Os números atuais indicam uma tendência de queda na média móvel de casos e mortes por covid-19, mas diferentes grupos de pesquisa e análise de dados alertam que os atrasos na inserção dos dados geram um olhar equivocado para o que realmente está acontecendo no momento. Com a falsa impressão de que a infecção está diminuindo, o brasileiro tem deixado de lado cuidados contra o coronavírus, mas a realidade é que o cenário é de um platô em altos índices. São 4.238.446 pessoas atingidas e 129.522 vidas perdidas na luta contra a doença, sendo que, ontem, o Ministério da Saúde contabilizou mais 40.557 casos e 983 novos óbitos.
Nesta semana epidemiológica, apenas em um dia foi registrado um acréscimo superior a mil mortes, fazendo com que a média móvel dos últimos sete dias seja a menor desde meados de maio, quando a pandemia começava a se expandir pelo país. Segundo cálculo do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), com os números atuais, o índice está em 696 óbitos por dia. A média móvel de casos também está caindo com 28.326 registros diários.
A partir de uma ferramenta estatística conhecida como nowcasting, pesquisadores conseguem corrigir os atrasos no sistema de notificação da doença, o que tem mostrado uma realidade diferente dessa impressão. “A aplicação do nosso modelo para o Brasil todo continua mostrando que a tendência do número de novos óbitos está estável. Não está caindo”, avaliou o pesquisador, economista e especialista em projeções de dados Henrique Pires, membro da plataforma Covid-19 Analytics.
Modelo estatístico
Professores da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro construíram um modelo de previsão do número de casos e mortes, com o objetivo de apoiar o gerenciamento da crise. “Usamos os dados mobilidade do Google para conseguir analisar como as pessoas estão se movimentando em áreas residenciais, parques públicos etc. É provável que, se a mobilidade em praias aumenta, vamos observar, no futuro próximo, um aumento de novos casos e novos óbitos. Olhando para trás, com essas variáveis, a gente vai conseguir prever o agora”, explicou Pires, durante webinar que reuniu, ontem, diversas iniciativas para debater os panoramas da covid.
Também participante do debate, o coordenador do Infogripe e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Marcelo Gomes, alertou para a importância de se analisar os dados a partir do somatório de indicadores, incluindo as correções, de maneira a obter uma visão real do que está acontecendo no momento. “O que a gente faz hoje vai se refletir pelo menos daqui a duas semanas, em média, em termos de hospitalização ou óbitos. Por isso, a importância de termos esse cuidado de ponderar que, se eu me exponho hoje e me infecto hoje, isso não vai se refletir nos casos hoje, mas lá na frente”, afirmou.
Representa que o ritmo de queda pode estar comprometido pela baixa adesão às medidas de proteção. Pelas análises da plataforma InLoco, não há nenhum estado com índices de isolamento acima de 40% e, na última semana, os níveis ficaram ainda mais críticos, o que pode facilitar a disseminação do vírus e refletir um aumento de casos nos próximos dias. Houve, inclusive, um aumento da taxa de contágio com o fechamento da semana 36.
Apesar de os especialistas indicarem mais cautela para analisar as curvas da doença no Brasil, o Ministério da Saúde indicou, ontem, dados que reforçam a visão de que há uma diminuição de casos graves da doença. Segundo o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos, Hélio Angotti Neto, houve queda no consumo de medicações ligadas à intubação orotraqueal. “Essa queda tem se mantido estabilizada já por algumas semanas, e isso nos foi informado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Lembramos que isso ocorreu após a orientação do Ministério da Saúde para o tratamento precoce. Isso, para nós, é um sinal positivo e importante”, disse.
Com a falta de controle da transmissão do vírus, 23 estados atingiram a marca das mil mortes –– Mato Grosso do Sul foi o último a atingir este patamar. No topo da tabela, São Paulo e Rio de Janeiro são as únicas unidades federativas com mais de 10 mil mortes: o primeiro lidera o ranking de mortes pela covid-19, com 32.104; o segundo tem 16.871 vítimas fatais.
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