Acompanhando a economia do país, que caminha a passos lentos, o setor de turismo também teve declínio. Em junho deste ano, o setor fechou o mês com saldo negativo em 7.743 vagas. O dado é do estudo Empregabilidade no Turismo, realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), divulgado última terça-feira (31), e mostra um resultado um pouco melhor que o do mês anterior, que teve saldo negativo de 8.754. A junção dos dois meses resultou em 16,5 mil pessoas desempregadas.
No primeiro semestre deste ano, o saldo foi de 11.689 demissões. Um ponto, porém, dá uma certa esperança para o setor: o resultado é menor do que o verificado no mesmo período do ano passado, 13.061 vagas negativas. Para o CNC, a situação ainda é reflexo da crise econômica de 2016.
O economista da Universidade de Brasília (UnB) Carlos Alberto Ramos explica que a baixa procura por viagens tanto nacionais como internacionais também se deve à taxa de câmbio que desestimula o consumidor. ;Quando o real é desvalorizado, consequentemente, temos a baixa procura dos brasileiros, tanto para viagens pra dentro quanto pra fora do país;, aponta.
Ramos avalia que as empresas e agências devem realizar novas propostas para ganhar novos clientes. ;Melhorar a infraestrutura e a segurança também são pontos importantes para o setor evoluir;, ressalta. Uma questão sempre discutida é a crise no país. Por isso, o economista destaca que ;o desemprego e o medo que as pessoas têm de perder dinheiro fazem com que elas viajem menos e poupem, esperando uma melhora;.
Brasil no ranking
Segundo o Ministério do Turismo, o Brasil se mantém na 11; posição econômica no mundo no setor, com um PIB turístico de US$ 163 bilhões e 7 milhões de pessoas empregadas no ramo. No entanto, outros fatores da economia colaboram indiretamente para que o saldo fique no negativo. Um exemplo disso foi a greve dos caminhoneiros, que, segundo pesquisa da CNC, contribuiu para diminuir os gastos com serviços do turismo.
Para o presidente nacional da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH Nacional), Manoel Linhares, é preciso rever a infraestrutura do país. ;As falhas na área de transporte; a falta de segurança, problemas na área de saúde e educação, impede a qualificação profissional do setor, tudo isso entra nessa conta que chamamos de custo Brasil e que levou o turismo nacional a crescer apenas 4% entre 2013 e 2016;.
Alguns estados tiveram superávit no mês de junho, Amazonas (152); Maranhão (53); Mato Grosso (33); Goiás (67); e o Ceará (recordista, com 479 contratações). O crescimento é explicado pelos locais que ofereceram investimento público e privado, condições naturais e boa temperatura climática. Manoel Linhares conta que o Ceará não tem medido esforços para alavancar o turismo local. A capital, Fortaleza, terá a implantação de novos voos. Serão 48 frequências semanais internacionais para 14 destinos e mais 100 voos nacionais até o fim de 2019.
;O estado isentou as empresas aéreas de pagar ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) sobre o querosene de aviação no início das operações, além de zerar os tributos sobre importação de peças de manutenção e de aeronaves, transporte doméstico de cargas e alimentos de provisões de bordo. Medidas fundamentais para a expansão do volume de voos em Fortaleza, uma vez que o combustível de aviação no Brasil é o terceiro mais caro do mundo;, ressalta.
Rio em baixa
O Rio de Janeiro, por outro lado, foi o estado com maior queda em junho: 12.272 pessoas ficaram desempregadas. Carlos Alberto Ramos, salienta que o país enfrenta alguns problemas de segurança, sendo o Rio de Janeiro o principal alvo da baixa procura. ;Em geral, todos os estados sofre com isso, mas temos um problema sério de segurança no Rio. O alto índice de violência, repercutido pela mídia, afasta o turista na hora de decidir o destino da viagem;, destaca.
O presidente do Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade (Cetur) da CNC, Alexandre Sampaio, ressalta que o setor de turismo é um segmento abrangente e diretamente ligado pelas políticas públicas. ;É necessário algumas premissas, entre elas apoiar e adotar políticas de taxação inteligentes, que incluem simplificação tributária e desburocratização para melhorar o ambiente de negócios;.
No estudo, alguns setores do turismo tiveram um movimento atípico no mercado de trabalho, como por exemplo, agentes de viagens (%2b71), cultura e lazer ( 49), locadoras de veículos ( 33), empresas aéreas de transporte de passageiros ( 305) e ferrovias ( 111), foram os segmentos que mais empregaram. Já hospedagem e alimentação impulsionaram o desemprego (-6.269).
* Estagiárias sob a supervisão de Leonardo Meireles