Tóquio ; Da janela do avião, em dias claros, impressiona a visão nítida do Monte Fuji, que parece encostar no céu com seus 3,7 mil metros e traz, de imediato, à lembrança, uma página de ;folhinha; colorida. Dá uma alegria danada, pois são muitas horas de voo do Brasil até o País do Sol Nascente ; mais de 30 horas, dependendo do ponto de partida. Os olhos arregalam, o coração acelera, pois, em poucos minutos, estaremos pousando no Aeroporto Internacional de Haneda, distante 40 minutos da capital.
A caminho do hotel, na região de Ikebokuro, travamos contato em solo de 13 milhões de habitantes, famosos pela organização. A primeira impressão ; e última também ; é de que a cidade é ;feita; mesmo para funcionar, atendendo o cidadão com transporte coletivo diversificado e amplo, avenidas largas, viadutos quilométricos e oferecendo limpeza absoluta e serviços perfeitos. A frota que se vê nas vias públicas, sem buracos, parece reluzir, dá gosto. É claro que tudo tem dois lados, não há perfeição absoluta, mas, em poucos dias, o turista terá o que procura: passeios, lazer, cultura e diversão na megalópole, onde diversas culturas se encontram.
Para ilustrar a última frase, uma história curtinha. No dia seguinte à nossa chegada, já ambientados no hotel, estávamos de papo com Mohamed, o simpático recepcionista egípcio, quando chegou uma jovem chinesa, que não falava nada de japonês, nem de inglês. Tranquilo e sereno, procurou ajudar a turista, mas a conversa não rendia.
Pois não é que, de repente, um jovem louro norte-americano, então entretido com a leitura de seu livro, se levantou, pediu licença e perguntou se poderia ajudar. Ao ouvir a resposta afirmativa, ;claro;, ele se entendeu com a jovem em chinês e resolveu tudo. No fim do diálogo, Mohamed brincou: ;Quem sabe ele vem trabalhar aqui?; e concluiu: ;Viajantes...estamos acostumados;. A cena serviu para nos integrar à cidade e tentar desbravá-la.
É como se a modernidade tivesse sua morada em Tóquio. Prepare-se para ver um balé de viadutos, que se cruzam no vazio com saídas múltiplas para vias largas como um tapete de arranha-céus. Os shopping centers, muitos deles temáticos, se impõem por toda a capital, em construções exclusivas que os abrigam, ou em prédios comerciais que chegam aos 60 andares.
Bairros temáticos
Neste passeio, que mostra o valor do traço moderno da arquitetura e da engenharia, não deixe de conhecer a beleza muito particular da área metropolitana de Tóquio. A capital está situada em uma grande baía banhando províncias como Chiba, que abriga importantes áreas industriais e de produção de tecnologia, a exemplo de Kimitsu e Futsu. Túneis monumentais erguidos debaixo d;água dão acesso a esses locais e desembocam em viadutos que surgem como moldura de um retrato de impressionante simetria da cidade. A vista exibe o primor da inteligência e do melhor que a matemática e a física podem fazer pelo homem dos tempos modernos.
Até mesmo no trânsito carregado do fim da tarde, embora organizado e fluindo, em geral sob inacreditável silêncio, faz parte do roteiro da visita conhecer o cruzamento que ganhou fama no Japão. No Bairro de Shibuya, a multidão passa pelos sinais compostos de oito ruas imperturbável e sem vacilar. Nós, os estrangeiros, sim, nos perdemos naquele emaranhado de faixas pintadas no asfalto e de sinais. Para os brasileiros, trata-se de uma verdadeira aula de civilidade.
Voltando à cidade de última geração, o turista poderá desfrutar de um calendário de visitas a zonas como que estruturadas em temas de consumo e hábitos. No distrito de Taito, Asakusa, com seu templo Asakusa Kannon, mais conhecido como Senso-Ji, reconstrução do templo budista mais antigo do país, mostra aos visitantes a riqueza cultural e arquitetônica do país dos samurais.
Datado de 628 d.C., em homenagem à deusa da compaixão (Kannon), Senso-Ji sucumbiu à Segunda Guerra Mundial, tendo sido reconstruído com suas estátuas originais do século 7. É também no Bairro de Asakusa que se comemora o carnaval brasileiro e o turista pode encontrar grande variedade do artesanato típico local.
Se deseja conhecer mais do ambiente dos animês, mangás e games, não perca a oportunidade de conhecer o dia a dia e os cafés do chamado bairro dos eletrônicos, Akihabara. Para conhecer a Velha Capital, Kyoto, é preciso de tempo e de organizar a viagem no trem-bala. São mais de 450 quilômetros de distância entre as duas cidades.
Passeios
Se você souber falar arigatô, obrigado em português, já vai fazer a diferença ; afinal, nada melhor do que ser agradável em outra língua. Os japoneses vão gostar e, aos poucos, você vai ficando com o som das palavras na cabeça e sentindo vontade de repeti-las. Quem sabe até se aprofunda no conhecimento dos ideogramas e nos estudos do idioma.
Mas, a língua não será empecilho para visitar exposições ou passear em Tóquio. Se por acaso ficar tenso na hora de entrar no metrô, nos trens ou ônibus, vá de táxi, que não é muito barato. Paciência, pois mais vale um gosto do que dois vinténs, ou melhor, milhares de ienes (moeda nacional). Agora, cuidado: quando pegar o táxi, fique distante do meio-fio, pois a porta vai abrir automaticamente e você poderá ser atingido. No país, prevalece a mão inglesa; então, o motorista segue sentado do lado direito. Uma surpresa foi ver que, sem falar no ambiente impecavelmente limpo, vários bancos traseiros dos táxis são revestidos de um tecido branco, tipo renda.
Por ser uma cidade internacional, com informações urbanas bilíngue, Tóquio tem várias atrações culturais.
As estrelas do país
Em meio a toda essa modernidade, nada melhor que quebrar o cenário com uma visita ao Parque Ueno, que tem jardim zoológico, museus, lagos, passeio de pedalinho, trilhas, restaurantes de comidas típicas e gramado para se sentar e levar horas curtindo o ambiente acolhedor. Uma curiosidade é que, independentemente de você estar no parque ou nas ruas, Tóquio é uma cidade silenciosa: não se ouvem buzinas, gritarias e música alta (uma vez ou outra você passa às portas de uma loja e está rolando um som mais estridente). Para quem está acostumado com o jeito latino de ser, o choque é inevitável. Mas o silêncio consiste em apenas uma das particularidades da terra dos samurais.
Os Pandas-gigantes Espaço de Lazer, valorização da cultura e do mais antigo zoológico do Japão, o Parque Ueno, no bairro de mesmo nome, foi aberto em 1873. Abriga também o Museu Nacional de Arte Ocidental e o Museu Nacional de Ciências. Para ver as estrelas do parque público, os ursos pandas-gigantes, é preciso enfrentar a fila que vai serpenteando as correntes da portaria ao habitat desses belos e raros animais em risco de extinção.
O panda-gigante é conhecido há 100 mil anos nas montanhas do Sudeste da Ásia, onde compartilhava o ambiente com os mamutes. Os ursos estão a salvo e sob os cuidados dos pesquisadores graças a um acordo firmado pelo governo de Tóquio e a Associação de Conservação da Vida Selvagem da China, batizado de Projeto de Criação e Pesquisa do Panda-Gigante. O casal chegou ao zoológico em 2011 e seu comportamento tem sido observado dias após dia. Nas áreas contíguas ao habitat da família panda, é possível também admirar ursos-polares, macacos e aves da Ásia.
De olhos bem abertos
O Japão tem características muito peculiares e conhecê-las é valorizar a cultura de um povo e respeitar seus costumes. Para curtir bem a vida urbana, preste atenção nos detalhes:
1 A cidade tem informações também em inglês. Os mais jovens falam essa língua, mas não exagere na hora das compras. Seja objetivo e use palavras de entendimento imediato. Se perguntar pelo banheiro, diga toillet. De todo jeito, os tradutores eletrônicos facilitam a vida.
2 Na hora de pegar o táxi, fique longe do meio-fio, pois a porta vai abrir automaticamente. Os motoristas não são de muita conversa e, no país, prevalece a mão inglesa.
3 Nos momentos das refeições, os japoneses se valem do ;bentô;, um tipo de marmita para uma pessoa, servida numa bandeja. A refeição tradicional vem com arroz, peixe ou carne e legumes cozidos ou em conserva como acompanhamento.
4 Lembre-se sempre de observar os hábitos dos japoneses de deixar os lugares sempre limpos. Isso ocorre em vários restaurantes e lanchonetes. Recolha e entregue o lixo que produzir.
5 Para amantes da culinária japonesa, Tóquio é um paraíso com todas as suas variações. Há restaurantes com maior movimento e sistema eletrônico: você faz o pedido do lado de fora, apertando botões, faz o pagamento com cartão de crédito e, quando estiver lá dentro, terá a sua refeição prontinha.
6 Não leve reais para a viagem, já que nem todas as casas de câmbio fazem a troca para o iene, e não se arrisque com cheques de viagem. Os japoneses preservam sua autenticidade e só costumam aceitar ienes nas transações comerciais. O melhor é trocar dólares logo no começo da viagem para não passar aperto.
7 Os quartos de hospedagem são pequenos, às vezes muito pequenos, em Tóquio, mas funcionais e as tomadas são de padrão antigo.
8 Respeite o silêncio dentro dos ônibus e trens e carregue o menor número de bolsas possível. Do contrário, se tiver saído das compras, use o táxi. O espaço nos meios públicos de transporte também é restrito.
* Os jornalistas Gustavo Werneck e Marta Vieira viajaram a convite da Nippon Steel