Vinte e quatro horas depois de um mega-assalto que deixou Criciúma em pânico na madrugada de segunda para terça-feira, ontem foi a vez de Cametá (PA) viver horas de desespero semelhante. Da mesma forma como em Santa Catarina, pelo menos 10 criminosos fortemente armados destruíram uma agência do Banco do Brasil na cidade. A quadrilha ainda utilizou reféns como escudo humano e atacou o 32° Batalhão da Polícia Militar como forma de impedir uma reação armada. A fuga foi feita em carros e em barcos, pelo rio Tocantins.
Mas, ao contrário da ação em Criciúma, em Cametá os bandidos mataram um dos reféns, identificado como Alessandro de Jesus Lopes Moraes. Outro foi atingido na perna e está internado, mas sem risco de morte.
O governador Helder Barbalho, que vistou Cametá, garantiu que a quadrilha, ao contrário do episódio em Criciúma, não conseguiu levar qualquer quantia da agência. “Significa que temos que estar alertas porque uma quadrilha como essa, quando faz uma operação dessa dimensão, gasta muito dinheiro”, observou, manifestando preocupação que ataques como este podem se repetir em outros municípios do estado.
A ação começou por volta da meia-noite e durou aproximadamente 1h30. Esse tipo de incursão criminosa é conhecida como “novo cangaço” ou “vapor” e caracteriza-se pela rapidez, excesso de tiros e violência, e uso de reféns e explosivos. Porém, José Vicente da Silva, consultor de segurança pública e ex-secretário nacional de segurança pública, ressalta que esse tipo de crime não é recente.
“O nome novo cangaço foi dado há quase 15 anos, quando os grupos atacavam as cidades do Nordeste para explodir caixas eletrônicos. O que mudou é que os bancos colocaram tinta para manchar o dinheiro roubado. Por isso, os ataques agora ocorrem nos cofres”, explicou.
Para José Vicente, uma das causas é o vazamento das informações das quantias em cada agência. “É preciso o aprimoramento dos serviços de inteligência, que precisam monitorar os criminosos que agem nessas ações e ter um banco de dados para correlacionar informações. Essas ações envolveram um grande número de criminosos, cerca de 30 em Criciúma e mais de 10 em Cametá. Ou seja, um grande número de pessoas também deixa um maior número de rastros”, pontua.
O especialista em segurança pública Leonardo Sant’Anna explicou que crimes desse tipo são incomuns, pois necessitam de alto investimento. “É preciso um grande investimento e um longo planejamento e as armas, munições e demais materiais para realizar o crime. São itens difíceis de serem adquiridos”, ressaltou.
Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que atua de forma conjunta, integrada, sistêmica e cooperativa com os estados e o Distrito Federal no combate ao crime organizado.
*Estagiários sob a supervisão de Fabio Grecchi
Ataque em SC foi de quadrilha de fora
A Polícia Civil de Santa Catarina suspeita que a quadrilha que atacou uma agência do Banco do Brasil, em Criciúma, seja composta por integrantes de fora do estado, principalmente de São Paulo. Mas, por enquanto, não há indícios de participação do Primeiro Comando da Capital (PCC) ou de outra facção criminosa brasileira. “Temos absoluta certeza de que se trata de ação planejada com vários meses de antecedência. Isso de pronto nos remete a grupos de fora do estado, porque não temos esse perfil em Santa Catarina”, afirmou o delegado Anselmo Cruz, titular da divisão antissequestro da Diretoria de Investigações Criminais. Quatro homens foram presos pelo furto de cédulas, deixadas pelos bandidos após o assalto. Logo após o fim dos tiroteios, a Polícia Militar apreendeu R$ 810 mil em um apartamento da área central de Criciúma. Quatro pessoas foram presas.