As praias cariocas lotadas principalmente aos fins de semana nada refletem a grave situação pela qual a capital do Rio de Janeiro (RJ) se encontra na pandemia da covid-19. A taxa de letalidade para a doença no município é mais de três vezes superior do que a mundial. Na cidade maravilhosa, o índice está em 10,7%, o que significa que de dez doentes, pelo menos um vai morrer de coronavírus.
No mundo, a taxa de letalidade, ou seja, a proporção de infectados que vai a óbito, gira em torno de 3,3%, segundo levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O fechamento da análise carioca ocorreu em 26 de agosto, quando a letalidade brasileira estava em 3,7%.
“Essa taxa carioca está muito acima de um valor aceitável”, afirma o o sanitarista Christovam Barcellos, vice-diretor do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz. Segundo Barcellos, a subnotificação e a falta de assistência à saúde adequada são dois fatores que, somados, podem ajudar a explicar os altos valores. “Sabemos de vários casos de pessoas que ficaram com medo de ir aos serviços de saúde e não entraram nas estatísticas. A testagem não faz parte da política municipal de saúde”, explica.
Um desmonte do sistema de saúde pública do município nos últimos dois anos “certamente afetou a atenção primária e de vigilância em saúde”, opina Barcellos. Entre as capitais brasileiras, o Rio lidera o ranking negativo na taxa de letalidade. Também acima de 7% outras três capitais acompanhavam o índice carioca até o 150º dia de epidemia: Fortaleza (8,4%), Recife (7,7%) e Belém (7,2%).
Os altos números da capital fazem do estado ter a maior taxa de letalidade brasileira, atualmente com índices acima de 7%. No entanto, outros municípios colaboram para elevar o índice, inclusive com piores marcas que a capital.
De acordo com dados disponíveis no sistema MonitoraCovid-19, São João de Meriti lidera a fila, com letalidade de 13,7%. Em seguida vem Mesquita (13,6%), Nilópolis (13,5%), Petrópolis (11,5%), Nova Iguaçu (10,5%), Belford Roxo (9,5%) e Duque de Caxias (9,1%). No caso das cidades fluminenses, a taxa utilizada na comparação é a registrada no 130º dia, porque alguns municípios não chegaram ainda a 150 dias da epidemia. No 130º dia, o Rio de Janeiro tinha taxa de letalidade de 11,4%.