Jornal Correio Braziliense

Turismo

Há vida em Dollol



As condições inóspitas sugerem um ambiente impróprio para a sobrevivência humana, mas há uma população caracterizada como nômade, já que ocupa a região de forma semitemporária. Os Afars se adaptaram ao clima, ao terreno e às dificuldades. Moram em cabanas de madeira na aldeia chamada de Hamadela. Sobrevivem pelas atividades do comércio de sal extraído das lajes e a criação de rebanhos de cabras, burros e camelos, que transportam o produto até o mercado.

Gustavo Baptista, professor da Universidade de Brasília ; UnB, associado do Instituto de Geociências e especialista em Sensoriamento Remoto, explica que diversos fatores influenciam na alta temperatura do local. A área desértica recebe apenas 100-200mm de água de chuva por ano. Por esse motivo, os moradores vivem com o que é fornecido pelo único rio da região, o Awash. Além da temperatura, a umidade de 60% e os gases nocivos que são exalados das piscinas de enxofre, que são comparadas a pequenos hades (infernos de fogo). Porém, não só as substâncias presentes na cratera fazem do lugar o mais quente do mundo.

;A profundidade que a depressão se encontra, a 120 metros abaixo do nível do mar, tende a dificultar a circulação de ventos. Em 2018, houve índice zero de vegetação, porque a água é uma salmoura densa, que mais parece um gel e sua acidez é muitíssimo elevada. Isso impede o desenvolvimento de matas. Por ser um deserto salino, a umidade do ar fica retida no sal tornando o ambiente ainda mais seco, além de estar numa zona na qual ocorre a divergência de duas grandes células de circulação atmosférica que determina a presença dos maiores desertos do mundo, a cerca de 30; de latitude tanto norte como sul;, afirma o especialista.

Baptista alerta para o risco de explosões no local diante das características do vulcão, que tem cerca de 900 milhões de ano, 1.450 metros de diâmetro e continua aberto, com a presença de ácidos. ; Como essa depressão foi alagada diversas vezes nos últimos 200 mil anos pelo Mar Vermelho, ela é coberta por uma carapaça de sal com cerca de 2km de espessura. É um local de encontro de três grandes falhas, há chances de romper e de se agravar;, explica. (TC)