O Brasil desperdiça 39,3% da água potável com perdas no sistema de distribuição, e está longe das metas de universalização preconizadas no novo marco do saneamento. Segundo levantamento do instituto Trata Brasil, com as perdas o país retrocedeu 13 anos.
“O indicador aumentou de 2018 para 2019, quando atingiu 59,3%, índice que não tínhamos desde 2007. Isso revela a ineficiência. Será preciso corrigir as estruturas antigas para reduzir as fraudes. Esse recuo é um sintoma da falta de investimentos em saneamento”, disse o presidente do Trata Brasil, Edison Carlos.
O novo marco do saneamento prevê 99% da população devem ter acesso à água potável e 90%, ao tratamento e coleta de esgoto até 2033. Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS 2019), divulgado ontem pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), a cobertura de água do país é de 83,7%, deixando de fora 34,2 milhões dos 210,1 milhões de brasileiros. No tratamento de esgoto, os números são mais alarmantes: a média nacional de acesso ao serviço é de 49,1%. Além disso, o país ainda tem cerca de 3 mil lixões e, pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, precisa zerar esse número até 2024.
O SNIS 2019 apontou que o índice de perda de água no sistema de distribuição aumentou em relação a 2018, quando era de 38,5%. O coordenador-geral de Gestão Integrada do MDR, Luiz Antonio Pazos Moraes, disse que isso preocupa porque pressiona o estresse hídrico. “Poderia estar aumentando o lucro das empresas, quando na verdade é preciso captar mais água”, afirmou.
No evento de apresentação dos dados, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, reconheceu que os recursos públicos destinados às quatro vertentes que compõem o saneamento básico (drenagem, tratamento de esgoto, água tratada e destinação adequada dos resíduos sólidos) estão muito aquém dos necessários para universalizar os serviços. “Ao longo de um ano, ficam entre R$ 5 bilhões e R$ 6 bilhões, entre recursos onerosos e não onerosos. Entretanto, precisamos de R$ 60 bilhões a R$ 70 bilhões. É uma distância superlativa que precisa ser alcançada”, ressaltou.
Para o presidente executivo do Trata Brasil, o SNIS 2019 confirma o que o instituto alerta há anos. “O avanço é muito lento. Se olhar o melhor indicador, que é o de acesso à água potável, melhorou 0,1 ponto percentual de um ano para outro. Ou seja, quem não tinha continua sem água”, disse Edison Carlos. “Na coleta, a melhora foi de menos de um ponto percentual”, lamentou.
Ele alertou que, a julgar pelo ritmo de avanço, o país demoraria 40 anos para atingir as metas de universalização, que o novo marco do saneamento estipulou para 2033: 99% de abastecimento de água e 90% de coleta de esgoto.