O ministro Fernando Azevedo, da Defesa, fez, ontem, um balanço da Operação Covid-19, que vem mobilizando mais de 34 mil militares, além de todo o aparato logístico das Forças Armadas. Segundo o general, somente de viagens aéreas para atender a população com insumos e materiais contra o novo coronavírus, são 20 voltas no planeta. Em entrevista ao Correio, o ministro confirma números que dão uma ideia do envolvimento da Marinha do Exército e da Aeronáutica: 6,2 mil descontaminações em locais públicos; 11 mil ações nas faixas de fronteira; montagem de cerca de 2,5 mil postos de triagem; criação de 4,8 barreiras sanitárias; 6.722 campanhas de conscientização da população; e 33 mil doações de sangue. Isso tudo sem descuidar das atribuições fundamentais das FAs, inclusive a de se juntar à luta contra os focos de incêndio na Amazônia e no Pantanal.
Quais as ações da Defesa para combater a covid-19?
As Forças Armadas — Ministério da Defesa, Marinha, Exército e Força Aérea — contribuíram muito com as ações de governo para conter o coronavírus. Começamos com o resgate dos brasileiros em Wuhan (China), quando a Força Aérea Brasileira (FAB) foi com suas aeronaves trazer os brasileiros para cá, e fizemos um período de confinamento na Base Aérea de Anápolis (GO). Foi a primeira operação no Brasil para a covid-19. Nestes seis meses, o esforço aéreo, auxiliando no transporte de material e pessoal, corresponde a 20 voltas no planeta. Ajudamos em mais de 6,2 mil descontaminações em locais públicos e 11 mil ações nas faixas de fronteira. Montamos cerca de 2,5 mil postos de triagem, 4,8 barreiras sanitárias; fizemos 6.722 campanhas de conscientização da população e 33 mil doações de sangue. Mais de 15 mil homens e mulheres foram capacitados pelas Forças Armadas. Produzimos mais de 620 mil máscaras, e cerca de 25 mil litros de álcool em gel foram distribuídos, além de mais de 1 milhão de kits de alimentos. No total, transportamos 22,2 mil toneladas de carga via terrestre e 780 toneladas via aérea.
No que se traduzem esses dados em termos de enfrentamento à covid?
Estão sendo empregados na Operação Covid-19 mais de 30 mil homens por dia, nos 10 comandos conjuntos espalhados no Brasil. Na Força Expedicionária Brasileira (FEB), para a 2ª Guerra Mundial, contamos com 25 mil homens. Então, esse é o nosso maior esforço, uma contribuição que as Forças Armadas dão à população brasileira. Para isso, houve liberação dos recursos por meio de dois projetos de lei, com valores repassados à Defesa girando em torno de R$ 200 milhões.
Na linha de frente de atuação, os militares também se tornam mais suscetíveis à infecção. Os índices são altos?
Estamos trabalhando na Operação Covid-19 com um efetivo de mais de 30 mil homens. Tivemos, infectados, cerca de 20 mil, sendo que 18 mil estão recuperados, ou seja, cerca de 90%. Infelizmente, do pessoal nosso da ativa, 32 morreram. É um número baixo.
A atuação das Forças Armadas vai muito além da covid-19. Como garantir a continuidade de outras operações para garantir a proteção às fronteiras terrestres, marítimas, aéreas, e ao meio ambiente?
Nós não paramos com as nossas operações, nós as adaptamos.Temos várias em curso: a Operação Verde Brasil 2; estamos ajudando no combate ao incêndio no Pantanal; temos a Operação Pipa, que distribui água no Nordeste; a Operação Acolhida, que recebe refugiados. As atividades normais das forças não pararam. Continua a formação dos oficiais e praças, a proteção da faixa de fronteira, que é responsabilidade nossa. Como autoridade marítima, a Marinha não parou por causa da Operação Covid-19 e o controle do espaço aéreo de 22 milhões de quilômetros quadrados é tarefa da Força Aérea. Isso é uma constante nossa do dia a dia. Operações são esforços adicionais. Mas é importante ressaltar que nós não paramos a nossa principal missão, prevista na Constituição e nas leis complementares.
Vivemos um momento dramático nos nossos biomas. Em meio à alta demanda da Operação, tem-se a necessidade urgente de assistência no combate aos incêndios no Pantanal e na Amazônia. Os esforços são suficientes para ambas as prioridades?
Essa questão não é somente da Defesa. Estamos em um contexto de esforço que o presidente Jair Bolsonaro tem feito, nomeando o vice-presidente Hamilton Mourão para comandar o Conselho da Amazônia, que integra vários órgãos. Agora estamos vivendo a pior seca, foco de calor, dos últimos 30 anos. Então, a situação merece um esforço não só das Forças Armadas, mas de todos os órgãos ligados ao meio ambiente, tanto do governo federal, como estadual e municipal. É um período difícil e que se soma ao enfrentamento da covid.
Em meio a todas essas demandas das Forças Armadas, havia uma expectativa de que a verba da Defesa, prevista no Projeto de Lei Orçamentária, fosse maior do que áreas como a Educação. Após a repercussão, isso não se confirmou. O montante ficou de acordo com a necessidade?
Não é verdade que orçamento da Defesa seria maior do que o da educação. Isso nunca aconteceu e nem iria acontecer. São duas coisas importantes. Nosso patamar de recursos é dividido em despesas obrigatórias, mais o pagamento de pessoal, que consome 90% do orçamento anual. Os 10% restantes são de despesas discricionárias com instrução, munição, água, luz, projetos. Esses 10% realmente não são suficientes. Em 2019, 2020 e 2021 ficamos no mesmo patamar de despesas discricionárias. Não é o ideal, mas é o possível em relação à Defesa. É com isso que nós vamos nos adaptar. Temos a vantagem de que esses recursos não estão sendo contingenciados. Então, temos uma previsão de utilização plena dos recursos aprovados na LOA.
Uma das grandes demandas no âmbito da covid, e que colocou a Defesa nos holofotes, foi a responsabilidade pela produção da cloroquina. Mantemos um estoque grande depois da instrução do governo federal para aumentar a produção?
O laboratório químico e farmacêutico do Exército fabrica cloroquina normalmente. Tivemos duas compras este ano. Mas, com certeza, tudo foi feito dentro dos procedimentos padrões e normais, dentro da lei. A cloroquina está sendo usada pelos militares por encomenda do Ministério da Saúde. O primeiro lote acabou e estamos com o segundo.
Com a doação de cloroquina dos Estados Unidos, há o risco de desperdício do medicamento e, portanto, de dinheiro público?
Se não for aproveitado por receita do Ministério da Saúde, vamos aproveitar nas doenças para as quais o Exército normalmente distribui. Não existe, de forma alguma, hipótese de vencimento da medicação.