O cabo de guerra que se formou entre o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e o governo federal sobre a vacinação contra a covid-19 provocou uma reação em cadeia com outros chefes de executivos estaduais. A reunião ocorrida ontem entre os governadores e o ministro da Saúde explicitou as divergências entre o Palácio dos Bandeirantes e o Ministério da Saúde, além de mostrar os desafios que se impõem ao país no processo de imunização contra o novo coronavírus.
Durante a reunião, realizada de forma presencial e on-line no Palácio do Planalto, o ministro da saúde, Eduardo Pazuello, disse que a certificação de qualquer vacina contra a covid-19 pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) só deve ocorrer em fevereiro de 2021. A previsão do ministro contraria os planos de Doria, que pretende iniciar a vacinação da população paulista em 25 de janeiro, data de aniversário da cidade de São Paulo.
Segundo Pazuello, a Anvisa precisa de ao menos 60 dias para realizar a certificação de qualquer vacina. O ministro citou como exemplo a vacina do laboratório AstraZeneca, que está concluindo a fase 3 dos testes. O governo brasileiro tem um acordo de transferência de tecnologia com o laboratório por meio da Fiocruz.
Doria reagiu à fala de Pazuello. O governador questionou Pazuello sobre a falta de interesse do governo federal em relação à CoronaVac, vacina desenvolvida pelo laboratório chinês SinoVac em parceria com o Instituto Butantan. “Por que excluir a CoronaVac, já que o procedimento junto à Anvisa é igual ao Covax e AstraZeneca?” O governador de São Paulo também questionou o ministro se é uma “questão ideológica, política ou falta de interesse”.
O governador paulista também mencionou o episódio da compra da CoronaVac pelo governo federal, suspensa pelo presidente da República, Jair Bolsonaro recentemente. Em 20 de outubro, Eduardo Pazuello anunciou a intenção de adquirir 46 milhões de doses do imunizante do SinoVac. No entanto, no dia seguinte, o presidente Bolsonaro publicou por sua conta no Twitter que não compraria a vacina chinesa.
Ontem, o episódio foi retomado por Doria. “O senhor (Pazuello), na última reunião com 24 governadores, anunciou que compraria 46 milhões (de doses). Infelizmente o presidente o desautorizou. Foi deselegante com o senhor em menos de 24 horas e impediu que sua palavra fosse mantida perante os governadores”, relembrou. Doria finalizou: “O seu ministério vai comprar a vacina CoronaVac sendo aprovada pela Anvisa? Sim ou não, ministro?”
Em resposta, Pazuello afirmou que a vacina é do Butantan, e não do estado de São Paulo. “Não sei por que o senhor fala tanto como se fosse do estado; ela é do Butantan. O Butantan é o maior fabricante de vacina do nosso país e é respeitado por isso. O Butantan, quando concluir seu trabalho e estiver com a vacina registrada, avaliaremos a demanda. Se houver demanda e houver preço, nós vamos comprar”, finalizou.
Durante a reunião, o ministro reafirmou que o governo priorizará qualquer vacina devidamente registrada no país e que atenda às necessidades nacionais.
Horas depois da reunião com os governadores, o ministro Pazuello fez um pronunciamento no Palácio do Planalto. Ele repetiu o compromisso do governo federal com toda vacina que receber aval da Anvisa. “Qualquer vacina que tenha o registro da Anvisa será alvo de contratação do governo federal, não existe essa discussão (a respeito da rejeição da vacina chinesa), isso aí é uma discussão criada”, disse.
Pazuello disse, ainda, que cabe à pasta, e não aos estados, planejar a vacinação contra a covid-19 no Brasil. Ele disse que o momento é de união nacional. “Compete ao Ministério da Saúde realizar o planejamento e a vacinação em todo o Brasil. Por isso o PNI (Programa Nacional de Imunizações) é um programa do ministério. Não podemos dividir o Brasil num momento difícil”, disse Pazuello.
Cobrado pelos governadores, o ministro procurou mostrar que está tentando coordenar um plano nacional, acima das divergências políticas. “O PNI (Plano Nacional de Imunização) é nacional. Não pode ser paralelo. A gente tem que falar a mesma linguagem. Nós só temos um inimigo, o vírus. Temos que nos unir”, disse Pazuello.
*Estagiários sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza
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