Novembro azul: prevenção é primordial no combate ao câncer de próstata

Segunda maior causa de morte em homens, câncer de próstata deve ser detectado em cerca de 66 mil brasileiros em 2020. No mês mundial de combate à doença, especialistas alertam para importância do exame em tempos de quarentena

Bruna Lima
postado em 09/11/2020 06:00
 (crédito: Governo de São Paulo/divulgação)
(crédito: Governo de São Paulo/divulgação)

O empresário João Coelho, 62 anos, vai anualmente ao urologista para checar a próstata desde os 50 anos. Em razão da pandemia do novo coronavírus, contudo, acabou deixando as consultas de lado. Mesmo apresentando anormalidades no exame de sangue que avalia a quantidade do antígeno prostático específico, o chamado PSA, João não fez o check-up de rotina. “Resultado, PSA dobrou, e o tumor ultrapassou a próstata, chegando na corrente sanguínea”, lamenta. Neste Novembro Azul, mês em que se evidencia a luta contra o câncer de próstata, João inicia o tratamento oncológico e alerta: “Prevenção é tudo”.

Atrás apenas do câncer de pele não-melanoma, o tumor de próstata é o tipo mais comum entre os homens. Apesar de apresentar alta chance de cura, pela detecção precoce, é a segunda maior causa de morte em pessoas do sexo masculino. Em 2018, a doença tirou a vida de 15,5 mil brasileiros e, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de próstata deve ser detectado, em 2020, em cerca de 66 mil. Se a procura aos médicos já é uma barreira que precisa ser desconstruída, na pandemia, a ausência de tratamento é ainda maior, o que pode transformar em casos mais complicados e que, na maioria das vezes, exigiria um tratamento menos invasivo.

Segundo o urologista Thiago Castro, do Hospital Anchieta de Brasília, o isolamento social fez com que muitas pessoas deixassem de fazer o exame preventivo, o que contribuiu para o aumento dos diagnósticos em fases mais avançadas da doença. “Por causa do medo de pegar covid-19, muitos pacientes deixaram de ir ao urologista e fazer o rastreamento”, pontua. “Além disso, muitos homens se recusaram a fazer o tratamento para a doença, por medo da cirurgia e/ou internação, o que também levou ao aumento do número de pacientes com câncer de próstata mais avançado”, acrescenta.

João Coelho está no grupo daqueles que tiveram a doença agravada pela falta de diagnóstico. Com histórico de câncer na família, ele costuma se preocupar com a saúde para continuar vivendo com qualidade e curtindo os netos. “Dessa vez, vacilei. Acreditei que, por praticar esportes, estaria imune. Um médico amigo fez o alerta, mas, devido à pandemia, eu não fiz o acompanhamento. Quando o tumor da próstata atinge partes ósseas, isso complica a situação”, reconhece. “O recado é: não deixe para depois o que pode ser feito agora. As consequências podem ser terríveis, para a pessoa e, principalmente, para a família”, alerta.

Cuidados

O câncer de próstata é considerado uma doença da terceira idade, já que cerca de 75% dos casos no mundo ocorrem a partir dos 65 anos, mesma faixa etária pertencente ao grupo de risco da covid-19, fator que dificulta ainda mais a procura pelos exames de rotina. “Principalmente quando a clínica fica em hospitais, locais em que há internação”, conta o urologista Thiago Castro. Ainda assim, ele alerta que as avaliações estão no rol de atividades essenciais e que devem ser priorizadas e realizadas com as devidas medidas de prevenção contra o vírus, como higiene das mãos, uso de máscara e respeito do distanciamento social.

Infográfico sobre câncer de próstata, novembro azul, exame de toque
Infográfico sobre câncer de próstata, novembro azul, exame de toque (foto: Editoria de arte/CB/D.A Press)

Irmão de João, Fernando Coelho, 55 anos, não deixou de se consultar este ano. A suspeita de um câncer de próstata fez com que ele realizasse todos os exames, do PSA ao toque. “O médico constatou uma anomalia e pediu para investigar. Fiz ultrassom, ecografia e foi identificado um cisto, que passou pela biópsia. O resultado deu que era um tumor benigno, mas que precisa ser acompanhado com cuidado para não desenvolver para algo pior”, relata. “Qualquer surpresa indesejada tem mais chance de cura. Mas vejo que, além de uma falta de preocupação com a saúde, existe muito preconceito nas conversas”.

Apesar de a chance de cura do câncer de próstata em estágio inicial ser, estatisticamente, na casa dos 90%, pesa o fato do preconceito e da falta de autocuidado. “Os homens se cuidam de duas a três vezes menos do que as mulheres. Essa questão cultural é, sem dúvida, um fator de risco para a saúde masculina”, destaca a oncologista Ana Carolina Salles, da Oncoclínicas Brasília.

Por ser uma doença que, no início do desenvolvimento, raramente apresenta sintomas, a chave do diagnóstico está nas consultas. “Quando a gente pega a doença sintomática, mais avançada, o paciente tem um diagnóstico tardio. Por isso, o tratamento acaba sendo, muitas vezes, mais agressivo, o que tem maior impacto na qualidade de vida do homem. Isso porque a maioria dos tratamentos do câncer de próstata avançado faz um bloqueio hormonal no homem, afetando a produção de testosterona, hormônio masculino responsável pela libido e pela performance”, explica Ana Carolina, destacando que mesmo para os casos mais graves, os tratamentos são essenciais e podem salvar vidas. Ainda nesses casos, há resistência em prosseguir com os procedimentos.

Insegurança

Segundo Renata Figueiredo, presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr), os homens geralmente supervalorizam a atividade sexual, o que influencia no impacto psicológico causado pelo diagnóstico e na maior incidência de depressão e ansiedade nessa população. “As implicações e incertezas advindas do diagnóstico de câncer de próstata intensificam as reações emocionais, como medo, insegurança e choque”, pontua a especialista. “A possibilidade da impotência sexual atinge a essência da masculinidade e abala a autoestima”, acrescenta.

A psiquiatra ressalta que, por esse motivo, é importante que todos os pacientes recebam tratamento afetivo emocional. “O tratamento deve oferecer qualidade de informações, auxílio psicológico, formação de grupos de apoio para autoaceitação e, em muitos casos, uso de medicações antidepressivas, de acordo com o quadro apresentado, para assim melhorar a qualidade de vida, aumentando as chances de recuperação do paciente”, aponta Renata.

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