Brasil

Pandemia não abateu humor do brasileiro, diz 'ranking da felicidade'

Na edição deste ano, 63% dos brasileiros se disseram felizes. O número oscilou positivamente, dentro da margem de erro, em relação ao ano passado

Homem todo coberto pro trajes sanitários em frente à estátua do Cristo Redentor
REUTERS/Ricardo Moraes
Pesquisa mostra que, com a pandemia de coronavírus, brasileiro parece ter passado a dar mais importância às relações interpessoais

Apesar de tudo, a pandemia do novo coronavírus não conseguiu derrubar o humor do brasileiro — ou, pelo menos, não conseguiu piorar ainda mais a forma como a população se sente em 2020, em relação a 2019.

O achado é da pesquisa Global Happiness 2020, do instituto de pesquisas Ipsos.

Na edição deste ano, 63% dos brasileiros se disseram felizes. O número oscilou positivamente, dentro da margem de erro, em relação ao ano passado. Em 2019, 61% dos brasileiros disseram estar felizes.

No entanto, não é como se o humor nacional estivesse no pico: o ano mais alegre para os brasileiros, segundo o Ipsos, foi em 2013, quando 81% se diziam contentes.

Embora o número total tenha mudado pouco, os motivos que levam os brasileiros a se considerarem felizes mudaram em 2020, em relação ao ano passado.

Interpessoal

Durante a pandemia, o brasileiro parece ter passado a dar mais importância para as relações interpessoais.

Menos pessoas mencionaram como fonte de felicidade a situação da economia (-9%) e a própria situação financeira (-2%). Em compensação, mais brasileiros citaram a relação com o cônjuge ou namorado (+5%) e com os amigos (+4%).

Também ganharam importância as doações aos necessitados ou o trabalho voluntário (+6%) e até o fato de ter sido perdoado por alguma falta contra outra pessoa (+6%).

Este ano, a pesquisa da Ipsos foi aplicada em 27 países, entre os dias 24 de julho e 7 de agosto. Ao todo, foram ouvidas 19.516 pessoas, usando uma plataforma online desenvolvida pela empresa.

No Brasil, foram ouvidos 1.000 moradores, e a margem de erro nos dados relativos ao país foi estimada em 3,5 pontos percentuais, para mais ou para menos.

Desde a primeira edição da pesquisa, em 2011, o índice de felicidade no Brasil caiu 14 pontos percentuais. Naquele ano, 77% dos moradores do país se diziam felizes.

Segundo o levantamento, o ápice da satisfação dos brasileiros com a vida foi em 2013, quando 81% se disseram felizes. Por outro lado, o ano mais triste foi 2017, quando apenas 56% responderam positivamente.

Segundo a diretora de comunicação da Ipsos no Brasil, Sandra Zlotagora Pessini, é possível que o fato da pesquisa ter sido conduzida por meio virtual tenha diminuído a representação de pessoas mais pobres na amostra, integrantes da chamada Classe E. No entanto, diz ela, a internet tem hoje grande penetração no país, e alcança algo como 74% dos brasileiros.

China passa a liderar o ranking

EPA/WU HONG
Comemoração da Semana de Ouro chinesa; país asiático apareceu na liderança do Global Happiness 2020

No mundo, a surpresa foi a China — o país asiático lidera esta edição do ranking, com 93% dos cidadãos se considerando felizes.

É um crescimento expressivo em relação a 2019, quando 83% dos chineses que responderam ao questionário disseram estar de bem com a vida.

Na edição deste ano, completam o "top 5" das nações mais satisfeitas os Países Baixos (onde 87% se dizem felizes); a Arábia Saudita (80%); a França (78%); e o Canadá (78%).

Golpeada pela crise do novo coronavírus, a Austrália deixou o topo do ranking, que dividiu com o Canadá no ano passado.

Na outra ponta do espectro, entre os países com menor nível de felicidade, há vários vizinhos latinoamericanos. O Peru está na lanterna, com meros 32% de cidadãos que se dizem felizes. Em seguida vem o Chile (35%) e a Argentina (43%).

Quando comparado aos demais países, o Brasil está exatamente em cima da média global em 2020: os mesmos 63%.

Em relação ao ano passado, a média de todos os países pouco mudou: em 2019, o percentual das pessoas que se consideravam felizes era de 64%.

A nível global, a pesquisa Ipsos também mostra uma redução dos níveis de felicidade. Em 2011, 77% das pessoas que responderam à pesquisa se diziam felizes. Hoje, este número é de 63%, ou 14 pontos percentuais a menos.

Brasileiros buscam felicidade em mais lugares, diz diretora do Ipsos

Além de perguntar sobre o quão feliz a pessoa estava, a pesquisa Ipsos também investigou quais fatores eram mais ou menos importantes para cada entrevistado.

A pesquisa listou 29 possíveis motivações para a felicidade, e pedia aos participantes para que indicassem o quanto cada uma delas poderia trazer "mais felicidade", "alguma felicidade" ou felicidade nenhuma para suas vidas.

No caso dos brasileiros, chamou a atenção a diversidade de motivos que foram considerados importantes para ter uma vida feliz, diz Sandra Zlotagora Pessini, Diretora da Comunicação na Ipsos no Brasil.

REUTERS/Ricardo Moraes
Fila para recebimento do auxílio emergencial no Rio durante pandemia de coronavírus; em pesquisa, menos pessoas mencionaram como fonte de felicidade a situação da economia geral ou própria

Os fatores mais citados pelos brasileiros, em ordem de importância, foram a saúde / bem estar físico (68%); sentir que a vida tem um significado (62%); ter um bom emprego (62%); ter controle sobre a própria vida (60%) e a segurança e proteção pessoais (59%).

"Se olharmos o 'top 10' das fontes de felicidade dos brasileiros, em primeiro lugar aparece a saúde física e mental, o que faz ainda mais sentido num contexto de pandemia. Depois, já na sexta posição, aparece a espiritualidade, que é uma dimensão que tem muita importância para os brasileiros, junto com alguns outros países, como a Arábia Saudita e a Malásia", comenta Pessini.

"No caso brasileiro, chama a atenção o fato de que a felicidade é composta por muitas dimensões além da questão econômica. Os amigos, o tempo livre ou de lazer; a vida afetiva. Tudo isso impacta na percepção de felicidade", diz a diretora da Ipsos.


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