Turismo

Viajar sozinha: Mulheres do DF contam como é se aventurar sem ninguém

Brasilienses contam como foram suas experiências em viagens totalmente sozinhas

Tarcila Rezende*
postado em 23/02/2018 17:43
Durante muito tempo, mulheres não eram bem vistas ao andar sozinhas na rua, quem dirá viajar para outro lugar sem nenhuma campainha. Agora os tempos são outros, mas ainda existem preconceitos e barreiras que impedem muitas mulheres de se aventurarem sozinhas por aí, ainda mais sem a presença de um homem ao lado. ;Quando você está com um homem do seu lado é muito mais aceitável socialmente, é meio esperado que você esteja com um alguém quando viaja;, é o que diz a escritora e jornalista Gaia Passareli, de 40 anos, autora do livro ;Mas você vai sozinha?;que reúne experiências de viagens por mais de 23 países, além do Brasil.

Ainda que exista esse empecilho de uma campainha masculina, dados do Ministério do Turismo de 2017 divulgaram que pelo menos 18% das mulheres brasileiras preferem viajar sozinhas. O índice é superior à intenção dos homens, que ficou em 12%. Mais que números, estes dados mostram que cada vez mais mulheres estão dispostas a viajar independentemente se terá ou não alguém para acompanhá-las.

A brasilense Juliana Pacheco, de 27 anos, é uma dessas mulheres. Moradora do Jardim Botânico, ela conta que sempre gostou de viajar, mesmo na faculdade, quando o dinheiro estava mais curto, ela dava um jeito. Mas sempre acompanhada. Viajar sozinha para ela era algo que dava medo. ;Eu sempre fui de jantar, ir ao cinema e ao teatro sozinha. Eu nunca precisei que as pessoas fossem comigo para me sentir bem. Mas viajar era um grande passo que eu ainda não tinha tentado;, conta Juliana.

Mesmo sem falar a língua do país, Juliana Pacheco foi para o Uruguai. Na foto, ela está em Punta Del Este

Juliana começou a viajar para São Paulo e Rio de Janeiro, sozinha, mas a trabalho, para participar de conferências e outras atividades. ;Quando eu comecei a trabalhar eu sabia que viajar era uma coisa que eu sabia que eu queria fazer constantemente. No começo eu sempre ficava esperando alguém para ir comigo. E aí eu comecei a perceber que não poderia esperar por ninguém, que eu tinha que ;meter as caras;;, afirma.

Com isso, começou a tomar coragem para ingressar em novas aventuras, mas dessa vez, sem ninguém de acompanhante. O destino mais desafiador para Juliana foi passar um tempo em Buenos Aires, na Argentina; Montevidéu e Punta Del Este, no Uruguai. ;Eu fiquei meses pensando se eu seria capaz, porque eu não falava a língua dos países e não conhecia ninguém;, conta.
Já a servidora pública Mariana Caetano, 23, que mora na Vicente Pires, costuma viajar sozinha para ir a festas e festivais. Sua primeira viagem completamente por ela mesma foi para ir ao Lollapalooza, que acontece todo ano em São Paulo. Ela conta que a idéia surgiu quando viu que nenhum de seus amigos poderia acompanhá-la e foi sozinha assim mesmo. ;Antes de viajar eu tava com muito medo, muito mesmo. De ser enganada, de abusos e etc. Mas depois eu vi que é bem tranqüilo, é apenas questão de ficar sempre atenta. Para mim, viajar sozinha tem bem mais pontos positivos que negativos;, afirma Mariana.
Quando percebeu que nenhum de seus amigos poderia acompanhá-la, Mariana Caetano foi ao festival Lollapalooza, em São Paulo, sozinha


Ficar sozinha pode ser libertador

Mariana Caetano e Juliana Pacheco unanimemente confirmam que os momentos mais marcantes das viagens foi o fato de gostarem mais da suas próprias companhias e a superarem seus medos. Para Mariana, o ponto chave das viagens foi ;poder observar e processar tudo que viveu de uma forma mais íntima; e com isso, ela passou a gostar mais de ficar só.

E mesmo com a solitude constante, a escritora Gaia Passareli afirma que é normal sentir-se sozinha e com saudades dos familiares e amigos. ;Somos humanos sentimos falta de alguém por perto, mas isso não impede de aproveitar a viagem só porque você está sozinha;, afirma a escritora.

Mesmo com medo de não conseguir dar conta de se virar no exterior, Juliana Pacheco teve bons ensinamentos de suas viagens. Ela afirma que aprendeu mais sobre si mesma e a se virar. ;Antes de viajar sozinha eu tinha medo de lidar comigo mesma, com meus próprios pensamentos. Mas aí eu vi que eu conseguia. A gente é capaz de fazer muito mais do que acha e a sensação de liberdade é maravilhosa;, afirma Juliana.

A consultora em Marketing Digital e autora do blog ;Viajante Solo;, Denise Tonin, reúne em sua bagagem mais de 15 anos viajando sozinha pelo mundo. Seu blog, o primeiro do Brasil a falar sobre viagens solo, é voltado, principalmente, para mulheres que viajam sozinhas e para mulheres que querem essa experiência. E ela afirma que várias mulheres a procuram por ajuda para enfrentar o medo de ficar sozinha ou que algo possa acontecer.

;A gente precisa começar a parar de sentir tanto medo. É preciso fazer uma auto-analise, e se perguntar: ;Do que você tem medo?;. Procurar em si qual é o verdadeiro medo que existe e tentar lutar contra isso;, aconselha Denise.


Mas tem que ter cuidado


Juliana Pacheco afirma que os assédios que as mulheres estão sujeitas é quase sempre iguais quando se está na própria cidade. ;A gente passa dificuldades simplesmente por ser mulher. Acontece na cidade que moramos, então acontece em outros lugares também;, compara.

E mesmo com as incríveis experiências que se tem quando a viagem é solo, é sempre importante lembrar que o mundo ainda é lugar muito perigoso e as mulheres correm mais riscos de sofrerem assédios e abusos no decorrer da viagem. Então fique atenta às dicas:

- Mantenha sempre contato com alguém da família e avise quando estiver indo para algum outro lugar. Em relação aos festivais e lugares turísticos, ;a dica é ficar sempre atenta, não andar com bolsas, preferir doleiras ou cartucheiras, e sempre quando for pedir informações, evite falar que está sozinha;, sugere Mariana Caetano.

- Atenção é tudo, não dê bobeira para não aproveitarem de você. ;Esteja ciente dos riscos que você se dispõe a correr. Estamos correndo riscos sempre só por sermos mulheres, e em viagens ficamos mais vulneráveis ainda. É preciso estar esperta ao seu entorno;, afirma Gaia Passareli.

- Gaia ainda afirma que, antes de tudo, conheça a cultura do lugar que você vai. ;Muitas vezes a nossa insegurança é porque a gente não consegue visualizar o local, por isso tem que pesquisar, já ter o lugar onde ficar. Se organize que vai te fazer ficar mais segura; aconselha a escritora.

- Faça aliadas nessa jornada, outras mulheres estão dispostas a ajudar. ;Entre em contato com mulheres do local que você vai. As mulheres são muito receptivas para receber a gente que está viajando sozinha;, conta Gaia.

- De olho na grana! É importante que você se planeje para não passar aperto financeiro durante a viagem. ;Aprenda a lidar com dinheiro, se organize direito, seja responsável pela liberdade financeira. Isso é essencial para sua emancipação;.

- Procure por programas mais baratos e encontre o equilíbrio. ;A gente não precisa comer em restaurantes sempre. Não precisa fazer todos os passeios com agências, faça alguns sozinha, tem muitos museus gratuitos, é só se programar. Também opte por ficar em hostels onde você pode alugar só uma cama;, afirma Denise.

- Aprenda a viajar leve. Isso foi uma das lições importantes para a Gaia Passareli. ;A gente não precisa do tanto de tranqueira que levamos. Uma mala muito grande no meio do metrô, por exemplo, pode ser um indicativo de pessoa que está viajando pela primeira vez e está perdido, e é mais propício para que outras pessoas ofereçam ajuda para levar sua mala e acabar se aproveitando da situação;.

- Escute seu instinto durante a viagem. ;Se tem uma voz dentro de você dizendo para não ir a algum lugar, não vá. Às vezes só você vai saber o que é isso e é melhor escutar quando sua mente não está muito confiante;, afirma Denise.

- Gaia fala de alguns fatos básicos que também devem ser lembrados, como, não aceitar bebida de estranhos. ;Aquele cara desconhecido que oferece para levar sua mala no meio do nada? É melhor não aceitar, assim como se te oferecerem carona no meio da noite, não arrisque;, conclui.

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