VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

'Sempre que me agredia, pedia desculpas’, diz mulher atacada a socos na Bahia

Vítima escreveu um longo relato nas redes sociais em que dizia pensar que Carlos Samuel pudesse mudar. Eles viveram um relacionamento de seis meses; agressor está foragido

A mulher agredida por um Carlos Samuel Freitas no meio da rua com sucessivos socos no rosto, em Ilhéus, no sul da Bahia, falou pela primeira vez sobre o ocorrido, em uma rede social. Em uma publicação no Instagram, Franciele Azevedo, de 26 anos, contou que vivia um relacionamento abusivo com o agressor e que o episódio gravado não teria sido o único.

O homem, de 33 anos, teve a prisão preventiva decretada pelo Tribunal de Justiça da Bahia (TJBA) na última quinta-feira (15/10) e é considerado foragido. Foi verificada a necessidade de “resguardar a ordem pública” já que Carlos Samuel tem uma condenação em primeira instância por violência doméstica, além de pelo menos 10 acusações semelhantes que não chegaram a ser julgadas. A polícia segue com as buscas.

Na rede social, na noite desta sexta-feira (16/10), a vítima, Franciele Azevedo, pondera que “demorou” a se posicionar porque achava que o criminoso pudesse “mudar” e cessar com as agressões. “Sempre achava ele iria mudar onde permaneci por um tempo no relacionamento abusivo, pois o mesmo depois de todas as vezes que me agredia me pedia desculpas e falava que não lembrava o que tinha feito e nem o porquê tinha feito e no final a culpa era sempre minha", desabafa.

Relacionamento abusivo

A vítima conversou, ainda, com o G1 Bahia onde contou ter conhecido Carlos Samuel por meio de uma rede social, no fim do mês de março. Segundo Franciele, no início do relacionamento, o homem não apresentava um comportamento agressivo. “Com passar do tempo, ele mostrou quem era ele", disse.

A vítima contou que muitas vezes as agressões aconteceram por ciúme, mas que em outras bastava ela falar algo que o suspeito não gostasse para ser violentada.

"A gente foi a uma farra na casa de um amigo dele. No momento, ele estava usando meu celular, e eu esperando um celular, pois o dele queimou. Ele fala que eu que quebrei o celular dele, isso é mentira. Vi umas coisas no celular e peguei o celular. Ele veio com toda força, tomou celular que era meu da minha mão, me engarguelou e tentou me dar um soco, mas não pegou", relatou Franciele ao G1.

A vítima ressaltou que tentou pedir ajuda após a agressão, mas o Carlos Samuel a impediu. "Nesse dia, eu liguei para minha prima para ela me pegar lá porque ele tinha feito isso, liguei chorando. Ele não deixou eu ir, pediu desculpa, disse que ele não era assim. Como foi a primeira vez, achei que não ia acontecer mais", relembra.

Agressão gravada

Fraciele contou que, no dia que as imagens foram gravadas, ela e o agressor tinham acabado de sair de uma festa a pedido da jovem, já que Carlos Samuel “já havia bebido bastante”.

Os dois estavam em uma moto pilotada por ele e, quando a mulher se preparava para descer da motocicleta, houve a primeira agressão. O crime aconteceu no dia 20 de junho.

"Fui para descer da moto. Como eu estava com capacete no meu braço, quando fui descer da moto, peguei nele fixo. Ele foi e me deu um soco, eu caí da moto. Eu saí andando, pedindo para ele me deixar em paz, que eu não queria mais [o relacionamento], que eu não ia com ele. Como todos podem ver no vídeo, ele fez novamente e me deu vários socos", relatou.

Franciele revelou que em seis meses de relacionamento foi agredida ao menos cinco vezes. "Eu, infelizmente, gostava muito dele. Acreditei novamente nele, nos pedidos de desculpas. Teve várias outras [agressões] que, como eu estava sem celular, não pude tirar fotos, mas quando tinha oportunidade eu tirava", disse ao portal.

Carlos Samuel está foragido

O advogado do suspeito, Caíque Mota, pediu à Justiça a revogação da prisão e informou que, por enquanto, o agressor não vai se apresentar. Caso o pedido não seja concedido, Carlos Samuel deve se apresentar a policia.

Em nossa divulgada nesta semana, o suspeito diz que é "um jovem trabalhador" e que não tem "envolvimento com nenhum tipo de prática criminosa”. Além disso, o homem diz estar arrependido do que fez, e que vai "sofrer as reprimendas judiciais conforme se prevê a lei".

O suspeito ressalta que ele e a vítima mantinham uma "relação muito conturbada, eivada de inúmeros casos de ciúme doentio, diversas agressões físicas e morais". Ele escreveu ainda que, no dia em que deu vários socos no rosto da vítima, estava bêbado, voltando de uma festa, e que as agressões aconteceram porque ele "perdeu a cabeça".

Denunciado pela mãe

O agressor já foi denunciado à polícia por extorquir e ameaçar a própria mãe. A queixa foi registrada em 2017. Segundo a Deam, ele tem um longo histórico de agressão a ex-namoradas e mulheres da própria família, resultando em ao menos 11 boletins de ocorrência.

Um dos registros, feito em 2015, consta que ele agrediu e manteve uma mulher em cárcere privado. No entanto, Carlos Samuel só foi condenado por violência doméstica uma vez, por um crime denunciado em 2016.

A delegacia não detalhou se a vítima desse crime é a mesma companheira do crime registrado em 2015.
Ele chegou a ser condenado em um ano e quatro meses, mas recorreu da decisão. A demora para o julgamento do recurso fez com que o crime prescrevesse.