De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em apenas 16 dias, setembro já alcançou a marca de 5.603 focos de incêndio no Pantanal — pior mês de setembro para o bioma desde o início do monitoramento, em 1998. A última vez que o Pantanal apresentou um alto número de focos de queimada em setembro foi em 2007, quando foram reconhecidos 5.498 focos de calor. Se as queimadas continuarem o ritmo diário, este será o pior mês da história do bioma.
Divino Silverio, pós-doutor em Ecologia, disse que os danos dos incêndios florestais no Pantanal são imensuráveis. “Uma grande área queimada ao mesmo tempo, como aconteceu no Pantanal, é muito mais danoso para a biodiversidade do que pequenas áreas queimadas em anos diferentes. Por exemplo, os incêndios em grandes áreas eliminam de uma só vez todos os recursos provenientes das plantas e que servem de alimentos para os animais. A maioria das folhas, dos frutos, e das flores são queimadas ou danificados. Com isso, os animais que sobreviveram ao fogo, enfrentam uma escassez de alimento que pode durar várias semanas”, explicou.
O especialista também falou dos problemas para as onças-pintadas e outros predadores: “as interações entre as espécies podem ser drasticamente alteradas por um período longo. Espécies predadoras podem ter maior dificuldade em encontrar e capturar suas presas”. Vale recordar que a onça-pintada, muito presente no Pantanal, está classificada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês) como sendo ameaçada de extinção.
Às cegas
De acordo com Cássio Bernardino, analista de Conservação do WWF-Brasil, cerca de 1,8 milhão de hectares já foi queimado, o que representa uma área de aproximadamente 85% de todo o estado de Sergipe. Cássio explica, ainda, que não há números que mostrem o que isso significa em questão de degradação da fauna e flora do bioma. “Esse é um dado caro e trabalhoso de ser levantado, ainda mais nesse contexto da covid-19. Então, ainda não tem um número que possa dizer o que isso significa em questão de animais e espécies perdidas, nem de impacto na flora, mas fica muito claro que se trata de uma catástrofe ambiental enorme”, diz o analista.
Bernardino explica também que, apesar de o Pantanal ser um bioma que apresenta queimadas naturais, será muito difícil a recuperação da área perdida. “É importante que a gente dê tempo para o bioma se recuperar. Estudos mostram que é preciso até 30, 40 anos para que haja uma recuperação completa da vegetação”.
Na terça-feira (15/9), o ministro Ricardo Salles declarou em entrevista à Rádio Bandeirantes que a causa do fogo descontrolado era a proibição do chamado fogo frio, técnica utilizado por pantaneiros para diminuir material combustível. Ane Alencar, doutora em Recursos Florestais e Conservação, explicou que o trabalho feito pelo PrevFogo e outras instituições que lidam com o manejo do fogo não ocorre no auge da seca: “acontece no fim da época chuvosa, ou quando já começam algumas chuvas, para diminuir o material combustível. Isso não justifica, as palavras do ministro. O pantaneiro tem o hábito de queimar para reduzir o material combustível, mas na época correta”, disse a especialista.
Vale lembrar que na última sexta-feira (11/9), o Observatório do Clima publicou um estudo em que mostrava que, de janeiro a agosto de 2020, o Ministério do Meio Ambiente (MMA), sob responsabilidade do ministro Ricardo Salles, investiu apenas R$ 105.409 mil em políticas ambientais. O MMA foi procurado mais de uma vez pelo Correio Braziliense, mas ainda não se pronunciou.