Aos 35 anos foi eleito prefeito de Palmeira dos Índios (Alagoas). Seu mandato de dois anos ficou conhecido pela austeridade com os gastos, a preocupação com o dinheiro público, a construção de escolas e fez melhorias na saúde e no salário dos professores. A renúncia ao cargo se deu pelas pressões políticas contra seu trabalho, além da dificuldade no manejo financeiro pela crise que se agravou à época.
Seus relatórios ironizavam o que acontecia durante seu mandato. Em um deles dizia que havia em Palmeira inúmeros ;prefeitos;: os cobradores de impostos, o comandante do destacamento, os soldados, outros que desejassem administrar. Cada pedaço do município tinha a sua administração particular, com prefeitos coronéis e prefeitos inspetores de quarteirões. Os fiscais, esses, resolviam questões de polícia e advogavam. Dos funcionários que encontrei em Janeiro do ano passado restam poucos: saíram os que faziam política e os que não faziam coisa nenhuma. Os atuais não se metem onde não são necessários, cumprem as suas obrigações e, sobretudo, não se enganam em contas. Devo muito a eles;.
Os escritos do prefeito chamaram a atenção de jornais, especialmente do editor Augusto Frederico Schmidt, do Rio de Janeiro, que, desconfiado de que a pessoa que escrevia aquelas narrativas certamente teria histórias a contar, o impulsionou a publicar o seu primeiro romance, Caetés. É considerado na literatura brasileira o melhor ficcionista do Modernismo e prosador mais importante da segunda fase do movimento.
Prisão
Em 1936, Graciliano foi preso por participar de movimentos de esquerda durante a ditadura de Getúlio Vargas, o que o motivou a escrever Angústia, em que datou o período que viveu. Libertado, o escritor fixou moradia no Rio de Janeiro. Lançou distintos livros de sucesso, como Vidas secas, romance de grande destaque que faz ligação à fase do realismo no Brasil e narra a história de uma família pobre de retirantes nordestinos fugindo das mazelas da seca.
Trabalhou também como Inspetor Federal de Ensino, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e foi eleito presidente da Associação Brasileira de Escritores. Aos 60 anos, Graciliano Ramos morreu em decorrência de um câncer de pulmão. O modernista brasileiro deixou oito filhos, 20 obras publicadas, nove premiações e uma trajetória inteira de pensamentos sobre a vida.
Vá de trem
Para quem se interessa em desbravar novos lugares como antigamente, ainda existe a possibilidade. Há 28 roteiros de trens espalhados pelo país, entre regulares e turísticos, autorizados pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Estrada de Ferro Carajás (PA - MA)
Liga o Norte e Nordeste ; 892 quilômetros. Transporta 300 mil pessoas e é classificada como a mais longa ferrovia do Brasil. O caminho fica entre a maior mina de minério de ferro a céu aberto do mundo, em Carajás, no sudeste do Pará, e o Porto de Ponta da Madeira, em São Luís (MA).
Trem do Corcovado (RJ)
Um dos passeios mais populares. Admirar a Mata Atlântica faz parte do percurso. A locomotiva é centenária e elétrica, o que ajuda a não poluir o meio ambiente.
Estrada de Ferro Vitória a Minas (ES ; MG)
Vitória (ES) e Belo Horizonte (MG) ligam-se por ferrovia desde 1907, transportando um milhão de passageiros por ano entre 664 quilômetros de distância. As paisagens são acervos indispensáveis no caminho. Os passageiros podem viajar com conforto e tranquilidade.
Trem de Rio Negrinho a Rio Natal (SC)
Quarenta quilômetros separam o Rio Negrinho do Rio Natal, no município de São Bento do Sul. Além disso, visitantes poderão ver obras da engenharia, como túneis, viadutos e pontes históricas.
Trem do Vinho (RS)
A Maria Fumaça é atração principal do passeio. Percorre as cidades de Bento Gonçalves, Garibaldi e Carlos Barbosa. Apresentações gaúchas retratam as tradições dos imigrantes italianos. Vinho tinto, suco de uva branco e tinto, além de espumante, são servidos no passeio.
> Para saber mais
A graça do mestre Graça
Em dois trechos de relatórios é possível identificar a qualidade da narrativa e o tom crítico do escrevinhador dos relatórios. Em um deles, Graciliano justificou o pouco investimento feito no cemitério da cidade, ;Pensei em construir um novo cemitério, pois o que temos dentro em pouco será insuficiente, mas os trabalhos a que me aventurei, necessários aos vivos, não me permitiram a execução de uma obra, embora útil, prorrogável. Os mortos esperarão mais algum tempo. São os munícipes que não reclamam.;
Conhecido como homem sisudo, de temperamento irascível, era implacável consigo mesmo, como mostra um dos últimos relatórios de prestação de contas, abaixo reproduzido:
;Procurei sempre os caminhos mais curtos. Nas estradas que se abriram só há curvas onde as rectas foram inteiramente impossiveis. Evitei emmaranhar-me em teias de aranha. Certos indivíduos, não sei porque, imaginam que devem ser consultados; outros se julgam com autoridade bastante para dizer aos contribuintes que não paguem impostos.
Não me entendi com esses.
Ha quem ache tudo ruim, e ria constrangidamente, e escreva cartas anonymas, e adoeça, e se morda por não ver a infallivel maroteirazinha, a abençoada canalhice, preciosa para quem a pratica, mais preciosa ainda para os que della se servem como assumpto invariavel; ha quem não comprehenda que um acto administrativo seja isento da idéa de lucro pessoal; ha até quem pretenda embaraçar-me em coisa tão simples como mandar quebrar as pedras dos caminhos.
Fechei os ouvidos, deixei gritarem, arrecadei 1:325:500 de multas.
Não favoreci ninguem. Devo ter commetido numerosos disparates. Todos os meus erros, porem, foram erros da intelligencia, que é fraca.
Perdi varios amigos, ou individuos que possam ter semelhante nome. Não me fizeram falta.
Ha descontentamento. Se a minha estada na Prefeitura por estes dois annos dependesse de um plebiscito, talvez eu não obtivesse dez votos. Paz e prosperidade (ALAGOAS, 1929).;
* Estagiária sob supervisão de Taís Braga