Mais duas crianças tiveram a vida interrompida no Rio de Janeiro por bala perdida. Na noite de sexta-feira, as primas Rebecca Beatriz Rodrigues Santos, 7 anos, e Emilly Victoria da Silva Moreira Santos, 4, brincavam na frente de casa quando foram atingidas por um disparo de fuzil, que, segundo a família, teria sido efetuado por um policial militar. A mais nova foi alvejada na cabeça. O mesmo tiro, conforme familiares, acertou o abdômen de Rebecca. Ambas foram levadas para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), mas não resistiram.
O caso aconteceu em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Segundo a versão da família, um carro da Polícia Militar, que passava pela rua da casa em que moravam as meninas, teria parado e, sem motivo aparente, um dos policiais efetuou vários disparos, de dentro da viatura, na direção em que estavam as primas. Os familiares das crianças não souberam informar se os PMs perseguiam alguém, mas garantem que os tiros partiram de algum dos agentes da corporação.
Ontem pela manhã, ao liberar os corpos de Rebecca e Emilly, no Instituto Médico Legal (IML) de Duque de Caxias, Ana Lúcia Alves de Souza, prima das duas, pediu justiça e cobrou que os policiais envolvidos no episódio sejam responsabilizados. “Que preparação é essa que os policiais não conseguem distinguir entre adulto e criança? Não teve troca de tiros. Eles não tiveram nem o cuidado de olhar para a direção em quem eles poderiam acertar. Simplesmente atiraram, isso nos causa muita indignação”, desabafou, em entrevista ao portal UOL.
Ela afirmou que as duas crianças eram “doces e queridas por todos do bairro” e que a família está desolada. “A gente sai para trabalhar, para contribuir com este governo homicida e é isso que eles nos dão de troco: matam nossas crianças, nosso futuro. Isso tem de acabar, isso tem de parar. Até quando vão matar pessoas inocentes?”, questionou. “A Emilly levou um tiro de fuzil na cabeça. O que ela fez para merecer um tiro de fuzil na cabeça? Isso nos causa muita revolta. A gente sabe que não vai acontecer nada, mas quero que todos saibam o que aconteceu. Quero saber o que eles vão dizer de uma criança de 7 e outra 4. Qual a justificativa?”
A dor da família foi ainda maior porque Emilly completaria 5 anos no próximo dia 23 e teria a sua primeira festa de aniversário na vida, que seria inspirada no desenho Moana, da Disney, um dos favoritos dela. A menina estava muito entusiasmada para a comemoração, sobretudo porque usaria uma roupa da personagem, que já tinha sido comprada pelo pai.
Como forma de homenagear a menina pela última vez, os familiares decidiram enterrá-la com a roupa da Moana. A despedida de Emilly e Rebecca aconteceu ontem à tarde, no Cemitério Nossa Senhora das Graças, em Duque de Caxias, em uma cerimônia que reuniu cerca de 200 pessoas.
Pai de Emilly e tio de Rebecca, Alexsandro dos Santos não conseguiu controlar a emoção. Ele passou mal durante o sepultamento e recebeu o amparo de parentes, mas se negou a deixar o local. Chorando, ele fechou o túmulo das meninas e desabafou. “Estamos enterrando mais uma vítima da violência na nossa comunidade. Duas crianças. Minha filha e minha sobrinha. Estão aí os governadores que só querem ganhar dinheiro nas costas dos outros. Estou enterrando a minha filha, que não viveu nada.”
Polícia nega
Ao contrário do que tem afirmado a família das meninas, a corporação disse não ter efetuado disparos. Em nota à imprensa, a Secretaria de Estado de Polícia Militar apenas comentou que uma equipe estava em patrulhamento na região de Duque de Caxias “quando disparos de arma de fogo foram ouvidos”.
“Não houve disparos por parte dos policiais militares. A equipe seguiu em deslocamento. Posteriormente, o batalhão foi acionado para verificar a entrada de duas pessoas feridas na UPA Caxias II (Sarapuí). No local, o fato foi constatado e tratavam-se de duas crianças”, informou a secretaria.
A pasta ainda disse que a Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense vai apurar as mortes de Rebecca e Emilly. As armas dos policiais que estavam na viatura foram recolhidas e eles já prestaram depoimento. Nesta semana, os investigadores querem ouvir a família das duas crianças.
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