Emoção à flor da pele
Felipe Manfroi fez a primeira grande viagem sozinho em 2013. Foi para a Europa no famoso mochilão. ;Abriu a minha mente e me fez ter uma vontade gigante de viajar. Coloquei como meta que faria, no mínimo, uma grande viagem por ano. Em 2014, com um primo, decidimos conhecer a Patagônia Argentina e Chilena. Queríamos fazer 11 mil quilômetros em 15 dias. Desde então, rodei mais de 30 mil quilômetros e acredito que nunca mais pararei.;
O jovem gosta de fazer o planejamento e de pesquisar sobre cada local, o que é uma vantagem, já que é a fase mais trabalhosa da viagem. ;Isso cria uma expectativa gostosa e é algo fundamental. Mas não se pode pirar, afinal, o legal de uma viagem de carro é justamente os imprevistos e surpresas do caminho;, explica. Pegar a estrada exige medidas práticas como documentação válida e acessórios para o bom funcionamento do veículo, além da revisão mecânica.
Já experiente, ele ressalta que definir as paradas ajuda no fluxo da viagem, por isso é importante organizar um roteiro mínimo. ;Isso facilita a escolha das melhores estradas, estimativa de custos e de tempo de estrada, mas o resto vai acontecendo no decorrer do percurso. É incrível descobrir um local novo por acaso e poder ficar mais do que o planejado. Uma das cidades mais incríveis que fui é San Pedro, no Deserto do Atacama no Chile. Os próximos destinos serão Peru e Chile;, adiantou.
Uma das vantagens de viajar de carro na América Latina, segundo Monfroi, é a proximidade entre as cidades. ;No Brasil é necessário fazer muitos quilômetros em estradas pouco bonitas. Já nossos vizinhos Argentina e Chile possuem verdadeiras pinturas em suas rodovias. Muitas vezes é preciso foco, porque dá vontade de parar o carro e sair tirando muitas fotografias.;
Porém, a aventura pode ter complicações. Um dos maiores problemas enfrentados por ele foi no Chile, durante a madrugada, quando seguia para o Parque Nacional Torres del Paine. ;Uma grande nevasca caiu sobre a estrada, as correntes dos pneus romperam e o carro ficou no meio de dois morros. Não conseguimos avançar nem voltar. Por sorte, encontramos uma parada de ônibus feita de madeira, cobrimos a entrada com uma lona e dormimos algumas horas até que as máquinas passassem e liberassem a estrada. Nessa noite, as temperaturas registradas na região chegaram a -10;C ;, lembrou.
Os viajantes alertam que, em vários países da América do Sul, existem longas extensões de estradas sem postos de combustível. ;A verdade é que há imprevistos, mas isso deixa a viagem mais legal e com mais histórias para contar;, pondera.
Aventura econômica sem data para retornar
;Sabíamos que os países vizinhos tinham muito a oferecer em termos de belas paisagens, e uma forma fácil e econômica de conhecer muitos lugares seria ir de carro.;Esse foi o princípio da aventura de Maria Cecília Manochio e Pedro Henrique Krug. Eles planejaram uma viagem sem data para voltar e acreditam que isso ;potencializou;a experiência na estrada. ;Além de vivermos os lugares com calma, conseguimos criar nosso próprio ritmo de viagem.;
O planejamento foi extremamente complexo e detalhado. ;Acreditamos que sem ele a viagem seria muito difícil devido ao número de países e cidades que passaríamos;, afirmou Krug. Como o tempo não era problema, era preciso saber quanto dinheiro seria necessário para cada lugar, o que definiria até aonde chegar.
Maria Cecília afirma que entre as tarefas de organizar a viagem, o mais fácil foi calcular a gasolina a partir das distâncias de cada cidade, a hospedagem, a alimentação, os passeios e os pedágios. ;Incluímos no planejamento algumas cotações de câmbios (dos quatro países) e os seguros do carro e dos equipamentos fotográficos. Preferimos tentar prever tudo para não sermos surpreendidos, nem com preços de cada cidade nem por deixar passar pontos turísticos despercebidos por falta de pesquisa.;
Os aventureiros destacaram que algumas decisões foram tomadas ao longo do caminho. ;Nem por isso ficamos engessados, porém, o planejamento foi mais do que essencial para a economia de tempo. No caso de hospedagens, por exemplo, tínhamos opções com endereços e preços cotados para cada cidade. Além de tornar a viagem mais tranquila, ter opções de passeios e rotas definidas nos deu mais liberdade na hora de adicionar novos lugares ao roteiro predefinido.
Pedro Henrique e Cecília passaram por mais de 52 cidades entre Brasil, Uruguai, Argentina e Chile. ;Iniciamos a viagem em Balneário Camboriú, passamos por Cabo Polonio, Punta del Este, Buenos Aires, Mar del Plata, Ushuaia, Torres del Paine, El Calafate, Bariloche, Viña del Mar, Valparaíso e finalizamos o percurso no Deserto do Atacama. Descobrimos como conhecemos pouco a cultura e os países que estão pertinho de nós e, ao mesmo tempo, como é possível aproveitar e viver com pouco;, resumiu.
Os viajantes fazem um alerta sobre o combustível: ;em algumas regiões do Chile, além de ter poucos postos de gasolina pelo caminho, compramos um galão de 10 litros e, a cada oportunidade, reabastecíamos o tanque e o galão reserva;, ensina. Para transitar entre os países, são necessárias diversas autorizações e carimbos. O documento principal é a carta verde.
Maria cecília recomenda a viagem: ;Foi uma das experiências mais marcantes de nossas vidas! Além de conhecer lugares incríveis, aprendemos muito todos os dias. Reaprendemos a viver de maneira mais calma, tendo contato com a natureza, utilizando apenas o essencial, praticando o desapego. Faríamos tudo novamente e, inclusive, já estamos pensando qual será nosso próximo roteiro. Se você tem vontade, a nossa dica é: planeje, largue tudo e vá! Mesmo que com medo, mesmo que por pouco tempo, mas vá! Permita-se aprender, conhecer e mudar;. (LR)
;Fiz minha primeira viagem para Machu Picchu, em 1997, de moto, com dois amigos que tinham mais experiência. A partir daí, eu peguei gosto pelas viagens internacionais;, lembra Cícero Ribeiro. Em 2007,de van, foi para Terra do Fogo. ;Poucos têm coragem de ir de moto ou com seu próprio carro;, afirma.
Depois da viagem de moto, fez outra viagem com um amigo.;Fomos fazendo camping, porque na Argentina e no Chile, os hermanos gostam muito de acampar, no Peru e na Bolívia, nem tanto. Não planejamos as paradas, a nossa ideia era rodar em torno de 500km por dia e aonde chegávamos, dormíamos. É claro que muita coisa mudou, mas foi sensacional.;
Os amigos tinham em mente visitar os pontos turísticos clássicos. Do Paraná, foram direto para a Argentina, onde há uma parte com cidades de muita planície, como Foz do Iguaçu, Posadas, Corrientes, do norte da Argentina até Salta. ;A região tem muita planície e pouco o que ver, esclarece Ribeiro. Quando se inicia a Cordilheira, em São Salvador de Ruy, a paisagem muda. ;Nossa viagem era bem livre, não tinha nada muito organizado, a gente foi desfrutando um dia após o outro. Claro que tinha os pontos principais, como o Deserto do Atacama, São Pedro do Atacama, gêiser, Vale da Lua, depois o Pacífico e finalmente a Bolívia. Tínhamos um roteiro bem básico, mas nada impedia de ficar um dia a mais em um lugar ou menos em outro;, relembra.
Eles atravessaram a Cordilheira dos Andes no norte do país, chegaram ao Chile e depois foram para a Bolívia, na divisa do Chile com o Peru. ;Seguimos pela direita, subindo a Cordilheira e conhecendo as principais cidades como La Paz, que tem muito para se ver. Depois fomos para divisa da Bolívia com o Peru, entrando pelo Lago Titicaca, visitamos o parque arqueológico de Tiahuanaco e seguimos rumo a Cusco, para depois visitar Machu Picchu, no Peru. De lá, saímos do Peru pelo litoral de Cusco até Nasca e voltamos para o Chile por Arica. De Arica fizemos o mesmo caminho até a volta;.
Cícero Ribeiro afirma que a viagem de carro é completa, permite vivenciar várias experiências. ;Vivemos a temperatura, principalmente a altitude, na Cordilheira, onde cada organismo reage de uma forma;, explicou. ;Por terra é muito completo, você tem mais contato com as pessoas, vai vivendo a cultura em cada ponto e cada situação que se passa. É sensacional. Eu indico sempre, vá por terra, que você não vai se arrepender;.