O secretário-executivo do Ministério da Educação (MEC), Victor Godoy Veiga, foi nomeado para assumir interinamente a pasta nesta quarta-feira (30/3). Ele é o quinto a ocupar o mais alto cargo do órgão que gerencia a educação brasileira. A conta é expressiva e superior a qualquer outro governo no período democrático no Brasil: em três anos de gestão, o presidente Jair Bolsonaro (PL) teve que fazer cinco trocas no comando do MEC, em uma escalada de polêmicas até um suposto esquema de corrupção entre os gestores.
Com a nomeação de Godoy, Bolsonaro ultrapassou o número de ministros da Educação indicados por Dilma durante o segundo mandato interrompido, entre 2015 e 2016 — foram quatro comandantes da pasta indicados pela petista. O primeiro governo da chamada Nova República, após a ditadura militar, teve cinco indicados ao MEC, por José Sarney. No entanto, Bolsonaro já o ultrapassou visto que irá indicar um novo nome para assumir o MEC, e não só de forma interina.
Antes de Godoy, todos os que passaram pela mais alta cadeira da pasta no governo Bolsonaro foram afastados ou pediram demissão após se envolver em polêmicas. Relembre:
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Ricardo Vélez (janeiro de 2019 a abril de 2019)
Ricardo Vélez, o primeiro nomeado pelo chefe do Executivo, foi também o primeiro a marcar a pasta pelos interesses ideológicos. Demitiu, ainda em janeiro de 2019, a presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini, sem motivo aparente. Os secretários-executivos também foram trocados quatro vezes em três meses de gestão.
Além disso, o ministro enviou uma carta para as escolas do país com a orientação de que os alunos fossem obrigados a ler o slogan da campanha de Bolsonaro e que as crianças fossem filmadas enquanto cantavam o Hino Nacional. Vélez também ordenou a criação de uma comissão no Inep para “fiscalizar o conteúdo” do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Por fim, e um dos atos que o levou a queda, foi uma declaração do ex-ministro de que ele pretendia revisar os livros didáticos que contavam a história do golpe militar de 1964 e a ditadura militar no Brasil, em um aceno de que mudaria o teor do conteúdo para dizer que foi uma “revolução” e não um ato ditatorial. Ele foi demitido em 8 de abril de 2019.
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Abraham Weintraub (abril de 2019 a junho de 2020)
Abraham Weintraub foi o segundo ministro da Educação de Bolsonaro. De forte viés olavista, Weintraub marcou a pasta com discursos contrários às minorias e contrários ao STF. Além disso, a edição do Enem liderada por ele foi a primeira com um erro em massa no cálculo das notas dos participantes.
Ele deixou o ministério após ser gravado em uma manifestação de apoiadores de Bolsonaro, em Brasília, com falas contrárias à Suprema Corte.
“Eu já falei a minha opinião, o que eu faria com vagabundo”, diz ele no vídeo gravado. Weintraub fazia uma referência à uma fala dita por ele durante a reunião ministerial de 22 de abril em que falava que “botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”. Ele foi demitido em 18 de junho de 2020.
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Carlos Decotelli (não chegou a tomar posse - 25 de junho de 2020 a 30 de junho de 2020)
Pouco depois, Bolsonaro escolheu Carlos Decotelli para substituir Weintraub em 25 de junho de 2020. O nome deveria ser uma forma de apaziguar os ânimos e encerrar a crise causada pelo ex-ministro: um nome de um professor, mestre, com doutorado em uma universidade da Argentina e pós-doutorado na Alemanha.
Um perfil altamente técnico e não ideológico, foi o que o governo queria pontuar. No entanto, cinco dias depois, Decotelli deixou o cargo por incitar uma nova crise, dessa vez por dados falsos no currículo. Ele foi desmentido pelo próprio reitor da Universidade de Rosário, que informou que o professor não era doutor por ter a tese reprovada na instituição.
Além disso, a Bergishe Universität Wuppertal, na Alemanha, instituição em que Decotelli supostamente teria completado o pós-doutorado, emitiu uma nota em que diz desconhecer o título.
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Milton Ribeiro (junho de 2020 a março de 2020)
Decotelli foi substituído por Milton Ribeiro, um pastor presbiteriano que prometia um comando baseado no estado laico. Por fim, foi destituído do cargo por envolver dois pastores da Assembleia de Deus na pasta, em um esquema ilegal de dar preferência ao repasse de recursos para prefeitos que negociaram com os religiosos.
Os gestores dos municípios afirmam que os pastores pediam entre R$ 15 a R$ 40 mil — e até mesmo 1 kg de ouro — apenas para protocolar o pedido na pasta.