Para especialistas ouvidos pelo Correio, a reunião entre os governadores e o ministro da Saúde exacerbou a politização em torno da vacina. O professor de Ciências Políticas da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC Rio), Ricardo Ismael, argumentou que as ações de Doria são um jogo político para sua próxima campanha, em 2022.
“É evidente que o governador João Doria quer protagonismo nessa questão para assentar terreno para sua candidatura como presidente da República. Então, ele está procurando entrar em um caminho de que São Paulo vai liderar o processo nacional de vacinação, o que é certamente um absurdo”, criticou.
Na avaliação de Ricardo Ismael, o posicionamento de Doria pode causar uma situação incontrolável. “Ele está tentando criar um clima no país que parece que só São Paulo vai poder salvar as pessoas; isso é uma irresponsabilidade. É puro eleitoralismo, somente campanha para presidente da República”, disse.
O cientista político ponderou, no entanto, que Doria tem o direito de reclamar da forma como o Palácio do Planalto tem lidado com a CoronaVac. Ele lembrou que o processo de cadastramento das vacinas precisa ser coordenado, papel do governo federal, e que São Paulo não pode se colocar acima dos outros estados da Federação. “Se existem vacinas que estão para chegar, é preciso que esse processo seja coordenado, porque a vacina vai ter que ser aplicada em cada estado, em cada município. Vai ter que ter um planejamento”, finalizou.
Mensagem confusa
O professor de Ciência Política da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) Geraldo Tadeu argumentou que a crise é consequência da omissão do governo federal em relação à pandemia.
“Na ausência de uma política nacional, as relações políticas estão se redesenhando. Então, veja que os governadores têm que se mobilizar para fazer uma reação com o ministro da saúde. Nós já tivemos outros episódios de mobilização do próprio Congresso, como o auxílio emergencial, que foi uma decisão do Congresso”, pontuou.
Tadeu ressalta os movimentos políticos com a guerra da vacina. “É basicamente o Doria de um lado e o Bolsonaro de outro, e os outros governadores em segundo plano. É um jogo puramente político, uma guerra entre eles dois”, comentou.
Geraldo lembrou, no entanto, que a situação prejudica enormemente o combate à pandemia da covid-19. “Você não tem mensagens claras para a população. Você não tem uma autoridade clara, como tinha o Mandetta, que realizava as entrevistas coletivas e dizia ‘façam isso, não façam aquilo’. Então, tudo é permitido e isso mostra a evolução da pandemia ao sabor das circunstâncias”, finalizou.
*Estagiários sob supervisão de Carlos Alexandre Souza
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