A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) divulgou, nesta sexta-feira (20/11), uma carta de alerta às autoridades políticas brasileiras sobre a covid-19. O objetivo é chamar a atenção sobre o rápido crescimento de casos e óbitos da doença nos últimos dias. “O quadro verificado pode, em pouco tempo, levar a uma situação pior do que já vivemos até aqui: o epicentro pode ser o país inteiro”, diz o texto.
"Tanto nos hospitais públicos quanto nos privados, as taxas de ocupação estão aumentando e chegando em alguns níveis acima de 90%, o que indica que o sistema de saúde pode entrar em colapso rapidamente e o crescimento de óbitos ser maior ainda em função de falta de assistência”, ressalta a Abrasco. O apelo é para que a situação seja reconhecida e que haja esforços mútuos com o objetivo de conter a transmissão. “Temos apontado a necessidade de articulação das ações nos níveis federal, estadual e municipal em caráter emergencial”, segue o texto (leia a íntegra abaixo).
A Abrasco reúne instituições de ensino, pesquisa ou serviços que desenvolvem formação de trabalhadores graduados e pós-graduados em saúde coletiva e pessoas que exercem atividades nessas áreas.
Faltam dados, afirma ministério
Em coletiva de imprensa, na quinta-feira (19/11), o tema foi amplamente questionado junto aos secretários do Ministério da Saúde, que afirmaram não existir uma base de dados consistente para concluir que o país vive uma nova fase de incrementos de registros ou uma segunda onda.
“Devido à instabilidade no sistema nas últimas duas semanas decorrente de ataque hacker, nós não temos uma base de dados consistente para fazer uma afirmação se houve ou não um acréscimo na quantidade de casos, internações e de óbitos”, declarou o secretário-executivo, Élcio Franco.
Ainda assim, o secretário afirmou que o ministério dispõe de uma estrutura de saúde pública adequada para atender as demandas de estados e municípios, incluindo o reforço no atendimento hospitalar. “Havendo a manutenção da demanda ou mesmo acréscimo, podemos viabilizar novos leitos ou prorrogar aqueles previamente habilitados e prorrogar essas habilitações conforme a demanda de estados e municípios que venha a ser comprovada pelas nossas equipes.”
Perto de 170 mil mortes
Com a alta dos números e a falta de controle de transmissão indicada pela taxa de transmissão (Rt) nacional medida pelo Imperial College de Londres, que está em 1,10, o país caminha para atingir a marca de 6 milhões de infectados ainda esta semana, talvez até mesmo nesta sexta-feira.
Segundo as análises do Portal Covid-19 Brasil, iniciativa formada por pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade de São Paulo (USP), o Brasil também deve atingir 170 mil mortes no próximo domingo.
Leia a carta da Abrasco sobre a covid-19 no Brasil:
Considerando o rápido crescimento do número de casos e de óbitos registrados em várias cidades de todas as cinco regiões do país nos últimos dias, estamos alertando as autoridades políticas sobre a gravidade da situação sanitária do país. A epidemia de Covid-19 se alastrou por todo o território nacional e o quadro verificado hoje pode em pouco tempo levar a uma situação pior do que já vivemos até aqui: o epicentro pode ser o país inteiro.
Tanto nos hospitais públicos quanto privados, as taxas de ocupação estão aumentando e chegando em alguns níveis acima de 90%, o que indica que o sistema de saúde pode entrar em colapso rapidamente e o crescimento de óbitos ser maior ainda em função de falta de assistência.
Neste sentido, apelamos às autoridades políticas e sanitárias para que todos os esforços sejam feitos com a finalidade de conter a transmissão do vírus SARS-CoV-2 e diminuir os danos causados pela pandemia.
Temos apontado a necessidade de articulação das ações nos níveis federal, estadual e municipal em caráter emergencial. No dia 3 de julho, junto com mais 13 entidades científicas da área da saúde e com a participação do Conselho Nacional de Saúde, lançamos oPlano Nacional de Enfrentamento à Pandemia de Covid-191, no qual estão descritas de forma clara as medidas que devem ser tomadas em caráter de urgência para conter a transmissão, proteger a população e cuidar dos doentes.
Apelamos para que todos os governantes somem seus esforços em cada esfera de atuação para que esta crise possa ser contida e para que o país não vivencie momentos mais graves do que já assistimos.
Mais uma vez nos colocamos disponíveis para auxiliar na construção de estratégias que possam aliviar o sofrimento de nossa população e tirar o país desta gravíssima situação sanitária.
Rio de Janeiro, 20 de novembro de 2020
Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO