A Polícia Civil do Rio Grande do Sul pediu, nesta segunda-feira (23/11), à Justiça para ouvir novamente Giovane Gaspar da Silva e Magno Braz Borges, investigados pelo assassinato de João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, na última quinta-feira, em uma unidade do supermercado Carrefour em Porto Alegre. Os dois são seguranças da unidade e foram flagrados em vídeos agredindo o soldador e pressionando-o contra o chão, em cenas de violência que duram aproximadamente cinco minutos. Laudo preliminar apontou que o homem morreu por asfixia.
A delegada do caso, Roberta Bertoldo, disse ao Correio que Giovane e Magno ficaram em silêncio quando foi lavrada a prisão em flagrante. Como estão presos, foi necessário um pedido judicial para escutá-los mais uma vez. O tempo para conclusão do inquérito, que é de 10 dias, terminaria no próximo sábado, mas a policial adiantou que solicitará extensão do prazo por mais 15 dias. O principal motivo é a ausência dos laudos periciais, dentre os quais o toxicológico, que devem ser concluídos na próxima semana.
Até o momento, já foram ouvidas mais de 20 testemunhas, entre clientes e funcionários do supermercado. Um dos depoimentos é de uma funcionária com quem João Alberto interagiu pouco antes de ser assassinado. Em imagens de uma das câmeras de segurança obtidas pelo Correio é possível ver que o soldador se aproxima da funcionária, que se afasta. Em depoimento, ela disse que ele a intimidou com um “olhar agressivo”. A mulher afirmou, ainda, que João falou algo que ela não compreendeu, e que a vítima fez um gesto em sua direção, que ela também não soube explicar o que significaria.
A mulher de João Alberto, Milena Borges, disse à Polícia Civil que ele fez um gesto, mas se tratou de uma brincadeira. Os investigadores também não conseguiram identificar a tal expressão, mas foi depois desta interação que ele é encaminhado por Giovane, um deles um policial militar temporário, e Magno ao estacionamento da unidade. Na saída, o soldador desfere um soco em Giovane e, logo a seguir, as agressões começam.
Desentendimento
Um vídeo divulgado pelo site Gaúcha ZH mostra que, quando João está imobilizado contra o chão, um outro funcionário vestido com o uniforme da Vector, firma que faz a segurança da loja, se aproxima e diz: “Sem cena, tá? A gente te avisou da outra vez”. De acordo com a delegada Roberta Bertoldo, uma das testemunhas afirmou que, dias antes do homicídio, o soldador teria ido ao mercado, sem máscara e portando sinais de embriaguez, e teria “importunado outros clientes”.
“Estamos tentando buscar conteúdo probatório porque é uma alegação. Não que isso vá ter alguma influência, mas qualquer informação a gente precisa comprovar”, explicou a delegada. Segundo Roberta Bertoldo, com este segundo vídeo, a polícia busca identificar se algum desentendimento anterior está vinculado com o caso. “Precisamos saber se isso foi levado em consideração para a agressão”, salientou.
Enquanto João é espancado e asfixiado, uma funcionária, que também aparece nas imagens, diz aos clientes que ele havia agredido uma mulher na loja e, por isso, estava sendo imobilizado. A afirmação, no entanto, não se confirma e nenhum funcionário, até o momento, falou sobre uma violência praticada minustos antes em depoimento à Polícia Civil.
“Essa argumentação não é verdadeira. Isso não aconteceu, não tem sequer imagens desse fato. Os fatos transcorreram de outra maneira”, disse a delegada.
Além das testemunhas já ouvidas, a polícia busca contato com pessoas que ligaram para a Brigada Militar pedindo ajuda. Roberta Bertoldo explicou, ainda, que mais pessoas estão sendo investigadas, além dos dois seguranças, seja por participação ou por omissão.
*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi