Estudo aponta que a obesidade aumenta risco de morte pela covid em até quatro vezes

Homens, obesos e com menos de 60 anos têm taxas de risco aumentadas

Desde que a covid-19 foi descoberta estudos apontam alguns grupos de pessoas especialmente vulneráveis a quadros mais graves da doença. Apesar da taxa de mortalidade em geral não ser alta, 3,7% de taxa de mortalidade global, grupos de risco como doentes cardíacos, portadores de doenças auto imunes e pessoas idosas ficam mais vulneráveis a quadros mais graves da doença. Um estudo realizado nos Estados Unidos aponta que pessoas obesas podem ter até quatro vezes mais risco de morte quando contaminadas com a covid-19. Os dados foram publicados na revista "Annals of Internal Medicine". Ao todo foram analisados dados de 5.652 pessoas positivas para a doença entre fevereiro e março.


O doutor Pedro Pinheiro, cirurgião do Aparelho Digestivo do Hospital Anchieta de Brasília, explica que a obesidade é um fator preocupante em pacientes com o novo coronavírus. De acordo com o especialista, a pessoa considerada obesa tem um acúmulo de tecido adiposo e isso é prejudicial a longo prazo, pois estimula a inflamação no corpo. "A covid é uma doença que gera um alto estado inflamatório, então esse paciente obeso é mais suscetível a ter uma resposta inflamatória muito exagerada. Por isso que o paciente obeso está associado a um risco maior. A obesidade é um fator de risco para um desfecho ruim", alerta o profissional.


De acordo com o médico, a obesidade é graduada entre grau um, dois ou três, ou leve, moderada ou grave, essas graduações levam em conta, normalmente, o Índice de Massa Corporal (IMC). "Temos a definição da obesidade é quando a pessoa está acima do seu peso considerado ideal de acordo com os estudos populacionais", complementa. Você tem que imaginar que o corpo humano é uma máquina, compara o médico, que explica que a obesidade gera uma sobrecarga no corpo, o que acaba em algum momento o corpo acaba não conseguindo dar a resposta adequada. "Essa resposta não é da noite para o dia como uma apendicite, por exemplo. A obesidade vai agindo aos poucos, é uma doença crônica", explica o médico.


Dr. Pinheiros pondera que os pacientes obesos acabam tendendo a ter doenças que não são comuns na idade dele, no caso de pacientes jovens, como a diabetes, a pressão alta, apneia do sono, problemas cardíacos. Essas comorbidades que a obesidade pode trazer são mais um fator de risco, alerta o especialista: "Essas comorbidades por si só são graves, fatores de risco. Muitas vezes o obeso é hipertenso, diabético, tem insuficiência cardíaca, tem tudo isso associado".


“Dois terços dos pacientes foram hospitalizados e 43% foram ventilados. Pacientes com IMC maior que 40 kg / m2 tiveram maiores taxas de mortalidade em geral, e aqueles com IMC maior que 45 kg / m2 tiveram uma razão de risco de 4,18”, diz o material publicado. “O mais impressionante, entretanto, é que aqueles com menos de 60 anos tiveram taxas de risco aumentadas de 12 para 17 versus 1 para 3 se fossem mais velhos”, complementa o texto. De acordo com o médico, esse é um fator que tem uma explicação. “Isso é um fato que descobrimos. Para algumas doenças, como o infarto do miocárdio, em uma pessoa jovem, a chance de evoluir a óbito é muito maior do que em uma pessoa mais idosa”, revela. Ele explica, que nesse caso, por exemplo, o corpo do idoso acaba sendo mais tolerante, criando uma espécie de adaptação do corpo a situação adversa, o que não acontece com os mais jovens.


Outro dado é que o IMC elevado aumentou o risco nos homens mais do que nas mulheres. O médico explica que a obesidade no homem tende a ser uma obesidade abdominal. “O que acontece que o homem costuma ter uma barriga grande, concentrar o tecido adiposo em excesso no abdômen e isso sabemos que é prejudicial”, explica o médico. “A mulher acumula tecido adiposo no abdômen, mas menos que o homem e mais nos membros, especialmente nos membros inferiores”, pontua. “Falamos muito do IMC, mas temos que falar também da circunferência abdominal. Quanto maior esse circunferência, maior o risco de doenças cardiovasculares e de um desfecho ruim”, alerta.


De acordo com um boletim do Ministério da Saúde, divulgado nesta quarta-feira (12/8), a quantidade de pessoas obesas mortas pela covid-19 foi de 4.106, destas, quase metade tinha menos de 60 anos — foram 1994 pessoas com menos de 60 anos e outras 2.189 com idade superior aos 60 anos. O dado parece corroborar com a pesquisa que aponta que homens, obesos e com mais de 60 anos seriam especialmente vulneráveis à doença.


“A obesidade é uma doença multifatorial, que tem fatores genéticos, ambientais, comportamentais, vários fatores associados a ela”, pontua o especialista. Ele explica que grande parte dos casos tem relação com o estilo de vida, que atualmente gasta menos energia comparado há anos atrás, e a qualidade alimentar. “O principal é a qualidade do que nós comemos, a quantidade e o gasto energético”, pontua o médico. “É lógico que há fatores individuais e por isso a gente investiga a causa e essas pessoas precisam de um tratamento específico”, complementa.