa retomada total. O relaxamento das regras foi para promover a reabertura econômica, mas foram as pessoas que relaxaram das medidas”, alerta.