Mesmo após a afirmação do governo federal de que não investirá na vacina chinesa CoronaVac, foram criados mais seis centros de pesquisa para acelerar a fase final de testes clínicos no Brasil, com apoio do governo de São Paulo. O anúncio foi feito nesta sexta-feira (23/10), durante coletiva de imprensa para atualizar as ações de combate à covid-19 no Palácio dos Bandeirantes.
As estruturas dos novos centros serão planejadas em hospitais do estado paulista e especialistas do Instituto de Infectologia Emílio Ribas ficarão responsáveis pela supervisão. O objetivo do governo é ampliar é aumentar o número de voluntários aptos a participar dos testes. Quatro unidades de saúde escolhidas ficam na periferia da capital, onde há elevados índices de contágio, e as outras duas, na região do ABC.
Com a novidade, os estudos clínicos serão ampliados de 9 mil para 13 mil voluntários em 22 locais de pesquisa. Nesta fase final da pesquisa, metade dos participantes recebe a dose da CoronaVac, enquanto os demais recebem uma injeção com placebo.
"Aumentar o número de centros é aumentar a quantidade de voluntários para que possamos chegar mais rapidamente ao número de 61 contaminados e, assim, fazer a análise de eficiência da vacina. Esse é o procedimento científico que integra o protocolo da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)", afirmou o governador João Doria.
O número de 61 infectados pela covid-19, trazidos por Doria, é a quantidade necessária para avaliar e comparar se aqueles que receberam a vacina conseguiram adquirir imunização contra o vírus de forma eficaz e segura ao comparar com quem recebeu o efeito placebo. Encerrada essa fase e comprovados os benefícios da vacina, aí sim a Anvisa verifica os dados para registrar o produto no Brasil.
"As agências reguladoras aqui no Brasil atuam de forma autônoma e tem diretores com mandato de estabilidade justamente para manter a independência em relação aos governos [...] Nós temos certeza que a Anvisa continuará nesse caminho de autonomia e independência", afirmou Doria, fazendo alerta diante dos temores de que a agência pudesse sofrer interferência do presidente da República, que já garantiu que "a vacina chinesa de Doria", como apelidou a CoronaVac, não irá compor o Programa Nacional de Imunização (PNI).
Pazuello
O objetivo do Governo de São Paulo é reverter esse anúncio com apoio do Congresso e do próprio ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. "Prefiro guardar a lembrança de Eduardo Pazuello, da última terça-feira, perante 24 governadores de estado e três líderes do Congresso Nacional, do que a cena que assisti ontem ao lado do presidente Bolsonaro", polemizou Doria.
O presidente da Câmara dos Deputados, deputado Rodrigo Maia (DEM/RJ) garantiu que irá articular junto ao Congresso e ao presidente da República a incorporação da CoronaVac, assim que houver registro.