A ciência avança cada vez mais no entendimento de que determinadas doenças incidem mais em algumas populações que em outras. Pensando na população negra, pesquisas recentes indicam que sobretudo diabetes e hipertensão têm nessa etnia maior prevalência que em pessoas brancas, por exemplo. Foi o que explicou ao CB.Saúde — parceria do Correio com a TV Brasília — desta quinta-feira (19/11) o cirurgião cardiovascular Isaac Azevedo.
“O que levou os especialistas a concluírem que a população negra tem maior incidência disso são as complicações que essas duas enfermidades trazem”, introduziu o médico, citando pesquisas feitas nos Estados Unidos. “Você tem uma incidência muito grande de AVCs, o famoso derrame, insuficiência renal, a pessoa que vai para a hemodiálise... Então, essas coisas foram observadas naquele país, que você tinha uma incidência maior de negros e negras do que de outras etnias e eles foram investigar”, detalhou.
Através de uma pesquisa reversa, os cientistas obtiveram uma resposta a esse questionamento. “Chegou-se à conclusão de que, realmente, a população negra tem uma incidência maior tanto do diabetes quanto da hipertensão. Há estudos que demonstram que provavelmente pode ser até o dobro da população acima de 50 anos de idade”, colocou.
Azevedo, no entanto, pontua que os estudos ainda não conseguem identificar todas as causas para essa diferença de suscetibilidade entre negros e brancos no desenvolvimento da hipertensão e diabetes. “Algumas medicações que são ótimas na população branca quando administradas na mesma dosagem em pessoas negras não surtem os mesmos efeitos. Tudo leva a crer que a fisiologia do negro para a hipertensão se difere da população branca”, completou.
Mais precoce e agressiva
Além de se apresentar em maior número entre os negros, a hipertensão também é mais precoce e agressiva nessa população, explicou Azevedo. “Uma coisa é clara: a população negra desenvolve a hipertensão em uma idade pelo menos cinco anos mais cedo que a população branca e essa hipertensão é mais agressiva que na população branca. Na população negra, as consequências da hipertensão, sejam elas, a doença renal, a doença cardiovascular, a doença cerebrovascular, elas vêm de forma mais agressiva. Isso realmente é um problema nessa população”, concluiu.
De acordo com o cardiologista, entre os fatores de agravamento da doença nos negros estão uma maior sensibilidade ao sal e uma menor resposta a determinados medicamentos amplamente utilizados para tratar a doença. Com isso, uma atenção em saúde que se volte para entender o tema especificamente entre as pessoas negras se faz cada vez mais importante.
O médico deixa claro, também, que não se conhece totalmente as causas da hipertensão. O que se sabe, segundo ele, na medicina, é que ela é uma doença multifatorial e é influenciada por questões como estresse, alimentação e a etnia. Devido a isso, o especialista faz um alerta sobre a necessidade de prevenção e controle da doença.
“A hipertensão não só pode como precisa ser controlada. As pessoas precisam mudar a dieta, perder peso, se alimentar melhor e realizar atividades físicas. Em último caso, devem fazer uso da medicação, mas apenas quando essa mudança de vida ocorreu e mesmo assim a hipertensão não abaixou para os níveis desejados”.
Azevedo relembra que o controle da hipertensão arterial é essencial para tirar as pessoas da fila do Acidente Vascular Cerebral (AVC), o famoso derrame, causado em grande parte pelo descontrole da pressão. O especialista também comenta sobre o diabetes. “O diabetes e a hipertensão são fatores de risco para desenvolver complicações como o AVC, doenças renais e cardiovasculares. E também o diabete é multifatorial, ou seja, a obesidade, o estresse e o sedentarismo também vão aumentar as probabilidades de desenvolvimento da doença”.
Pesquisa do IBGE
De acordo com a Pesquisa Nacional da Saúde feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 23,9% dos adultos acima de 40 anos possuem hipertensão, ou seja, a cada 4 brasileiros 1 tem a doença. Em 2013, o valor era de 21% dos brasileiros. Os dados apontam que 52% dos adultos possuem ao menos uma doença crônica, 40% são sedentários e 14% comem alimentos ultraprocessados regularmente.
*Estagiário sob a supervisão de Andreia Castro
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