Considerada uma das vacinas mais promissoras do mundo contra o novo coronavírus, a imunização desenvolvida pela Universidade de Oxford, em Londres, vai passar a ser produzida no Brasil a partir de dezembro deste ano. Por meio de medida provisória (MP) assinada ontem, o presidente Jair Bolsonaro liberou um crédito extraordinário de R$ 1,9 bilhão para a aquisição e fabricação de 100 milhões de doses em solo nacional. O texto precisa da aprovação do Congresso Nacional em até 120 dias.
Trinta milhões de doses estarão disponíveis entre dezembro e janeiro, enquanto os 70 milhões restantes chegarão ao Brasil ao longo dos dois primeiros trimestres de 2021. No momento, a vacina está em estudo clínico com voluntários em São Paulo, no Rio de Janeiro e na Bahia. Como o produto ainda está na fase de testes, o Executivo assumiu parte dos riscos tecnológicos do desenvolvimento da vacina.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o laboratório farmacêutico AstraZeneca, que realiza as pesquisas da vacina em conjunto com a Universidade de Oxford, já assinaram um documento para que toda a tecnologia de produção seja transferida para o Brasil em caso de comprovação de que o imunobiológico é eficaz e seguro. A partir do sinal verde de que a imunização é capaz de combater a covid, o governo espera lançar uma campanha nacional de vacinação entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021. “Talvez em dezembro, janeiro, exista a possibilidade da vacina, e daí esse problema estará vencido poucas semanas depois”, disse Bolsonaro, na cerimônia de assinatura da MP.
Segundo o Ministério da Saúde, serão repassados R$ 522,1 milhões à estrutura de Bio-Manguinhos, unidade da Fiocruz produtora de imunobiológicos. O objetivo da pasta é ampliar a capacidade nacional de produção de vacinas e tecnologia disponível para a proteção da população. Cerca de R$ 1,3 bilhão são despesas referentes a pagamentos previstos no contrato de encomenda tecnológica.
“Considero que esse acordo seja um avanço para o desenvolvimento de uma tecnologia nacional e uma concreta demonstração do esforço do governo federal de encontrar as melhores soluções para a proteção da população brasileira”, destacou o ministro da Saúde interino, Eduardo Pazuello.
Ataques a Doria
Durante o evento, Bolsonaro voltou a defender a utilização da hidroxicloroquina no tratamento do coronavírus, culpou governadores e prefeitos pelas medidas restritivas adotadas em meio à pandemia e desdenhou de outra vacina em teste no Brasil, a CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac Biontech em parceria com o Instituto Butantan e que tem o aval do governador de São Paulo, João Doria (PSDB). O acordo prevê imediata produção da vacina tão logo sua eficácia seja comprovada. Serão, inicialmente, 100 milhões de doses. Destas, 60 milhões ficarão no Brasil. As demais serão enviadas a Pequim.
“O que é mais importante nessa vacina (de Oxford), diferente daquela outra que um governador resolveu acertar com outro país: vem a tecnologia para nós. E junto com os meios que nós temos, nós temos como, realmente, dizer que fizemos o possível e o impossível para salvar vidas, ao contrário daqueles que teimam em continuar na oposição desde 2018 e dizerem o contrário”, criticou.
Mais tarde, em live transmitida nas redes sociais ao lado de Pazuello, Bolsonaro continuou falando sobre a pandemia. O presidente mostrou indiferença diante das quase 100 mil mortes pelo novo coronavírus no país e falou que é necessário “tocar a vida e encontrar uma maneira de se safar desse problema”. “Pós-pandemia do HIV, o HIV continua existindo, alguns ainda são contaminados, a maioria se trata e a vida que segue. Assim que vai ser também com o coronavírus”, comentou o presidente.