Turismo

Tecnologia aliada aos serviços de hospedaria e turismo

Cada vez mais as atividades turísticas contam com facilidades tecnológicas para ganhar eficiência. Inaugurado na China, o hotel FlyZoo "contratou" robôs para servirem aos hóspedes. Mas há a opção de atendentes humanos

Geovanna Alves*
postado em 06/04/2019 10:00

Hotel FlyZoo, na China, onde tudo é robotizado.

Os filmes de ficção científica costumam projetar um futuro em que todo o trabalho é realizado por máquinas. Em Wall-e, animação da Pixar, os seres humanos povoam um planeta completamente automatizado, onde homens e mulheres desfrutam dos serviços robotizados. Parte desse futuro imaginado por roteiristas faz parte do presente e é possível conhecer durante as férias. Quase uma viagem ao mundo da ficção científica. O hotel FlyZoo, na China, é a estreia no setor hoteleiro do grupo Alibaba, um gigante chinês do comércio eletrônico.

As chaves e até mesmo os modernos cartões e pulseiras que abrem as portas dos quartos podem ser esquecidos. Quase tudo necessita de reconhecimento facial para ser acessado. Os recepcionistas foram substituídos por pódios eletrônicos que acolhem os hóspedes durante o check-in, fazendo uma análise dos rostos e dos cartões de identificação. O reconhecimento facial também é necessário nos elevadores que levam os hóspedes para o andar correto.

A tecnologia está nos apartamentos. Para abrir e fechar cortinas, mudar a temperatura do ambiente, ajustar as luzes ou pedir serviço de quarto, basta lançar um comando de voz. O pedido no restaurante pode ser feito por um aplicativo móvel do hotel. Os garçons foram trocados por robôs em forma de cápsula, prontos para entregar a refeição escolhida. Nem mesmo o bar foge da inteligência artificial: um braço mecânico é o mixólogo que prepara mais de 20 drinks diferentes. Se quiser ser servido no quarto, seja comida ou novas toalhas, robôs em forma de disco farão o serviço.

Homem sentado na cama de hotel
Em coletiva de imprensa, o diretor executivo do Alibaba Future Hotel Management Andy Wang afirmou que se trata de uma questão de eficiência do serviço e consistência do mesmo. ;Os robôs não são perturbados pelos humores humanos. Às vezes, dizemos que não estamos com vontade, mas os robôs estarão sempre de bom humor;, explica. Segundo ele, a indústria do turismo precisa de uma transformação digital.

Competências


Mas não se assuste, seres humanos ainda trabalham no hotel. Alguns cozinheiros, camareiros e recepcionistas recebem os hóspedes que recusam o reconhecimento facial. Wang garante que esses dados são imediatamente apagados do sistema após o check-out, feito com um clique na aplicação móvel. De acordo com o professor Pedro Henrique Albuquerque, coordenador do Laboratório de Aprendizado de Máquina em Finanças e Organizações da Universidade de Brasília (UnB), existem muitas atividades que são impossíveis de serem totalmente substituídas por inteligências artificiais.

;Qualquer atividade, não só na área de turismo como em corporações no geral que atuem com habilidades e competências envolvendo: empatia, cuidados pessoais, que exijam um elevado nível de cognição e/ou muita variedade no conjunto de atividades exercidas, têm baixo potencial de automação ou robotização. Atendimento ao consumidor e registro de reclamações são exemplos de serviços que têm baixo potencial de automação, mas indicação de lugares para visita, reservas de quartos, sugestões de passeios podem ser facilmente realizadas por sistemas especializados;, explica.

Inaugurado em 18 de dezembro do ano passado, o FlyZoo fica na cidade de Hangzhou, a 170km de Xangai. A diária custa a partir de U$ 278.

Homem em frente a painel de elevador em hotel
O professor Pedro Henrique acrescenta que a automatização no turismo é utilizada desde a pesquisa do hotel à montagem dos roteiros. ;Elaboração de um pacote de turismo com locais a visitar, passeios sugeridos, por exemplo, podem ser customizados para os clientes da mesma maneira que o Netflix customiza suas sugestões de filmes;, afirma. Segundo o professor, essa automatização é uma tendência em todas as organizações.

Existem, porém, prós e contras. Para o empregador, um ponto positivo é que as atividades exercidas pelas firmas tendem a ser mais eficientes e produtivas, sem custos adicionais como impostos trabalhistas, greves, faltas e etc. Os contras envolvem a escassez de profissionais aptos no desenvolvimento e automação de serviços e processos, além de barreiras jurídicas, já que algumas profissões não podem ser automatizadas ou eliminadas sem regulamentação apropriada. Barreiras sociais também podem ser um problema, como, por exemplo, pessoas de idade avançada que podem ter dificuldade com os serviços robotizados, ou pessoas que preferem tratar diretamente com um ser humano na hora de fazer um cancelamento ou registrar reclamação.

Do ponto de vista do empregado, segundo o especialista, os pontos positivos são tarefas maçantes e repetitivas que devem desaparecer, possibilitando maior tempo para o desenvolvimento de atividades cognitivas e resolução de novos problemas. Um dos pontos negativos para o empregado é que os profissionais com baixo nível de capacitação e cujas atividades sejam pouco variadas e repetitivas tenderão a perder os empregos.

* Estagiária sob supervisão de Taís Braga

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