Jornal Correio Braziliense

Turismo

Para cima, para baixo, para o belo

Construções arquitetônicas que se repetem desde a Antiguidade, as escadas se tornaram obras de arte a céu aberto em cidades pelo mundo. Elas são de diversas formas, tamanhos e alturas



A céu aberto, ligando diferentes níveis, as escadas, quase sempre representações de sucesso e crescimento, são mais que caminhos. Algumas, são belas obras arquitetônicas que resistem ao tempo, guardam histórias e marcam época. Elas são referências culturais e se destacam em cidades pelo mundo. Enquanto umas se tornaram conhecidas por servirem de cenário para filme, outras são prova inegável da perseverança do ser humano em atingir o máximo.

Grandes escadarias marcam a paisagem de antigas e modernas cidades e se tornam pontos turísticos, caminhos para o desconhecido, para a história, para a descoberta. Segundo o arquiteto e urbanista, Haroldo Pinheiro, professor do Centro Universitário de Brasília, Iesb, e ex-presidente nacional do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), elas são mais que uma ponte de acesso. ; Escadaria traz dinamismo ao local. Traz mais visitas turísticas, representa um ícone cultural e vai além do que só ligar um ponto ao outro;, afirmou.
É bem verdade que subir e descer escadas exige boa condição física a depender da quantidade de degraus que levam até o objetivo da visita. Mas, com um pouco de tranquilidade, paciência e seguindo o próprio ritmo, o turista pode desfrutar de cenários diferentes a cada passagem de escalão. Conheça algumas escadarias, com mais de 150 degraus, que levam a pontos turísticos pelo mundo. Cada uma delas, com características que retratam o estilo, as necessidades dos usuários, o modo de vida, o estilo arquitetônico e o modelo urbanístico do local.


Escadaria Selarón, Rio de Janeiro

Na Rua Manuel Carneiro, no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, está a Escadaria Selarón, com 215 degraus e 125 metros de comprimento. Ela foi construída com mais de dois mil azulejos recolhidos por mais de 60 países pelo artista chileno Jorge Selarón. Desses, 300 são pintados à mão pelo artista, que iniciou a obra em 1990. É um dos pontos turísticos mais visitados da Cidade Maravilhosa. A mistura de cores, em que se destacam verde e amarelo, refletem a visão do autor sobre o temperamento do povo brasileiro.

Thiago Felix, estudante de engenharia de software da Universidade de Brasília (UnB), visitou a escadaria no réveillon de 2018 e ficou encantado com a obra e como ela foi moldada. Ele afirmou que o desenho na escadaria representa muito bem a nação brasileira, pelo discernimento de bravura, e persistência. ; É muito bonita, mas o que mais me surpreendeu foi sua história. A maneira como ela foi construída. O Brasil é um berço da miscigenação e não há nada melhor que uma mãe negra para representar a garra do seu povo;, afirmou em referência à imagem retratada nos azulejos.

Santa Teresa fica no alto de uma serra entre as zonas Sul e Central da cidade, que promove uma privilegiada vista para essas áreas. Assim como os bairros vizinhos Glória e Catete, é conhecido pelas construções históricas do século 19, além de elegantes casarões construídos até os anos 1940. O principal diferencial do bairro é ser o único da cidade que manteve o bonde como meio de transporte até os dias atuais.


Escadaria de Potemkin, Odessa

Em Odessa, cidade costeira da Ucrânia, às margens do Rio Negro, está a escadaria de Potemkin ou Richelieu. A obra, com 200 degraus e extensão de 142 metros, foi projetada em 1825 por F. Bolfo e o arquiteto Avraam Melnikov, ganhou fama ao aparecer em uma das cenas do filme O encouraçado Potemkin (1925), do diretor Sergei Eisenstein.

A escadaria é a porta oficial da cidade para quem vem do porto do Golfo de Karkinitsky, no Mar Negro. O monumento mais famoso de Odessa foi construído entre 1837 e 1841 pelo engenheiro inglês Eben Upton, que utilizou grés verde, material feito de argila, grão fino, plástico, sedimentar e refratário, originais da cidade italiana de Trieste. No ano de 1906, um funicular foi construído do lado esquerdo da escada. Restaurada em 1933, o material foi substituído por granito rosa oriundo do Rio Bug Ocidental e os degraus foram cobertos por asfalto. Oito deles foram retirados quando a área do porto foi ampliada, restando os atuais 200.

No alto da escadaria é possível apreciar uma escultura em bronze criada pelo russo Ivan Petrovitch Martos, primeiro monumento erguido na cidade. A estátua representa o primeiro prefeito, Armand Emmanuel Sophie Septemanie du Plessis, o Duque de Richelieu. A escadaria, cujo nome original é Primorsky, foi rebatizada em 1955 para comemorar os 30 anos de aniversário do filme. Odessa está localizada ao noroeste da Península da Crimeia, é a quarta maior cidade do país, com pouco mais de um milhão de habitantes.

* Estagiária sob supervisão de Taís Braga