Os discursos favoráveis de líderes partidários da Câmara e de parlamentares de diversas legendas pelo fim do voto secreto para os casos de cassação de mandatos não afastam a necessidade de uma negociação cuidadosa para que a matéria seja aprovada. Mesmo após a fatídica noite na qual o plenário manteve o mandato de Natan Donadon (sem partido-RO), apesar de estar preso por formação de quadrilha e peculato, lideranças políticas lembram que são necessários dois terços dos votos em plenário para acabar com o sigilo nas decisões. ;A votação do Donadon mostrou que não somos nós que temos o quórum qualificado (maioria na Casa). São eles (os que defendem a manutenção das coisas como estão);, afirmou o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO).
A preocupação de Caiado procede. Donadon acabou absolvido após uma conjunção de fatores que envolveram o PMDB, o PT, os evangélicos e parlamentares do baixo clero, pouco dispostos a mudar qualquer situação que lhes seja desfavorável. A própria tramitação da proposta na Casa mostra a tendência à letargia. A proposta de emenda constitucional aprovada pelo Senado chegou à Câmara em julho do ano passado e foi encaminhada para a Comissão de Constituição e Justiça em 14 de agosto de 2012. Mesmo com um relatório elaborado pelo deputado Alessandro Molon (PT-RJ) em novembro do ano passado, o texto só foi aprovado pelos deputados na CCJ no final de junho, após a pressão das ruas.
Ao mesmo tempo, o cientista político acredita que o desgaste causado pela manutenção do mandato de Donadon pode servir para pressionar o Congresso a votar a matéria. A cobrança popular deve se estender também ao Palácio do Planalto, observa Schmidt. ;É bom lembrar que o governo se beneficia do voto secreto quando tem matérias de interesse na pauta.;
Na avaliação de Ricardo Caldas, o resultado sobre o mandato de Donadon evidenciou, sem qualquer equívoco, o que vale mais para deputados e senadores. ;O espírito corporativo prevalece sobre a visão da sociedade e da Justiça;, resume o cientista político, ao lembrar que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pela suspensão dos direitos políticos do deputado de Rondônia.
Para Pedro Abramovay, ex-assessor jurídico do Ministério da Justiça e professor da FGV Direito Rio, são muito claras as razões pelas quais não há vontade política para acabar com o segredo nas deliberações do Congresso. ;O voto secreto é uma ferramenta para garantir os benefícios a grupos econômicos, os interesses particulares e as negociações escusas;, critica.
Abramovay considera importante que a população cobre a votação do projeto que acaba com o voto secreto ; já aprovado no Senado e atualmente na Câmara. ;Todos os deputados que não se empenharem para aprovar essa proposta devem ser cobrados e responsabilizados pela decisão de manter o mandato do Donadon.;
O caminho até a aprovação
Confira como é a lenta e árdua tramitação da PEC do Voto Secreto na Câmara
- A PEC do senador Álvaro Dias (PSDB-PR) que extingue o voto secreto nos casos de cassação de mandato chegou à Câmara em 10 de julho de 2012
- A proposta seguiu para a Comissão de Constituição e Justiça para análise em 14 de agosto de 2012
- O deputado Alessandro Molon (PT-RJ) apresentou o relatório em 8 de novembro de 2012
- O relatório foi aprovado em 26 de junho de 2013
Já a comissão especial para analisar a matéria foi criada em 20 de agosto de 2013
Pelo regimento, são necessárias 40 sessões de discussão o que, em tese, estende para o fim de novembro a previsão de votação. O relator da comissão especial, deputado Vanderlei Macris (PSDB-SP), avalia que é possível votar até o fim de setembro
Para aprovação do texto, são necessários pelo menos 11 votos (maioria simples dos 21 deputados que compõem o colegiado)
Caso seja aprovada, a proposta vai a plenário. A votação será feita em dois turnos e precisa de quórum qualificado
(308 deputados favoráveis à aprovação).
Se não houver alterações, a PEC será promulgada. Caso seja aprovada qualquer emenda ; por exemplo, estender o voto aberto para outras votações na Casa, com as eleições para a Mesa Diretora ;, o texto voltará para o Senado