Armados com arcos e flechas, dezenas de indígenas prometeram nesta quinta-feira (20/8) manter indefinidamente o bloqueio na rodovia mais importante na Amazônia até que as autoridades enviem ajuda para combater o desmatamento e o avanço da covid-19 nas aldeias.
Membros do povo kayapó mekranoti estão alocados desde segunda-feira na BR-163, que atravessa a Amazônia brasileira, na altura do povoado de Novo Progresso, no Pará.
No entanto, agora prometeram intensificar a barricada e não deixar passar nenhum caminhão, como vinham permitindo de tempos em tempos nas últimas 48 horas.
"Nós vamos ficar aqui direto, até que os representantes do governo venham aqui para falar conosco", disse à AFP Mudjere Kayapó, um dos líderes do protesto.
A estrada é a principal artéria rodoviária para escoar as produções de milho e soja, dois dos principais produtos de exportação do Brasil, vindos da região central do país.
Uma juíza federal ordenou que os manifestantes se retirassem, argumentando que a ação causou prejuízo econômico.
Um recurso foi rejeitado nesta quinta-feira, e a juíza ordenou à Polícia Federal que retirasse os manifestantes caso não cumpram a decisão.
Os kayapó mekranoti alertaram que isso poderia resultar em violência.
"Nosso manifesto é pacífico, não queremos brigar. Não aceitamos o Exército, a Polícia Federal ou Polícia Militar vir aqui nos tirar à força. Desse jeito vai ter sangue derramado nesse asfalto. Estamos aqui defendendo a proteção da Amazônia, a proteção do nosso território", disseram em carta dirigida à Fundação Nacional do Índio (Funai).
Com cocares e corpos pintados, os indígenas queimaram um documento enviado pela Funai, no qual a fundação recusava algumas das reivindicações, e lhes pedia paciência sobre outros assuntos.
Os kayapó mekranoti exigem que o governo de Jair Bolsonaro libere fundos para compensar os danos ambientais que a estrada causou em suas terras.
Eles também querem ajuda no combate ao garimpo ilegal, ao desmatamento e à propagação do novo coronavírus, que atinge fortemente os povos indígenas no país.
No Brasil, país com a segunda maior taxa de mortalidade pela pandemia, mais de 26 mil indígenas foram contaminados com o vírus e outros 690 morreram causa dela, de acordo com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).
"A saúde indígena está cada vez mais fraca (...) Estamos aqui defendendo a proteção da Amazônia, a proteção do nosso território. O governo quer abrir as terras indígenas para projetos que são ilegais, como garimpo, extração de madeira e arrendamento de pasto em nossas terras. Isso nós não aceitamos", ressaltam.