Em tempo de coronavírus

Pandemia adia sonho do casamento e cartórios registram alta de 143% em setembro

Em abril, as entradas de novos pedidos foram suspensas. Por isso, o crescimento acima da média, no mês passado, reflete o represamento, dizem especialistas. Noivos tiveram de mudar planos

Vera Batista
Carinne Souza*
postado em 17/10/2020 16:27 / atualizado em 17/10/2020 16:27
 (crédito: Arquivo Pessoal)
(crédito: Arquivo Pessoal)

A pandemia adiou os planos de muitos casais, como Luiza Palhares, 24 anos, e seu noivo Allan Jeft, 25. Em abril, os pedidos de casamentos foram suspensos e as uniões foram represadas. Por isso, em setembro, cartórios registraram aumento de 143% número de casamentos no Brasil em relação ao período mais crítico da crise sanitária e do isolamento social.

Desde o início da pandemia, esse foi o recorde do índice, com 61.799 casamentos em cartórios, começando a se aproximar das 80.427 uniões no mesmo mês de 2019, de acordo com dados da Central Nacional de Informações do Registro Civil (CRC Nacional), administrada pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil). Se o resultado no pais chamou a atenção, os números do Distrito Federal foram ainda mais surpreendentes. Na Capital, o percentual de alta foi de 841,1%.

Devido ao distanciamento social pelo novo coronavírus, abril de 2020 teve apenas 151 matrimônios no DF. Enquanto em setembro, foram 1.421. Para Allan Guerra, presidente da Associação dos Notários e Registradores do Distrito Federal (Anoreg/DF), houve um represamento na demanda por causa da pandemia, mas a tendência é de alta no número de casamentos. “Em abril, foram suspensas as entradas de novos pedidos. E agora, eles recomeçaram. Tanto que, quando se compara setembro de 2020 com o mesmo mês de 2019, houve queda de 29,3%”, lembra. A expectativa de alta a partir de agora, diz Guerra, é consequência das “especificidades do DF”.

“O pico, aqui, é sempre em outubro e não maio, que é o quinto do ranking, depois ainda de setembro, novembro e dezembro. Somente em 2018, em outubro, foram 2.026 casamentos. Em 2019, 1.198”, explica Allan Guerra. Para o psiquiatra Raphael Boechat, professor da Universidade de Brasília (UnB), além dos adiamentos pelo risco de contaminação, outra peculiaridade pode ser responsável pelo incremento na troca de alianças. “Brasília é uma cidade de imigrantes. As pessoas ficaram ainda mais solitárias e procuraram reforçar os laços dos relacionamentos. Quanto menos conseguem de socializar, porque estão dentro de casa, mais elas passam a reavaliar seus espaços e sentimento”, afirma Boecht.

Para o psiquiatra e professor colaborador da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) Luan Diego Marques os dias de isolamento trouxeram reflexão para os casais. "Alguns usaram esses dias como uma possibilidade de conhecer melhor o companheiro ou a companheira e, assim, entender como o intenso convívio seria para o relacionamento. Da mesma forma que traz conflitos aos casais e o divórcio, a pandemia também pode trazer a aproximação. Alguns perceberam que é possível a relação continuar por anos dentro de um contexto de casamento", explica Marques.

Noivos

Luiza e Allan precisaram adiar o casamento no início do ano por problemas pessoais, mas não imaginaram que teriam de esperar por mais três meses para escolher uma nova data. "Íamos casar no início do ano, mas houve alguns imprevistos e não aconteceu. Depois veio a pandemia e tivemos que esperar alguns meses para remarcar o casamento. Escolhemos a nova data apenas em setembro", relata Luiza.

Ela ainda precisou esperar mais de 30 dias para conseguir realizar o casamento. "Demorou cerca de um mês para realmente acontecer. Está todo mundo querendo casar e não tinha mais datas disponíveis. Nosso casamento só aconteceu em outubro". De acordo com a CRC Nacional, apenas em setembro, os cartórios do estado em que Palhares mora registrou 7.359 casamentos.

A vendedora Jaqueline Tavares, 21 anos, planeja o casamento há um ano e estava preocupada com o fato de precisar mudar a sonhada data devido à pandemia. "Eu e meu noivo sempre sonhamos em nos casar em novembro. Com a chegada da pandemia, nossa esperança era de que tudo se resolvesse o quanto antes para não remarcar. Ficamos felizes por não precisar mudar o dia que escolhemos, mas não será nada como planejamos. Além das medidas de contenção que precisamos respeitar, todos os nossos convidados vão ter que usar máscaras e álcool em gel", ressalta.

No país, setembro teve mais registros que maio, conhecido tradicionalmente como o mês das noivas, o que não ocorria desde 2018. Em abril deste ano, houve 25.394 casamentos em território nacional, número 61,8% menor que o registrado no mesmo mês do ano passado, (66.561 celebrações). A partir de maio, começou uma gradual recuperação, embora menor que 2019, mas com forte tendência de aumento. Foram celebrados 35.711 casamentos no país, 40,6% a mais que o registrado em abril. Em junho, 10,5% a mais de que no mês anterior, com 39.460 registros. Em julho, os casamentos saltaram para 51.167, alta de 29,7%. Em agosto, houve ligeira queda (48.863 casamentos).

Segundo Arion Toledo Cavalheiro Júnior, presidente da Arpen-Brasil, os dados mostram que, aos poucos, os brasileiros retomam seus planos e o sonho de uma vida a dois. “Os Cartórios de Registro Civil prestam serviços essenciais para a população, como os registros de nascimento, casamento e óbito e, por isso, não pararam mesmo durante a pandemia. Nos cercamos de todos os cuidados necessários para que os usuários possam se sentir seguros em momentos tão especiais como a celebração oficial de uma vida a dois”.

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