O ativista ambiental e vendedor de frutas Diego Saldanha decidiu criar uma barreira para recolher o lixo do rio Atuba que passa perto de sua casa e que fez parte de sua infância, na cidade de Colombo, Região Metropolitana de Curitiba. O projeto começou em 2017 e já recolheu mais de três toneladas de lixo.
O projeto Ecobarreira tem a finalidade de recuperar parte do corpo d'água, captando os resíduos flutuantes. Ao realizar uma pesquisa, Diego encontrou equipamentos que poderiam reter materiais, no entanto, as ferramentas prontas eram caras e, por falta de condições financeiras, ele decidiu adaptar os projetos.
“Eu decidi adaptar à minha realidade e gastei menos de R$ 1.000 para começar. Peguei alguns galões, materiais recicláveis e construi uma ecobarreira, uma barreira ecológica com galões de 50 litros, redes de proteção daquelas usadas em janelas de prédio e corda. Estendi de um lado do rio, então, dessa maneira fica fixo e na outra margem tem uma barra de ferro que permite a barreira se movimentar pra cima e pra baixo, de acordo com a vazão do rio. A barreira também têm um formato diagonal, para quando o lixo bater nos galões, a própria correnteza da água trazer o lixo para o meu lado e então eu não preciso entrar no rio pra limpar,” explica o ambientalista.
Ao Correio, Diego contou que decidiu colocar o projeto em prática como uma forma de gratidão pelos bons momentos que viveu no rio Atuba. “Tantas tarde brincando; eu já me alimentei dos peixes do rio e quando eu percebi que não seria mais possível fazer tudo aquilo, me bateu uma tristeza e eu mesmo, cidadão simples, comum, vi a situação que ele estava se transformando e decidi agir. Nós, cidadãos comuns, costumamos reclamar muito do poder público, mas será que estamos fazendo a nossa parte? Então decidi fazer a minha parte e está rendendo bastantes frutos”.
O vendedor decidiu compartilhar suas experiências nas redes sociais e o projeto fez sucesso. Após a divulgação, o ativista começou a receber pequenas formas de apoio de empresas privadas para continuar a iniciativa. No entanto, seu objetivo é expandir o uso da ecobarreira para todos os leitos fluviais brasileiros. “Toda ajuda é bem vinda, todo apoio é necessário para que o projeto fique mais em evidência e iniciativas como essa possam ser feitas em outros rios do Brasil - e quem sabe um dia eu possa até me dedicar e viver somente em função disso?”, explica.
Parte do objetivo de Diego é conseguir que mais pessoas criem conscientização ambiental. Após a repercussão de sua iniciativa, ele passou a realizar palestras explicando a importância de preservação do meio ambiente e como pequenas iniciativas podem fazer a diferença. Antes do início da pandemia, escolas da região organizavam visitas dos alunos para conhecer como funciona a limpeza do rio. “Ao longo desses quatro anos várias escolas começaram a me chamar para falar sobre o meu projeto. Então tenho toda uma apresentação preparada para mostrar a minha realidade e levo até uma pequena barreira ecológica para as crianças verem como eu fiz, caso elas não possam vir aqui. Tento ajudar nessa educação ambiental para eles porque acredito muito nas crianças”, explica.
Em outubro de 2019, o ativista foi convidado pelo deputado federal Vavá Martins para apresentar a Ecobarreira em uma audiência pública da comissão do meio ambiente na Câmara dos Deputados em Brasília e contribuiu para que a iniciativa se tornasse padrão para um projeto de lei, ainda sujeito à apreciação do Plenário. O PL 2293/2019 “dispõe sobre a obrigatoriedade de instalação de Sistema de Ecobarreiras na rede hidrográficas para contenção de resíduos sólidos em riachos, córregos, canais e rios que cortam as cidades e dá outras providências”, explica a ementa no Portal Câmara.
Rotina de limpeza
O criador do projeto conta que não recebe ajuda para limpar o lixo acumulado na barreira, apenas o apoio da mãe, quando é grande o volume acumulado. “Eu costumo recolher durante três dias da semana à tarde (terça, quinta e sábado), pois tenho que conciliar com o meu trabalho. De terça a sábado, a minha rotina é comprar frutas no Ceasa da cidade e vender nos semáforos”, explica.
Após o recolhimento dos resíduos, Diego ainda faz a separação e procura dar a destinação correta para cada tipo de material. “99% do que eu retiro do rio são resíduos que ainda têm valor comercial. No começo, eu retirava o lixo, juntava durante dias e levava para os galpões de reciclagem. Eles me pagavam entre R$60 e R$70. Com esse valor, eu só comprava algumas coisas para auxiliar na limpeza, como sacos de lixo e peneiras, mas receber esse dinheiro não era o meu objetivo”.
Lixo transformado em brinquedos
Diego conheceu a ONG Eco Local Brasil, que passou a auxiliar a iniciativa do vendedor de frutas. “Eles são grandes parceiros do meu projeto. Buscam todo o resíduo uma vez por mês, levam para o galpão deles e fazem toda a separação do lixo que é encaminhado para um centro de triagem. Esse resíduo é moído e são feitos brinquedos para crianças. A gente faz uma troca, eles levam o lixo e me devolvem brinquedos”.
Após parceria com a ONG o projeto já recebeu mais de 100 brinquedos feitos com o plástico reciclado. Para o Natal, o objetivo é distribuir 300 deles para as crianças. “Eles me devolvem baldinhos e carrinhos de plástico que depois eu distribuo aqui na comunidade ou presenteio alunos que vêm conhecer meus projetos de sustentabilidade”.