Desde a noite de terça-feira (3/11), o Amapá vive situação de crise. O estado está sem energia elétrica devido a uma explosão seguida de incêndio que avariou transformadores da subestação da concessionária Linhas de Macapá Transmissora de Energia (LMTE), administrada pela empresa espanhola Isolux. No total, 14 municípios sofrem com o apagão, que atinge praticamente 85% da população do estado. Em coletiva de imprensa na quinta-feira (5), o Ministério de Minas e Energia (MME) prestou esclarecimento e prometeu para esta sexta-feira (6) o conserto de um dos transformadores.
A subestação de Macapá tem três transformadores, no entanto, um estava em manutenção desde dezembro de 2019, e os outros dois foram avariados devido à explosão de terça-feira. O senador do Amapá, Randolfe Rodrigues (Rede), chegou a escrever nas redes sociais que “a ausência de um sistema de backup e de um plano de contingência para o povo do Amapá foi criminosa”.
Depois de quase 65 horas com apagão, às 17h15min desta sexta-feira, alguns bairros da capital notificaram a volta da energia elétrica. Randolfe informou que, entre os próximos 10 e 15 dias, a cidade teria apenas um transformador, que funcionaria de forma racionada.
Além disso, o senador protocolou uma Ação Popular com pedido cautelar na Justiça Federal do estado para que os governos municipal, estadual e federal garantam o abastecimento de água da população com carros pipas; o fornecimento de cestas básicas e medicamentos por parte dos governos; a instauração de inquérito por parte da Polícia Federal para investigar as responsabilidade da empresa Isolux, do Operador Nacional do Sistema e a provável omissão da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel); e que os responsáveis fossem condenados a ressarcir os danos materiais e morais dos amapaenses que foram atingidos pela falta de energia.
O senador acrescentou que entraria também com segunda ação popular para que não fosse cobrada neste mês de novembro a tarifa de energia elétrica a todos os amapaenses. “Isso é o mínimo que pode ocorrer depois de todo o transtorno que os amapaenses ainda estão vivendo e viveram nas últimas horas”, declarou Randolfe.
Cidadãos pedem socorro
Heluana Quintas, 38 anos, moradora de Macapá, conta que a cidade vive desespero. A servidora pública afirma que ouviu pela rádio que os bancos de leite pediam para que doadoras fossem para os hospitais porque não há condições de se fazer o armazenamento.
“Em todas as casas em Macapá, como não tem geladeira, não tem como conservar alimentos e não existe mais gelo na cidade. Ontem (quinta), os lugares onde havia gelo venderam tudo. E apenas uma operadora e uma rádio estão funcionando”, explica Heluana.
Ela conta que participa da ação Amapá Solidária, que arrecada recurso para comprar água mineral para quem não tem. “Água de 1,5 litro não existe mais nos mercados. As pessoas fazem filas para comprar alimentos que não precisam ser conservados nas geladeiras e há aglomerações nos poucos lugares que possuem geradores elétricos. O comércio local não está vendendo em cartão porque não tem energia, só pode pagar em dinheiro e nem todos os caixas eletrônicos estão funcionando porque muitas farmácias também não possuem geradores”, relata.
Heluana desabafa que a situação é precária. “Alguns vizinhos estão se ajudando, dividindo a água que possuem dentro de casa. As pessoas estão tentando sobreviver, mas água encanada, por exemplo, só tem em alguns pontos da cidade. O momento é de caos, o maior caos da história do Amapá, provavelmente”.
A empresária Hannah Tork, 30 anos, também de Macapá, conta que a cidade está caótica. “Estamos sem energia, sem água, o sinal telefônico oscila. Os supermercados estão superlotados, água mineral está escassa. Quem tinha comida abastecida do mês acabou perdendo, porque, com três dias sem energia, os congelados já estragaram”.
Hannah também informa que algumas pessoas conseguiram comprar geradores de energia e, com isso, acabam superlotando os postos de gasolina para abastecer os gerados com diesel. Segundo a empresária, moradores da capital estão com medo, causado pela falta de segurança. “A noite, aqui, está desesperador. Quando vai escurecendo, já bate até um desespero. Estão saqueando o comércio local, restaurantes, lojas, entrando em casas de madrugada, porque está sem segurança nenhuma. O estado está todo no escuro.”
Familiares preocupados
A cosmetóloga Fabrícia Monteiro, 26 anos, tem família no Macapá e conta que ficou dois dias sem conseguir se comunicar com seus pais e sua avó. “Eles moram no centro da cidade e estão sem água, luz e sinal de internet desde o primeiro dia. Os hospitais estão sem energia. Ontem, meu amigo faleceu, pois precisava do respirador. Os mercados já estão sem comida. Os hotéis estão com preços absurdos e superlotação”.
Fabrícia diz ser desesperador ficar sem ter notícias dos familiares. "Supermercados vazios, comida estragando no freezer, tendo que fazer comida toda para não perder alimentação e não passar fome. Os caixas eletrônicos não estão funcionando e as pessoas não têm como sacar dinheiro, não tem gelo para comprar, não tem água potável”.
A maquiadora Daniely Pereira Pinto, 21 anos, não consegue falar com a mãe e outros familiares que moram em Macapá desde a tarde de terça-feira. Daniely mora em Laranjal do Jari (AP), cidade vizinha de Macapá, mas que não ficou sem energia.
“Pelo o que eu fiquei sabendo, por conta da falta de energia, não está tendo água encanada e as pessoas estão precisando comprar (água mineral). Antes custava R$ 15; agora, custa R$ 38. Eu não sei como eles estão fazendo com água”. Ela diz que se preocupa com a mãe, que tem uma filha mais nova de três anos.
Daniely fala também sobre o calor que faz na cidade e como a falta de energia só piora a situação. “Eles moram em um apartamento super pequeno e muito, muito quente. Lá, eles usam uma central de ar, que é o que dá conta do calor. Agora, sem energia, não sei como eles estão fazendo”.
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