Interceptações telefônicas realizadas contra os envolvidos ao longo da investigação foram cruciais para a condenação de Robinho por estupro na Itália, de acordo com trechos da sentença judicial revelados pelo Globo Esporte nesta sexta-feira (16/10). Para a justiça italiana, as escutas realizadas a partir de janeiro de 2014 são “autoacusatórias”.
Assim como o atacante, Ricardo Falco é o outro condenado em primeira instância pelo crime. Mas, de acordo com a reportagem, outros quatro brasileiros teriam participado do ato, classificado pela Procuradoria de Milão como violência sexual. Só que eles deixaram o país no decorrer da investigação e estão sendo processados num procedimento à parte.
Entre as diversas gravações de ligações telefônicas entre os acusados, feitas com autorização da Justiça, uma das mais decisivas para a condenação foi uma conversa de Falco com Robinho. Em certo momento, o jogador demonstra preocupação com a possibilidade de a vítima prestar depoimento.
Falco: Ela se lembra da situação. Ela sabe que todos transaram com ela.
Robinho: O (NOME DE AMIGO 1) tenho certeza que gozou dentro dela.
Falco: Não acredito. Naquele dia ela não conseguia fazer nada, nem mesmo ficar em pé, ela estava realmente fora de si.
Robinho: Sim.
Com autorização judicial, a polícia também instalou escutas no carro utilizado pelo jogador na Itália. A sentença diz que “os conteúdos dão pleno conhecimento do que aconteceu”. Uma interceptação mostrou o músico Jairo Chagas, que tocou naquela noite na boate, avisando a Robinho sobre a investigação.
Segundo a transcrição, Robinho respondeu: “Estou rindo porque não estou nem aí, a mulher estava completamente bêbada, não sabe nem o que aconteceu". E completou: "Olha, os caras estão na merda... Ainda bem que existe Deus, porque eu nem toquei aquela garota. Vi (NOME DE AMIGO 2) e os outros foderam ela, eles vão ter problemas, não eu... Lembro que os caras que pegaram ela foram (NOME DE AMIGO 1) e (NOME DE AMIGO 2).... Eram cinco em cima dela.”
Ainda em janeiro de 2014, Chagas e Robinho voltaram a falar sobre o ocorrido. O diálogo entre os dois transcrito na sentença é o seguinte:
Robinho: A polícia não pode dizer nada, eu direi que estava com você e depois fui para casa.
Jairo: Mas você também transou com a mulher?
Robinho: Não, eu tentei. (NOME DE AMIGO 1), (NOME DE AMIGO 2), (NOME DE AMIGO 3)...
Jairo: Eu te vi quando colocava o pênis dentro da boca dela.
Robinho: Isso não significa transar.
Também há registros de outras conversas entre os amigos do jogador presentes na boate. Um deles é identificado como "Amigo 4". Ela demonstra preocupação ao saber do início da investigação. “Irmão, tive dor de barriga de nervoso, eu me preocupo por você, amigo”, disse. A resposta de Robinho, segundo a transcrição das gravações, foi:
“Telefonei a (NOME DE AMIGO 3), e ele me perguntou se alguém tinha gozado dentro da mulher e se ela engravidou. Eu disse que não sabia, porque me recordo que eu e você não transamos com ela porque o seu pênis não subia, era mole... O problema é que a moça disse que (NOME DE AMIGO 1), (NOME DE AMIGO 2) e (NOME DE AMIGO 3) a pegaram com força.”
Em uma outra ligação transcrita no processo, Robinho alega que “não havia prova de que fizemos alguma coisa”. O jogador e Ricardo Falco também combinaram as respostas que dariam à Justiça. Falco comentou que a “nossa salvação” era que não tinha na boate nenhuma câmera que flagrasse eles com a jovem.
Uma gravação telefônica do músico Jairo Chagas mostra ele conversando com uma amiga e a transcrição traz uma frase dela dizendo que “isso é coisa de covarde, pessoas de merda que dão realmente nojo”. Jairo responde que o que aconteceu tinha nome: “se chama estupro”. Mas, diante dos juízes, o músico disse não ter visto cenas de sexo naquela noite.
Reconstituição
De acordo com o GE, na reconstituição feita pela Justiça, a vítima contou que foi ao Sio Café, em 21 de janeiro de 2013, para comemorar seu aniversário de 23 anos ao lado de duas amigas. Robinho estava na mesma boate com a esposa e um grupo de quatro amigos.
A violência contra a jovem, de origem libanesa, teria ocorrido, de acordo com o processo, dentro do camarim usado pelo músico Jairo Chagas. A vítima contou que foi ao local convidada por um dos amigos do Robinho, mas que, por SMS, ele a informou que ela só deveria se aproximar da mesa depois que a mulher do jogador fosse embora. Assim que isso aconteceu, ela e duas amigas se juntaram ao grupo de brasileiros, que depois passou a ter também a presença de Ricardo Falco.
No depoimento, ela contou que os brasileiros ofereceram várias bebidas alcoólicas, mas apenas ela bebia, pois uma das amigas estava grávida e a outra estava dirigindo. Por volta de 1h30 da madrugada, as duas amigas foram embora. Após dançar com os brasileiros, ela contou ter ficado sem ar, tonta e de ter ido para uma área externa da boate, momento em que um dos amigos do jogador tentou beijá-la. Pouco depois, os dois foram para o camarim, onde o mesmo amigo continuou tentando beijá-la.
A vítima admitiu ter apenas "alguns flashes daquela noite", acrescentando que não tinha condições de “falar” nem de “ficar em pé”. Nessas recordações, ela diz que ficou no local sozinha por alguns minutos e "percebeu" que o mesmo amigo e Robinho estavam “aproveitando” dela.
“Acredito que no início estivesse fazendo sexo oral em [NOME DO AMIGO 3], e Robinho aproveitava de mim de outro modo, e depois eles trocaram de papel, dali não me recordo mais nada porque me encontrei rodeada pelos rapazes, não sabia o que acontecia”, relatou.
Ela ainda afirmou que ouviu Robinho pedir ao amigo uma "camisinha". E que, ao fim, se lembrou de que começou a chorar e que Jairo apareceu para consolá-la. A vítima também contou que começou a chorar após ter se dado conta do que havia acontecido. A investigação diz que ela deixou a boate carregada pelos brasileiros, primeiro no carro de Robinho e depois no veículo de Ricardo Falco.
Defesas
O advogado italiano de Robinho, Alexsander Guttierres, não quis comentar o teor das escutas telefônicas e, de acordo com o Ge, disse que vai sustentar que a relação foi consensual. “O artigo que enquadra meu cliente é claro: fala em induzir alguém a beber ou tomar droga com objetivo de usufruir dela sexualmente. Não há provas de que isso aconteceu. Fazer sexo com uma pessoa bêbada ou drogada não fere a lei. Não estou dizendo que ele [Robinho] é uma pessoa perfeita. Ele mesmo reconheceu ter tido uma conduta pouco séria, mas crime não cometeu.”, disse.
Ricardo Falco é defendido no processo pela advogada Federica Rocca, que afirmou que o recurso apresentado pelos advogados discutirá se a relação da jovem com os seis homens, dentro do camarim da boate, foi ou não consensual. “Não há prova de que eles deram bebida a ela para se aproveitarem sexualmente”, disse.
Após a revelação das gravações, uma empresa que patrocina o Santos colocou o clube contra a parede e afirmou que deixará de patrocinar a equipe caso o contrato com o jogador não seja rompido.
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