A tecnologia chegou para ficar na educação, mas não é a única tendência que tomará conta das salas de aula. Um currículo mais flexível, que inclua metodologias ativas, para incentivar a participação e o engajamento dos estudantes nas atividades, é o caminho apontado por especialistas para alcançar os objetivos de aprendizagem.
O Correio ouviu especialistas, mapeou as 10 principais tendências e explica como elas podem ajudar a fazer a educação dar certo em 2018. Nas próximas páginas do especial, as reportagens aprofundam algumas delas e indicam soluções para tornar o ensino mais atraente.
1. Flexibilização do currículo
A doutora em pedagogia pela faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB) Edileuza Fernandes da Silva aponta a flexibilização do currículo escolar como uma das tendências para a educação. “O intuito é abrir espaço para trabalhar os temas emergentes da sociedade, entre eles, os direitos humanos, a igualdade social, a sustentabilidade, as questões de gênero e a tecnologia”, afirma. Para a pedagoga, os temas destacados fazem parte da vida dos estudantes e precisam ser contemplados pela grade curricular das escolas. Ainda de acordo com Edileuza, existe a possibilidade de o ensino ser adaptado a características individuais. “É preciso repensar o processo didático e diversificar as abordagens de avaliação a fim de atender às necessidades específicas de cada aluno”, defende.
2. Uso coerente da tecnologia
Cada vez mais, o ensino tradicional virá aliado ao uso das novas tecnologias de informação e comunicação. O objetivo é colocar em prática a teoria aprendida em sala de aula. Os estudantes são, por exemplo, estimulados a acessar a internet por meio de celulares, tablets ou notebooks para realizar pesquisas acadêmicas. Com isso, estimula-se o desenvolvimento do pensamento crítico, a capacidade de argumentação e incentiva-se as atividades em grupo. Para essa estratégia se tornar realidade, os professores precisam se capacitar e saber explorar as ferramentas tecnológicas. Também é essencial que as escolas forneçam a infraestrutura necessária.
3. Incentivo à solidariedade
Em 2018, não há mais espaço para preconceitos. A solidariedade deve ser contemplada pelo currículo escolar para ser praticada pelos alunos. A criança e o jovem precisam perceber o contexto em que estão inseridos. O papel das escolas é o de desenvolver metodologias de ensino que contribuam para a formação ética e social dos estudantes. “É necessário que as instituições capacitem os jovens para que eles saibam conviver em harmonia com outras pessoas, aprendam a ser tolerantes”, destaca a doutora em pedagogia Edileuza Fernandes da Silva.
4. Ampliação dos espaços escolares
A aprendizagem deve transpor as barreiras da sala de aula. Ela pode continuar a ocorrer em espaços escolares convencionais, mas também toma conta de lugares não convencionais, como pátios, corredores, jardins, quadras de esportes, salas de cinema e laboratórios. Especialistas em pedagogia e em educação afirmam que, para tornar o ambiente de ensino mais dinâmico e favorecer atividades em grupo e debate, é necessário reorganizar a turma em rodas de conversa ou em outros formatos que fujam das tradicionais carteiras enfileiradas.
5. Exercício de diálogo e de escuta
“É preciso praticar um diálogo em que as pessoas saibam se expressar, e que também percebam a necessidade de escutar diferentes pontos de vista sobre um mesmo assunto”, defende Patricia Mota Guedes, gerente de pesquisas e desenvolvimento da Fundação Itaú Social. Para ela, o ensino e a aprendizagem não devem ocorrer de maneira individual, mas, sim, em conjunto com a turma. “Diferentemente de um formato tradicional de debate — que quem ganha é quem fala mais e tem melhor capacidade de argumentação —, é necessário ter um aproveitamento da atividade, no caso, estimular os alunos a refletirem sobre o tema proposto”, afirma a especialista.
6. Qualidade na saúde física e psicológica
A saúde física e mental dos alunos é fundamental para garantir o aprendizado. Para Patricia Mota Guedes, o Estado precisa participar desse quesito. “A criação de programas governamentais teria como público-alvo as crianças e adolescentes de baixa renda e que fazem parte de um contexto social violento. São jovens que vivem sob estresse e moram em lugares perigosos”, argumenta Patrícia, que alerta ainda para o impacto negativo que esse contexto social pode causar no desempenho escolar. “É uma tendência importante para o desenvolvimento e o bem-estar do sujeito”, completa.
7. A vez dos games
A gamificação é outra tendência para a educação nos próximos anos. Segundo Alexandre Barbosa, gerente do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), por meio de jogos de tabuleiros, cartas ou de games, é possível avaliar as principais habilidades dos alunos, pois o feedback é instantâneo. “É cultural no Brasil proibir o uso da tecnologia em sala de aula, o que é um erro. Os estudantes podem usar as ferramentas tecnológicas para aumentar os conhecimentos deles”, afirma.
8. Power pupils em ação
Os power pupils, estudantes empoderados e agentes de transformação, são crianças e jovens que estão tomando conta das salas de aula. A diretora do Instituto Inspirare, Anna Penido, afirma que é necessário aproveitar a potencialidade desses alunos. “Os docentes precisam ter um olhar sensível para esses estudantes e não criar apenas máquinas de ‘jovens brilhantes’, mas, sim, aproveitar ao máximo a potência de cada aluno. É necessário criar metodologias que canalizem o empoderamento dessas pessoas”, alerta a especialista em inovações em educação.
9. Metodologias ativas
Estratégias que incentivem a participação dos estudantes também são tendência na educação. Um exemplo são as aulas invertidas, nas quais os alunos já vêm para a sala de aula com um conhecimento prévio sobre o assunto a ser abordado. “Os professores lançam perguntas e os estudantes precisam assistir a vídeos, ler textos em casa, previamente preparados ou selecionados pelos professores. Nesse caso, a aula se torna um momento de tirar dúvidas, fazer descobertas e trocar informações”, afirma o doutor em ciências da educação Júlio Furtado. O especialista ainda ressalta outra metodologia que tem ganhado destaque nas escolas, a baseada em projetos. A proposta é levar para a sala de aula problemas e desafios e oferecer meios para que eles sejam resolvidos. Furtado comenta ainda sobre a metodologia colaborativa, em que os estudantes são motivados a debater e a trocar informações.
10. Empreendedorismo
Incentivar o empreendedorismo nas escolas vai além de formar futuros empresários, significa desenvolver habilidades como criatividade, autonomia, responsabilidade, além da capacidade de resolver problemas e de inovar. “São características e competências que serão muito úteis ao longo da trajetória escolar e acadêmica, bem como para o ingresso no mundo profissional. Trabalhando-as desde criança, você consegue fomentar essas habilidades”, observa o mestre em administração Gilberto Porto. Ele explica que, no ensino de empreendedorismo, os alunos são motivados a buscar soluções para problemas do dia a dia, a desenvolver projetos e, até mesmo, criar produtos.