SAÚDE

Dezembro Laranja: campanha alerta para prevenção do câncer de pele

No mês em alusão à conscientização do câncer mais comum no país, dermatologistas alertam para a importância do diagnóstico precoce. Proteger-se do sol e observar manchas e pintas na pele são fundamentais

O câncer de pele foi diagnosticado em 185.380 brasileiros somente neste ano, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca). O câncer do tipo não melanoma, um dos mais comuns no país, representa cerca de 30% de todos os tumores malignos registrados em 2020. No mundo, são de 2 a 3 milhões de casos desse tipo ao ano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mesmo com números alarmantes, o Brasil reduziu quase pela metade os exames que detectam a doença de forma precoce.

A campanha Dezembro Laranja foi criada no intuito de alertar sobre a doença e sobre seu diagnóstico precoce, o qual pode salvar vidas. De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), entre janeiro e setembro de 2020, houve uma diminuição de 48% na procura pelo exame, passando de 210.032 exames, em 2019, para 109.525, no mesmo período, este ano.

Para a coordenadora do departamento de oncologia cutânea da SBD, Jade Cury Martins, essa diminuição implica em dois fatores. "A detecção precoce desse câncer não vai acontecer. Dependendo do tipo de câncer, como o melanoma, se não for identificado de forma precoce, pode dar metástase no paciente e atingir outros órgãos, situação que pode acabar em óbito. Além disso, com a pandemia (do novo coronavírus), o sistema de saúde ficou sobrecarregado e essa demanda reprimida nos últimos meses vai precisar ser atendida em algum momento. Pode ser que seja apenas ano que vem ou quando a situação se normalizar, de qualquer forma, os gestores de saúde precisam pensar em uma forma de atender todos esses pacientes", explica.

De acordo com o chefe da seção de câncer de pele do Inca, Dolival Lobão, o instituto estima que no triênio 2020/2022 haja um aumento de 42% em relação ao triênio anterior. Segundo o médico, a campanha "é a oportunidade que temos de alertar para a necessidade de fugir do sol e se proteger, principalmente em um país como o nosso".

Lobão reforça que o horário entre 12h e 15 é o período no qual os raios solares do tipo UV B, responsáveis pelo câncer de pele, precisam ser evitados. "O protetor solar é essencial na rotina de qualquer ser humano. Evitar o sol nesse horário e a longa exposição são as únicas maneiras de se evitar esse tipo de câncer", explica.

Para o dermatologista, o protetor solar de fator 30 é o necessário para cuidar da pele nos dias ensolarados, "mais do que isso é apenas para encarecer o preço do produto. Vale ressaltar que ele precisa ser reaplicado a cada três horas ou após se molhar ao entrar na piscina e no mar, por exemplo". A marca do produto também deve ser observada com atenção, de acordo com o especialista. Lobão indica laboratórios éticos e de grandes marcas.

Tipos de câncer de pele

O câncer de pele se divide em dois tipos. O melanoma, que representa apenas 5% dos casos, é o mais perigoso e pode levar o paciente à morte. Ele aparece através de pequenas pintas pretas em áreas, principalmente, como cabeça e pescoço. Se não for tratado de forma precoce pode se espalhar para outros órgãos do paciente, causando a metástase.

O câncer do tipo não melanoma é o mais comum e pode se desenvolver vários tipos, o principal deles é o carcinoma basocelular (CBC). É o responsável por 90% dos casos de câncer de pele e aparece, mais frequentemente, em regiões expostas ao sol, como rosto, orelhas, pescoço, couro cabeludo, ombros e costas. Ele aparece como pequenas bolinhas vermelhas, brilhosas e com uma crosta central que pode sangrar com facilidade.

Apesar de não ser fatal, o câncer não melanoma pode causar grandes feridas na área onde ele aparece se não for descoberto precocemente. Por exemplo, ao aparecer em regiões como nariz ou orelha, o paciente que faz o exame tarde demais pode se submeter a um procedimento cirúrgico para remoção desses órgãos.

Autoexame da pele

O coordenador nacional do Dezembro Laranja, campanha do Câncer de Pele da SBD, Elimar Gomes, explica como o autoexame do câncer de pele pode ajudar no diagnóstico precoce da doença. "Aplicar a regra do ABCDE é de extrema importância para diferenciar manchas benignas, as comuns, daquelas que podem ser um melanoma", ressalta.

A regra, de acordo com Gomes, é aplicada da seguinte forma: A letra 'A' é para identificar a assimetria da pinta, se um lado dela é igual ao outro; a letra 'B' diz sobre suas bordas, se são regulares ou recortadas; o 'C' é para observar suas cores, "se uma área é vermelha, é marrom e preta… isso indica irregularidade", ressalta; o 'D' é quanto ao seu diâmetro, segundo Gomes, essas lesões quando apresentam tamanho superior a 0,5 cm precisam de atenção do paciente; e, por último, a letra 'E' é para observar a evolução da pinta: "Elas não devem se modificar de forma importante ao longo da vida, se houver mudanças como as citadas acima, precisam ser avaliadas por um especialista".

Dolival ressalta que o paciente precisa ser otimista. "O câncer de pele identificado de forma precoce tem 90% de chance de cura. Adiar a visita (ao médico) pode ser crucial para a saúde do paciente".

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 700 mil novos casos de câncer surgirão no mundo até o ano de 2022, e 32% estão na pele. A OMS alerta para uma possível "epidemia" de câncer na pele nos próximos anos.

Bronze do verão

As desejadas 'marquinhas' de biquíni são um sinal de alerta para o câncer de pele. Dolival explica que produtos utilizados para o bronzeado da pele podem ser altamente inflamáveis. "Existem receitas que utilizam limão, coca-cola e até querosene de avião, ingredientes que causam graves queimaduras na pele e podem levar a pessoa a óbito".

No Brasil, desde 2009, as câmaras de bronzeamento artificial são proibidas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pelo risco que causam à saúde da pele, mas o 'bronzeamento da laje' ainda não passa por qualquer restrição. Para os médicos dermatologistas, vale o bom senso e a recomendação de evitar essas práticas.

*Estagiária sob supervisão de Andreia Castro