A Academia Nacional de Medicina (ANM) classificou de "suicida" e "criminosa" a política do governo federal em relação ao enfrentamento da pandemia de covid-19 e ao planejamento da vacinação. A nota pública, assinada por Rubens Belfort Jr., presidente da ANM, sustenta que "é impossível" uma campanha de imunização funcionar com planos federais e estaduais paralelos.
Na nota divulgada na tarde desta sexta-feira, 11, a academia "manifesta enorme indignação pelo descaso, descuido e negligência por parte das autoridades governamentais e das classes políticas que seguem omissas e servis a interesses eleitorais, menosprezando a vida dos cidadãos". Na última semana, diversas entidades se manifestaram contra a política do governo.
A ANM informa que acompanha com grande preocupação a evolução da pandemia de covid-19, que recrudesce no Brasil. "O negacionismo irresponsável de muitos gestores e políticos precisa cessar já". Ainda segundo a nota, grande parte das 180 mil mortes contabilizadas até agora poderia ter sido evitada. "O tempo perdido com a falsidade matou dezenas de milhares e vai seguir matando. Quanta falta de decoro sanitário e inacreditável leviandade. Ignorância vergonhosa!"
A academia acusa ainda governadores e prefeitos de se omitirem ao não determinar medidas de restrição das atividades públicas, para conter a disseminação do vírus. "Há necessidade imediata de implementação de exemplos e de medidas de proteção individual e coletiva, controlando-se o risco aumentado pelas atividades recreativas e sociais, atualmente descontroladas pela falta de liderança", segue o comunicado. A testagem em massa é outra medida que deveria ser adotada, segundo a academia.
Sobre a vacinação, a academia sugere que, "para se evitar uma tragédia ainda maior, é imprescindível a priorização da avaliação técnica das diferentes vacinas e a imediata liberação de todas as que forem aprovadas pela Anvisa". Na análise da ANM, a vacinação precisa começar o mais rapidamente possível, a exemplo do que já está ocorrendo em outros países, como o Reino Unido. "Não há razão para punirmos mais o Brasil com a morosidade proposta de se aguardar meses", aponta.
"Na defesa de milhares e milhares de vidas que certamente serão ainda perdidas, se essa política suicida e criminosa não for de imediato inteiramente modificada, a Academia Nacional de Medicina, mais uma vez, manifesta enorme preocupação e conclama a todos da sociedade brasileira a exigir de nossos governantes e políticos o que o Brasil tem direito e não vem recebendo", conclui a nota.