Jornal Correio Braziliense

Turismo

Casas de encher os olhos

Há muitas regiões que preservam heranças culturais manifestadas pelo conjunto de habitações coloridas, que extasiam os viajantes

;As casas tão verde e rosa, que vão passando ao nos ver passar. Os dois lados da janela, e aquela num tom de azul quase inexistente, azul que não há. Azul que é pura memória de algum lugar;
Trem das cores ; Caetano Veloso



Boa parte das cidades do mundo que se apresentam como polos de turismo tem uma arquitetura comum, com cores monótonas que, muitas vezes, frustram os viajantes. Não por acaso, aquelas que optam por encher os olhos de cores de quem se dispõe a conhecê-las encantam a ponto de despertar o desejo de uma nova visita. Esse colorido que mexe com o imaginário foi cantado em verso e prosa por Caetano Veloso.

Cidades da Noruega, da Itália, da França, de Curação e da África do Sul representam, com suas cores, as memórias da multiplicidade da pintura nos conjuntos de habitações, que mudam até o formato da construção. O colorido é usado como instrumento para facilitar a locomoção, como manifestação cultural, para alívio dos olhos e, claro, para espalhar um clima de alegria. Gosto artístico de antepassados que é preservado pelos novos moradores.

Estudos arqueológicos revelam que construções de até seis mil anos atrás da Ilha de Creta, na Grécia, de cidades egípcias e da antiga Babilônia eram multicoloridas. A diversidade do colorido tinha como significados a proteção dos deuses, fertilidade de plantações, as criações dos animais e a saúde dos moradores, além de atrair bons visitantes. O professor de arquitetura e urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) Frederico Flósculo explica que a tendência de usar o multicolorido nas casas é cultural, e ressalta a diferença entre o gosto antigo e o atual.

;Colorir casas, casarões, bairros é traço cultural marcante, comum em muitas civilizações antigas, tanto nos planaltos asiáticos quanto da América pré-colombiana. Já a civilização moderna segue códigos de cores repletos de combinações despidas de significados religiosos ou mágicos; estão mais associados a preferências visuais, que tendem a uma padronização tediosa, como cinza, bege, cores neutras que são usadas em carros;, afirma o professor.

Contrastes

Apesar de tudo se resumir à cultura, cada povo tem a sua diferenciação. Na Noruega, por exemplo, são os restos de tradições antigas de nórdicos que vivem nas pequenas vilas. São conservadores, amorosos, os moradores de vilarejos de cidades da Itália e de Portugal, que valorizam características medievais, e até mesmo do Brasil. Os tons claros de Paris são a descrição das culturas urbanas ; cidades e vilas ; e revelam um clima acolhedor, pacífico e educado. A Itália, com cores fortes para atração de visitantes, faz contraste com a clareza das montanhas e de plantações.

A manifestação social da África do Sul, por sua vez, está presente nas cores pela identidade que possui. A pintura faz um trabalho essencial na transmissão dessa mensagem, conforme relatado pelo professor da UnB. ;As cores cumprem um papel fundamental para a identidade de um povo. Até hoje, adoramos as nossas cores, nas bandeiras, nos brasões, nos símbolos de nossa pátria, regiões, etnias, famílias e empresas, quando adotamos o tom de tinta para sua identificação. Vermelho e azul determinam contextos políticos e significados ideológicos. Cores são para identificar o bem e o mal.;, explica.

* Estagiária sob supervisão de Vicente Nunes