O latrocínio (roubo seguido de morte) e a ocultação de cadáver da médica japonesa Hitome Akamatsu, de 43 anos, abalou o município de Abadiânia (GO), distante cerca de 100 quilômetros do Distrito Federal. Um homem de 18 anos a atacou enquanto ela meditava em uma cachoeira, no interior da Casa Dom Inácio de Loyola, onde atuava o místico João de Deus antes de ele ser preso, em dezembro de 2018. O crime ocorreu em 10 de novembro, porém o corpo da vítima foi encontrado somente domingo passado, mesmo dia em que o suspeito acabou detido.
Hitome frequentava a casa há cinco anos e, no início de 2020, mudou-se para Abadiânia. Em meio aos tratamentos que realizava com o místico, ela costumava ir à cachoeira para se recolher e meditar. O espaço é utilizado por fiéis, mas o número de pessoas que acessam o local diminuiu depois de João de Deus ir para a cadeia, segundo um membro da Casa Dom Inácio, que pediu para não ser identificado.
Colegas do centro denunciaram o desaparecimento de Hitome no último sábado. Com as informações sobre a ida à cachoeira e uma foto dela, agentes da Delegacia de Abadiânia iniciaram as buscas no domingo, com apoio do Corpo de Bombeiros do Estado de Goiás, como explicou o delegado-chefe Albert Peixoto Salvador.
“A mulher foi encontrada morta na área, coberta por terra e pedras. As características do corpo coincidem com a de Hitome, contudo, aguardamos o laudo de DNA para comprovar que trata-se dela. O corpo também tinha sinais de violência”, esclareceu.
Os investigadores chegaram ao suspeito por meio de denúncias. Na delegacia, ele confessou o assassinato e relatou que “tinha uma dívida de drogas e estava sendo cobrado para quitá-la. No dia do crime, o acusado saiu com o objetivo de cometer o roubo”.
“Durante o assalto, a mulher teria resistido. Por medo de ela denunciá-lo à polícia, o suspeito decidiu matá-la. Ela foi asfixiada com a blusa do acusado”, acrescentou o delegado-chefe. O acusado está preso, preventivamente, na Unidade Prisional de Anápolis (GO).
A Embaixada do Japão no Brasil foi informada sobre o caso, no sábado, e por meio nota informou que acompanha o caso. “De acordo com a polícia, a vítima é uma mulher japonesa na faixa de 40 anos. Ela foi encontrada morta. A Embaixada do Japão continua a recolher informações, cooperando com a polícia e comunicando com as pessoas relacionadas à vítima”, observou a representação.
Sobrevivente
Hitome frequentava o centro de João de Deus para curar-se das sequelas do acidente nuclear de Fukushima — em 11 de março de 2011 —, como sustenta o delegado Albert Peixoto Salvador. “Ela era uma das sobreviventes da tragédia e, por isso, realizava o tratamento espiritual na Casa Dom Inácio”, explicou.
Ela deixou o Japão antes da pandemia da covid-19 e a Embaixada não informou se Hitome estava legalmente no Brasil. Segundo um frequentador da casa do místico, que também não quis se identificar, a mulher escolheu viver em Abadiânia para prosseguir com o tratamento que fazia há anos.
“Ela sofria muito por conta da radiação. Quando viajava para o Brasil, ficava o período máximo do visto de turista (seis meses). Acompanhava as sessões espirituais e se tratava. Embora não realizasse atendimento ao público, a Hitome também se via como médium”, afirmou o homem.
Ainda segundo o frequentador, a área onde a Casa Dom Inácio está localizada tornou-se alvo de crimes após a prisão de João de Deus. “Das 1,5 mil pessoas que frequentavam o local, atualmente não vêm nem 50. Consequentemente, houve redução drástica do policiamento e passamos a presenciar delitos que não eram registrados antes. Há duas semanas, uma outra mulher, também estrangeira, foi vítima de uma tentativa de roubo”, relatou.
Para este frequentador, os estrangeiros são os mais visados pelos criminosos locais. “Aqui, todo mundo sabe que, se está de branco, é porque tem dinheiro. Se eles percebem que são pessoas de outros países, fazem os assaltos. Se o que ocorreu não chamar a atenção das autoridades, os crimes continuarão ocorrendo”, salientou o fiel.
O Correio entrou em contato com o advogado Marcos Lira, que representa João de Deus. Ele informou que “João Teixeira de Faria está afastado desde 2018, por ordem judicial e, portanto, não tem conhecimento dos fatos além daqueles já noticiados.” A reportagem também tentou contato com representantes e frequentadores da Casa Dom Inácio de Loyola, mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.
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