Veículos

Previsões para 2020 estão mais difíceis

As vendas de automóveis e caminhões, em abril, devem apresentar um tombo histórico em relação a março.

O grau de incerteza vem aumentando à medida que a paralisação das atividades econômicas, em níveis diferentes em cada Estado, se estende por mais tempo em razão do isolamento social adotado devido ao novo coronavírus. São Paulo, maior produtor e consumidor de veículos, continuará com a quarentena até 10 de maio, embora alguma flexibilização possa ocorrer.

As vendas de automóveis e caminhões, em abril, devem apresentar um tombo histórico em relação a março. Existem promoções este mês que adiam o início do pagamento das primeiras prestações, sendo que a Fiat assume cinco prestações para o cliente. Não se sabe em que nível as promoções continuarão em maio, pois depende de fôlego financeiro.

A esperança é que alguns Detrans voltem a operar e isso apareça na estatística de emplacamentos do Denatran. Números muitos negativos desanimam os compradores.

O Brasil já enfrentou redução anual de 41% do mercado interno. Foi em 1981 sobre 1980, em razão da disparada do preço dos combustíveis. Agora mesmo com preço do petróleo em queda livre, os três milhões de veículos previstos devem diminuir entre 28% e 38%, segundo três consultorias (Bright, Francisco Mendes e IHS Markit). Mas vai se recuperar, com otimismo, em até 20% em 2021.

Esses números terão de ser revisados constantemente, pois dependem de quanto a economia brasileira encolherá este ano, estimado em até 5% e também da inadimplência. Daí as dificuldades das previsões. Cássio Pagliarini, da Bright, acredita em aumento de preços.

“Entendemos que não existe escapatória em razão da valorização do dólar, apesar dos incentivos para eliminar os excessos de estoque. Os usados estão sendo comercializados por concessionárias e lojistas abaixo dos preços históricos para fazerem caixa. Locadoras também devem vender frota subutilizada. Para complicar as coisas, isso aumenta a distância de preço entre novos e usados.”

Este problema do dólar atingirá mais profundamente os últimos lançamentos que incorporam vários itens tecnológicos e também os que virão neste e nos próximos anos. Haverá atrasos no desenvolvimento de novos modelos, pois o dinheiro de investimentos terá de ser realocado para sustentação de empregos e promoção de vendas.

Muitas coisas devem mudar na indústria automobilística mundial, passados os efeitos da pandemia Covid-19. O mais provável é um rearranjo das fontes de produção com diminuição progressiva de concentração na China.

Surge, assim, uma oportunidade boa para o Brasil, por sua indústria de autopeças relativamente diversificada. Com a escalada do dólar frente ao real as autopeças nacionais, antes pouco competitivas, poderão ganhar protagonismo. O problema são os itens de maior conteúdo tecnológico porque a escala de produção é fator determinante do preço final.

Por outro lado, fornecedores de primeiro nível (incluídos os chamados sistemistas) podem dar respostas relativamente rápidas, mas aqueles de segundo e terceiro níveis precisarão de ajuda, independentemente de ações governamentais. As próprias fábricas de veículos deverão incentivar alguma produção local de itens mais sensíveis, inclusive os de segurança ativa e passiva, que têm um cronograma obrigatório de implantação dentro do programa Rota 2030.