Ao passo em que o Congresso Nacional resiste a discutir o fim do voto secreto, seis assembleias legislativas e a Câmara Legislativa acabaram com o sigilo. Os parlamentares abriram mão da prerrogativa no Acre, no Espírito Santo, no Maranhão, em São Paulo, no Rio Grande do Sul, em Rondônia e no Distrito Federal. A Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) foi a primeira a adotar a medida, em 2001, mas, ancorada pela Constituição, manteve o voto secreto nos processos de perda de mandato.
;O fim do voto secreto é requisito básico para qualquer reforma política. Quem tem o direito de votar secretamente é o eleitor. O eleito tem que votar aberto e ostensivamente para prestar contas do mandato. Quem não tem coragem de fazer isso é um corrupto moral;, alfineta o deputado distrital Chico Leite (PT), autor da proposta de adoção do voto aberto em todas as decisões tomadas pelos parlamentares do Distrito Federal.
[SAIBAMAIS]Com 17 votos a favor, duas abstenções e cinco ausências, a Câmara Legislativa acabou, na última sessão plenária de 2006, com 16 anos de votações fechadas. A proposta de emenda à Lei Orgânica aprovada na Casa prevê apenas uma exceção. No texto, há um artigo que diz que ;quando o sigilo for imprescindível ao interesse público;, a votação poderá ser secreta, desde que o requerimento seja feito por um partido e o pedido seja acatado, em votação aberta, por maioria absoluta.
A tramitação não foi rápida. O deputado Chico Leite apresentou a proposta no início de 2003, mas ela foi rejeitada na Comissão de Constituição e Justiça. Dois anos depois, foi reapresentada. ;Fiz um processo de convencimento, inclusive no meu partido, para conquistar os 17 votos favoráveis ao voto aberto;, afirma o deputado, que agora tenta emplacar uma campanha nacional pelo fim do voto secreto com foco no Congresso.
Sem partido à época, o então presidente da Câmara, Fábio Barcellos, afirmou em entrevistas que encerrava o mandato com ;um ato histórico;. ;Só ratificaremos a democracia no país quando todas as assembleias legislativas passarem a agir como fizemos hoje;, disse, logo após a derrubada do voto secreto.
Seguindo o costume das assembleias legislativas estaduais de seguir as decisões tomadas em âmbito nacional, no Amazonas, segundo a assessoria de imprensa da Casa, a decisão de acabar com o voto secreto só será tomada se a medida for adotada no Congresso Nacional.
Presidente da assembleia do Piauí, Themístocles Sampaio (PMDB) é contra o fim do sigilo. ;Como derrubar o veto de um governador com o voto aberto? O governador tem muito mais força para impedir a derrubada. Com o voto aberto, o governador tem muito mais condições de fazer pressão sobre os parlamentares;, disse, defendendo o argumento de que o voto secreto dá ao deputado a liberdade de votar como quer e não de acordo com a preferência do Executivo. Na assembleia de Rondônia, a discussão acabou em 2006, com a aprovação de uma emenda à Constituição Estadual, prevendo voto nominal nas votações para vetos e cassações.