Saúde

Possível subnotificação de sarampo durante pandemia preocupa OPAS

O continente americano havia obtido o selo de erradicação do sarampo em 2016, mas voltou a registrar casos da doença nos anos seguintes

A queda das notificações de sarampo no continente americano durante a pandemia de covid-19 preocupa a Organização Panamericana de Saúde (Opas), representação regional da Organização Mundial da Saúde (OMS). A especialista em imunizações da OPAS no Brasil, Lely Guzman, afirmou durante a Jornada Nacional de Imunizações, no último sábado (17), que há uma subnotificação importante a nível global.

"Precisamos fazer muito mais para poder tirar o sarampo de nossas vidas. E ainda temos que fazer outra pergunta: estamos notificando todos os casos com o contexto da pandemia em 2020? É uma pergunta que estamos todos fazendo não somente aqui na região das Américas", alertou a epidemiologista. "A subnotificação global está sendo muito importante a partir da pandemia de covid-19".

Lely Guzman lembrou que o continente americano havia obtido o selo de erradicação do sarampo em 2016, mas voltou a registrar casos da doença nos anos seguintes, fenômeno que especialistas relacionam à queda na cobertura da vacina tríplice viral.

Em 2019, o mundo chegou pela primeira vez na história a uma cobertura vacinal média de 85% contra a doença, superando 90% em 63% dos países. Os percentuais foram maiores na Ásia, e menores na África. Mesmo assim, surtos foram registrados na maior parte das regiões, incluindo as Américas, onde o Brasil teve o maior número de casos, com 19.326 entre os 21.674 registros no continente. Já em 2020, dados da OPAS do início de outubro mostravam que o Brasil somava 8.187 dos 8.463 casos do continente americano.

Além da possibilidade de subnotificação, a queda das aplicações da primeira dose da vacina tríplice viral na América Latina também preocupa a organização. Desde janeiro, uma análise de 25 países da região mostra que o número de imunizações aplicadas ficou abaixo do patamar do ano passado.

No início do ano, a desvantagem era de menos de 5% em relação a 2019, com a aplicação de doses ainda acima de 300 mil ao mês. A diferença começa a se acentuar em março, e supera os 30% nos meses de abril e maio, caindo para cerca de 25% em junho. Em abril, menos de 200 mil doses da vacina foram aplicadas, enquanto, no ano passado, o patamar ficou acima de 250 mil.

"O Brasil tem um calendário de vacinação muito amplo e um dos melhores do mundo, com vacinas de graça. São vacinas que previnem muitas doenças e temos que aproveitar a oportunidade. O desafio não é somente dos profissionais de saúde, do governo ou das autoridades, é de todos nós".

Procurado pela Agência Brasil, o Ministério da Saúde afirmou que "vem atuando fortemente junto aos estados no enfrentamento do surto de sarampo no país".

"No ano de 2020, 21 unidades federadas notificaram casos de sarampo, totalizando até a semana 37 (12/09/2020), 15.734 casos de sarampo notificados, 7.939 (50,5%) confirmados, 7.177 (45,6% descartados e 618 (3,9%) em investigação. Este Ministério da Saúde orienta constantemente a busca ativa de casos suspeitos, bem como a sua notificação semanal, a fim de identificar os casos de sarampo em todo o país. Portanto, as vigilâncias estaduais e municipais estão orientadas a continuar as ações de busca e notificação de casos de sarampo, mesmo no contexto da pandemia da covid-19".