Não se vê aglomeração na praia de Copacabana desde que o Carnaval foi embora. Na época, chegava ao país sorrateiro o novo coronavírus. Na lembrança das areias mais famosas do Brasil, porém, ficam guardados registros como o do Réveillon de 1995, quando o local recebeu público recorde de 3,5 milhões de pessoas para assistir à apresentação do cantor de rock britânico Rod Stewart. A virada deste ano, contudo, não será palco de festa, nem ao menos da tradicional queima de fogos. Exatos seis meses após a confirmação do primeiro caso de covid-19, o país confirmou 3.717.156 de infectados. De lá para cá, o novo vírus levou a vida de 117.666 brasileiros, fazendo com que as multidões em festa fossem substituídas por cruzes simbolizando as vítimas da pandemia.
Foram acrescentados, nesta quarta-feira (26/8), ao balanço da pandemia, mais 1.086 vítimas e 47.161 casos de covid-19. “Estamos enfrentando uma catástrofe humanitária. Enquanto outros países conseguiram controlar a transmissão e reduzir a curva, no Brasil, essa continua sendo a caracterização do impacto da doença nesses seis meses”, analiza o especialista em gestão da saúde da Fundação Getulio Vargas (FGV) Adriano Massuda.
A falta de coordenação centralizada pela pasta da Saúde é a principal causa desse panorama, na visão do especialista, e compromete, inclusive, a atuação na ponta. “Há um descompromisso do governo com o povo brasileiro, a incompetência técnica dessa administração para lidar com o problema. Tudo isso gera uma incapacidade de coordenação. O Ministério da Saúde deixa de ser uma referência e as dificuldades enfrentadas nesse semestre, daqui para frente, serão ampliadas e atravessarão outras áreas, onde o sistema de saúde, antes, tinha condição de funcionar”, critica. Massuda pondera que estados e municípios necessitam de ações localizadas, já que o país vive momentos distintos da epidemia do novo coronavírus.
Atualmente, 22 unidades federativas registram mais de mil mortes cada. Quem lidera o ranking negativo é São Paulo, com 29.194 óbitos. Rio de Janeiro vem em segundo, com 15.700. Em seguida estão: Ceará (8.351), Pernambuco (7.460), Pará (6.097), Bahia (5.116), Minas Gerais (4.948), Amazonas (3.600), Maranhão (3.390), Rio Grande do Sul (3.235), Paraná (3.102), Espírito Santo (3.086), Goiás (2.888), Mato Grosso (2.611), Distrito Federal (2.399), Paraíba (2.371), Rio Grande do Norte (2.215), Santa Catarina (2.142), Alagoas (1.844), Sergipe (1.822), Piauí (1.754) e Rondônia (1.101).
Líder ausente
Sanitarista e criador da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Gonzalo Vecina também elenca a falta de liderança como um dos principais problemas nesses seis meses. “É fundamental a mobilização das vontades das pessoas para enfrentar uma crise e essa mobilização é feita através do exercício da liderança”, indica. Há mais de 100 dias, quem comanda a pasta, como interino, é o general Eduardo Pazuello. Tempo superior, aliás, à soma da gestão dos ex-ministros e técnicos da área de Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Para Vecina, a interinidade é negativa. “Imagino que um cara que é interino tenha uma capacidade de fazer planos de médio prazo muito ruins porque ele sabe que não vai estar aí amanhã, afinal, ele é interino. Enquanto não tiver um ministro definitivo, há certas coisas que não serão feitas.”
Questionado pelo Correio sobre os erros e acertos na condução do combate ao novo coronavírus, nesta quarta (26/8), o Ministério da Saúde salientou que não deixou nenhuma pessoa sem tratamento. “Acho que o primeiro grande acerto é que nós temos o Sistema Único de Saúde (SUS), que foi criado em um esforço coletivo democrático muito importante e que, agora, por conta de toda essa pandemia, está dando provas de toda a sua força e pungência no sentido de não deixar nenhuma pessoa sem tratamento, sem atendimento. Nenhum brasileiro ficou sem atendimento ao longo dessa pandemia”, garantiu o diretor do Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis, Eduardo Macário, em entrevista coletiva. Pazuello não participou.
Ciência
O pesquisador José Alexandre Diniz Filho, professor do Departamento de Ecologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), ressalta a importância da ciência em meio à pandemia. “Não podemos desistir. A ciência continua tentando ajudar na definição de novas estratégias de intervenção, principalmente em termos de avaliar e rastrear casos e contatos, ampliando os efetivos de forma tecnológica, isso associado com testagens em massa e ‘reports’ em tempo real para detectar aumento de casos. Sabemos que, se isso for benfeito, podemos diminuir efetivamente o número de transmissões e tentar controlar a pandemia.”
Anvisa discute registro de vacina
Antes mesmo de uma aprovação oficial da sonhada vacina contra o novo coronavírus, o Brasil já discute como será feito o registro da candidata de Oxford, considerada a mais avançada nos testes e estudos feitos em todo o mundo. Uma reunião entre a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), realizada no último dia 18, definiu que o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) realizará as etapas de formulação, armazenamento e rotulagem da vacina. A intenção do governo federal é de ofertar a imunização de graça ao incluí-la no Programa Nacional de Vacinação. A expectativa é que a assinatura do contrato entre os responsáveis britânicos e a Fiocruz ocorra na primeira semana de setembro para que o país já consiga desenvolver sozinho a vacina em abril de 2021.
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