O índice de Gini do rendimento domiciliar per capita recuou de 0,545, em 2018, para 0,543, em 2019. O resultado do ano passado ainda é superior ao registrado em 2015 (0,524), quando o índice Geni alcançou o nível mais baixo da série da Pnad Contínua, iniciada em 2012 pelo IBGE.
Adotado como critério internacional para avaliar o grau de desenvolvimento de um país, mede a concentração de renda e o nível de desigualdade. Quanto mais próximo de zero é o índice, menos desigual é o país.
Nos últimos dois anos, a desigualdade aumentou no Nordeste. A região foi a única onde o Gini cresceu, entre 2018 e 2019, passando de 0,545 para 0,559. Três capitais nordestinas se destacaram como as mais desiguais: Recife (0,612), João Pessoa (0,591) e Aracaju (0,581).
No Centro-Oeste, a única capital a ficar abaixo do patamar de 0,500 foi Goiânia, com Gini de 0,468. No geral, o rendimento médio domiciliar per capita de 2019 se alterou pouco desde 2012 e foi de R$ 1.406 para o total da população brasileira.
As regiões Sudeste (R$ 1.720) e Sul (R$ 1.701) registraram os rendimentos mais elevados, aproximadamente o dobro do rendimento domiciliar per capita do Norte (R$ 872) e Nordeste (R$ 884) — valores inferiores ao salário mínimo nacional da época (R$ 998). De acordo com o IBGE, a região Sul tinha a menor desigualdade de rendimentos (0,467 em 2019).
A desocupação e a informalidade influenciaram no contraste socioeconômico. Em 2019, 39,3 milhões de pessoas estavam ocupadas nas cinco modalidades de trabalho informal (empregado e trabalhador doméstico sem carteira assinada, conta própria e empregador, sem contribuição para a Previdência Social, e trabalhador familiar auxiliar), o que representou 41,6% da população ocupada, percentual mais elevado da série, e estabilidade frente a 2018 (41,5%).
Educação
Na avaliação do economista Marcelo Neri, diretor da Fundação Getulio Vargas (FGV Social), a pesquisa do IBGE revelou dados bons — como a melhora do Gini em relação a 2015 — e outros muito ruins. “Isso significa que o Brasil terá que caminhar para frente recuperando o caminho perdido”, assinalou.
Os grandes desafios, segundo Neri, são a informalidade e a necessidade urgente de melhora nas políticas para a educação. “As saídas para a redução da extrema pobreza são melhorar o Bolsa Família e a educação, que na pandemia pelo coronavírus ficou ainda mais prejudicada. Mas também temos que avançar na reforma tributária e resolver os problemas fiscais. Do contrário, o ano de 2021, que tende a ser pior que 2020, será dramático, principalmente se vier uma segunda onda de contaminação”, alertou Neri.
O economista da FGV explicou que o auxílio emergencial ajudou as famílias a enfrentar o desemprego e a incerteza causada pela crise sanitária. Com a provável interrupção do benefício em 2021, o próximo ano será marcado pela cautela.
"Na mão de Deus"
Moradora do Riacho Fundo 1, Juliana Meireles Dias, 23 anos, conta algumas de suas dificuldades. “A situação está complicada, desde que começou a pandemia eu não conseguia ficar em home office, porque não tenho computador. Minha mãe está desempregada e era com a bolsa de estágio que pagava as contas”, esclarece. Juliana diz que a empresa tentou manter o quadro de funcionários, mas em setembro todos os estagiários foram demitidos.
“Há duas semanas, consegui alguns trabalhos para tentar complementar a renda, mas de setembro até hoje fiquei procurando emprego e entregando currículo, sem ter retorno. Tudo está muito incerto. Quando fui demitida, tive que correr atrás do auxílio emergencial e segurar na mão de Deus. Este mês que estou pagando contas de internet e outras que estavam atrasadas há dois meses”, revela Juliana.
Situação parecida vive Darlene Querino, 24, moradora de Luziânia (GO). Darlene diz que, se antes estava difícil conseguir emprego, agora com o home office, a situação se complicou. “Todo mundo diz que está pegando os currículos, mas não está contratando”, lamenta.
Além das dificuldades causadas pela pandemia, Darlene denuncia outra barreira para encontrar um emprego: o preconceito. “O país é muito preconceituoso. Evoluiu um pouco, mas a minoria precisa ter mais voz, ter mais espaço. Tem lugar que, quando vamos entregar o currículo, já fica claro que não vamos ser aceitos. Não há ninguém negro, ninguém que nos represente na empresa. Dependendo do local, você entra e já sente que ali não será bem recebida”, pontua.
* Estagiário sob supervisão de Carlos Alexandre de Souza