Coronavírus

"Ninguém cogitou suspender a pesquisa", diz coordenador de comissão

Médico da Comissão Nacional de Ética e Pesquisa (Conep), que também foi notificado pelo instituto Butantan sobre o "efeito adverso grave", disse que o colegiado decidiu liberar o andamento da pesquisa

Sarah Teófilo
postado em 10/11/2020 22:40 / atualizado em 10/11/2020 22:46
 (crédito: Wang Zhao/AFP - 24/9/20)
(crédito: Wang Zhao/AFP - 24/9/20)

Coordenador da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), o médico Jorge Venâncio afirmou que suspender os estudos da CoronaVac, vacina contra covid-19 produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, não foi sequer cogitado pelo grupo. “Solicitamos documentos que faltavam, mas ninguém sequer cogitou suspender a pesquisa. Isso nem entrou em discussão”, afirmou.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu os testes na última segunda-feira (9/11) após notificação de "efeito adverso grave" em um dos voluntários. Mas, depois se soube, conforme boletim de ocorrência Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, que a morte teria sido um suicídio, não guardando relação com a vacina. O Butantan questionou medida da Anvisa, e o diretor, Dimas Covas, diz ter visto a decisão com surpresa.

Nesta terça-feira (10/11), tanto o Butantan quanto a Anvisa concederam entrevistas para explicar o imbróglio. O instituto garantiu ter enviado a notificação na sexta-feira (6/11) à Anvisa. A agência, por sua vez, alegou que, por um problema no sistema, ficou a par da situação apenas na segunda-feira (9/11), quando suspendeu os testes. A Anvisa frisa que a notificação não continha relatório detalhado de qual teria sido o efeito adverso.

Venâncio afirma que a informação que chegou ao Conep também não foi detalhada. Por isso, ainda na sexta-feira à noite, a comissão chamou o coordenador do estudo clínico no Brasil, o médico Esper Kallás, professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), para mais explicações. Na ocasião, fizeram todas as perguntas que julgaram necessárias para esclarecer o caso.

Dúvidas sanadas

“Nós não vimos motivo [para suspender]. Foi um evento que nos pareceu mais ou menos claro não ter relação com a vacina. Não achamos que isso [suspender os testes] era o melhor caminho”, disse. Venâncio frisou que as dúvidas foram sanadas na conversa com o pesquisador. “Solicitamos documentos que faltavam, mas ninguém sequer cogitou suspender a pesquisa. Isso nem entrou em discussão”, afirmou.

No Brasil, os protocolos de pesquisa são analisados tanto pela Conep, ligada ao Conselho Nacional de Saúde (CNS), quanto pela Anvisa. São dois olhares diferentes. No caso da Conep, observa-se a segurança dos participantes e se direitos deles estão sendo garantidos.

O médico pontuou que, na dúvida, suspende-se uma pesquisa até haver um esclarecimento sobre o episódio. Entretanto, neste caso, não pareceu à Comissão que havia justificativa para questionamento. Por isso, optaram por não suspender o estudo.

 

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