Dois episódios de racismo, um no Rio de Janeiro e outro em Valinhos (SP), voltaram a chocar o país. Um envolveu o adolescente negro Matheus Fernandes, de 18 anos, que trabalha como entregador de comida por aplicativo, e foi rendido e ameaçado por dois homens que se identificaram como policiais enquanto tentava trocar um relógio que daria para o pai, amanhã, numa unidade das Lojas Renner, dentro do Ilha Plaza Shopping, na Ilha do Governador (zona norte do Rio), na quinta-feira. O outro envolveu outro entregador de comida por aplicativo, que foi desacatado por um cliente e cujo vídeo correu as redes sociais — a ponto de o presidente Jair Bolsonaro se solidarizar com o jovem ofendido.
No primeiro caso, depois de abordar o jovem, os dois homens armados obrigaram Fernandes a sair da loja e seguir até uma escadaria, onde foi ameaçado e teve que entregar a carteira com documentos. Um segurança do shopping presenciou o episódio, mas não interferiu — segundo o shopping, porque a dupla de agressores se identificou como policiais. Após protestos dos clientes do shopping, o rapaz foi libertado e os dois foram embora — a vítima, levando seu cartão bancário.
“Eles vieram falar que eu era suspeito de furto, porque estava com um relógio, mesmo tendo a etiqueta e a nota fiscal. Quando menos esperei, o rapaz da camiseta vermelha me deu uma banda, sacou a pistola, botou aqui (aponta a cabeça). Comecei a gritar, para ver se alguém que me conhecia tomava alguma providência”.
Em nota, a Renner afirmou que “os agressores não integram o nosso quadro de colaboradores ou de prestadores de serviço”. Já a assessoria de imprensa do Ilha Plaza afirmou que “os agressores não são funcionários do shopping tampouco funcionários da empresa de vigilância do shopping”. O caso está sendo investigado pela 37ª DP (Ilha do Governador).
Já o caso de Valinhos aconteceu em 31 de julho, mas só foi divulgado ontem. Um entregador foi agredido verbalmente por um morador de um condomínio de casas, no bairro Chácaras Silvania. As imagens mostram o momento em que o homem ofende o rapaz e diz que ele tem “inveja disso aqui”, apontando em seguida para a própria pele. Chama-o ainda de “semianalfabeto”, diz que ele tem inveja da vida que as pessoas no condomínio têm e arremata afirmando que o entregador não tem onde morar nem “nunca vai ter” o que via no local.
Segundo o motoboy, foi a segunda vez que ele foi destratado ao fazer entrega na casa. O entregador registrou um boletim de ocorrência para denunciar as agressões e o crime de racismo. No dia em que foi insultado, a Guarda Municipal foi chamada e encaminhou todos para a Delegacia de Valinhos.
O pai do homem que ofendeu o rapaz disse que o filho sofre de problemas psiquiátricos e que provaria isso no curso do inquérito. O aplicativo de entrega de comida expulsou o agressor pelo racismo praticado contra o entregador.
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