Apesar de todas as polêmicas em torno das vacinas contra a covid-19, a maioria dos brasilienses pretende se imunizar para evitar a doença. Uma pesquisa informal feita pelo Correio verificou que, entre 162 pessoas que se submeteram a um questionário, 77,8% disseram confiar nos imunizantes que vêm sendo produzidos por diferentes laboratórios. Dos 36 que afirmaram não confiar nos medicamentos, 20 garantiram não terem a intenção de se vacinarem contra o vírus. A pesquisa foi feita por meios digitais e manteve o anonimato dos participantes. Fatores como gênero, idade e classe social não foram levados em consideração.
Muitos dos entrevistados, porém, têm questionamentos sobre os imunizantes. Perguntas como durabilidade da proteção, quantidade de doses necessárias, efeitos colaterais e quando a vacina estará disponível foram algumas das dúvidas manifestadas pelas pessoas ouvidas pelo Correio.
Médica infectologista do Centro de Infusão, Infectologia e Vacinas (Clidip), Eliana Bicudo explica que ainda não se sabe ao certo o período de validade do imunizante no corpo humano, já que os testes são recentes. “Os estudos mostram que todas as vacinas mantiveram os anticorpos por, pelo menos, 90 dias. Esse é o tempo de avaliação das vacinas até agora. Até o fim de dezembro, vamos ter a resposta se serão quatro meses”, diz.
Eliana observou que, na maioria dos casos, serão necessárias as duas doses para a imunização completa. “Agora, se vai saber se será necessário repique a cada seis meses. Essa informação a gente ainda não tem”, esclarece. Tampouco se conhece qual será o cronograma de vacinação no país, que ainda não foi definido pelo governo. “O que se sabe é quais serão os primeiros grupos prioritários, como idosos e profissionais de saúde”, ressalta.
O autônomo Vinicius Cavalcanti de Assis, 28 anos, é um dos que veem a vacina com reservas. Ele afirma que pretende esperar pelo menos um ano para se imunizar, “por questão de segurança pessoal”. “Elas (vacinas) estão sendo feitas muito rapidamente para um estudo de uma doença. O momento pede essa agilidade, mas eu não confio em algo que está sendo feito muito rápido. Então, eu vou esperar pelo menos a primeira leva passar”, diz. A preocupação é mesma da contadora Patrícia Assad, 35.
Para Eliana Bicudo, a rapidez no desenvolvimento dos imunizantes não é algo que preocupa. “Temos conhecimento sobre produção de vacinas há muitos anos”, observa. Ela explica que a maioria segue o mesmo princípio: inocula o vírus enfraquecido para que a pessoa produza anticorpos e fique imunizada. Outras, caso da americana Pfizer, usam a técnica do RNA mensageiro, que reúne informações genéticas do vírus para produzir o mesmo efeito. Segundo Eliana, as chances de o organismo produzir anticorpos são grandes, “acima de 95% com algumas vacinas”.
Efeitos
A estudante de medicina Clara Furtado Nunes, 19, diz que se sente insegura com relação aos possíveis efeitos colaterais dos imunizantes ainda em fase de testes. Além disso, afirma que a corrida política pela vacina pode atrapalhar no processo de estudo científico. “Não sabemos todas as causas do vírus, e não tivemos tempo hábil para testes. O tempo da ciência não é o mesmo da política”, afirma a estudante.
Eliana Bicudo explica que, até o momento, os possíveis efeitos colaterais observados são os comuns de toda vacina: dor no corpo, febre moderada, dor de cabeça, reação local (ou seja, vermelhidão onde a vacina foi aplicada), todos sintomas passageiros. “Não temos muita informação sobre outros possíveis efeitos colaterais, pois só quando aumentam os números de vacinação é que os casos acontecem.”
A infectologista, porém, é enfática: “A vacina, hoje, é o único instrumento que, de fato, tem a possibilidade de controlar a disseminação do vírus. Ela vai diminuir a mortalidade, porque, com menos pessoas adoecendo, haverá mais disponibilidade de leitos. Assim, será possível cuidar melhor dos infectados e, também, de outras doenças que estão ocorrendo devido à falta de assistência”, afirma. “Essas vacinas que estão sendo liberadas, atingiram um nível científico satisfatório, para que possa ser usada na população em geral. Então, elas não vão matar ninguém.”
*Estagiárias sob a supervisão de Odail Figueiredo