Ainda que às custas de 3.532.330 de infectados e 113.358 vidas perdidas pela transmissão descontrolada da covid-19, o Brasil pode ter algumas localidades que começam a demonstrar os primeiros sinais de que atingem a chamada “imunização coletiva” –– quando a parcela da população infectada é suficiente para que as curvas de novos casos e mortes comecem a cair. Faltando um dia para o fechamento da semana epidemiológica 34, o país mostra sinais de desaceleração da infecção e um platô em altos patamares de mortes.
Mesmo com a flexibilização das medidas de distanciamento físico, cidades como Manaus, Rio de Janeiro, Fortaleza e São Paulo são locais que não mostraram uma volta significativa de aumento de novas infecções, e que são objeto de estudos do grupo de pesquisa liderado pela biomatemática portuguesa Gabriela Gomes, da Universidade de Strathclyde, na Escócia. O grupo, que inclui pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), foi um dos primeiros do mundo a apontar que o limiar de imunização coletiva gira em torno de 10% a 20%, bem abaixo dos 60 a 70% estimados no início da pandemia.
Isso porque os pesquisadores consideram que, assim como ocorre no caso da malária ou da tuberculose, a população não fica suscetível ao novo coronavírus de maneira homogênea. “Chegamos à conclusão de que essa heterogeneidade pode alterar muito os resultados e em um sentido positivo. O limiar da imunidade coletiva também deverá ser menor do que aquele que os modelos clássicos indicam”, afirmou Gabriela durante o seminário online promovido pela Agência Fapesp e pelo Canal Butantan.
Longe de ser uma realidade em todo o território nacional, este limiar não pode ser relacionado a um fim imediato da epidemia, mas pode auxiliar na diminuição de novos contágios. “Para isso, é preciso controlar os surtos que vão surgindo de forma localizada e adotar medidas como o rastreamento de contato”, explicou Gabriela.
A média no Brasil, hoje, está em 35,8 mil casos e 1.021 óbitos por dia, sendo que, para fechar a semana epidemiológica 34, precisaria registrar, hoje, mais 89,4 mil infecções e 629 vidas perdidas. A situação é diferente nas diversas localidades brasileiras, mas, naquelas em que há uma inflexão da curva, pesquisadores avaliam indícios de alcançar a imunização de rebanho.
Balanço
O Brasil confirmou, nesta sexta-feira (21/8), mais 30.355 casos e 1.054 mortes pelo novo coronavírus, segundo o Ministério da Saúde. Continua o segundo país com mais vítimas e casos da doença no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
Com um território quase todo tomado pela covid-19, mais da metade das unidades federativas já acumula mais de 100 mil casos da doença. Apenas Mato Grosso, Alagoas, Sergipe, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Amapá, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Acre têm menos do que 100 mil infecções.
Quando se olha para o ranking de óbitos, a maioria dos estados confirmou mais de mil mortes. Ao todo, 22 unidades federativas integram essa lista. Quem lidera o ranking brasileiro é São Paulo, com 28.155 óbitos pelo novo coronavírus. O Rio de Janeiro é o segundo com mais fatalidades, com 15.202 vítimas da doença. Os dois são os únicos estados que têm mais de 10 mil vidas perdidas.
Em seguida estão Ceará (8.268), Pernambuco (7.335), Pará (6.037), Bahia (4.757), Minas Gerais (4.663), Amazonas (3.556), Maranhão (3.328), Espírito Santo (3.000), Rio Grande do Sul (2.993), Paraná (2.928), Mato Grosso (2.492), Paraíba (2.268), Goiás (2.647), Rio Grande do Norte (2.154), Distrito Federal (2.242), Alagoas (1.802), Sergipe (1.761), Santa Catarina (1.995), Piauí (1.672) e Rondônia (1.050).
No pé da tabela estão Mato Grosso do Sul (696), Amapá (627), Acre (598), Roraima (576) e Tocantins (556).